A rodar XLVIII

Oriundo do planeta onde vivem terráqueos, pernoitei duas horas no  Planeta Jazz.  Lá, a música é oxigénio respirável.

"A música para mim, é uma das formas de dizer quão grande e belo é o universo que nos foi dado, no qual vivemos."

Em Nova Iorque, a 27 de Abril e na inauguração do mês de Junho do ano 64 da última centena do século antecedente, John Coltrane, juntamente com McCoy Tyner (piano), Jimmy Garison (contrabaixo) e Elvin Jones (bateria), gravaram uma mão cheia de temas de sua autoria, resultando no álbum «Crescent». «Lonnie´s Lament», peça de abertura do lado B, é uma balada expressiva, aliviando a tarde pardacenta.

O saxofonista é o autor da frase preenchedora do primeiro parágrafo.

(Ariola-Eurodisc, H-204324)

Apesar de não apreciar todos os álbuns de John Mayer, a meu ver, desde 2006, considero que este guitarrista tem tudo para ser o sucessor do mister Clapton. Editado em 2013, «Paradise Valley», convida a escuta serena na frescura da noute no Ilhéu Chão.

(Columbia, 88883 75648 2)

Existem discos cuja pretensão de posse é imensa. Quando esse desejo é desmedido, o risco de despender avultadas quantias torna-se real. Ora, por ter apreendido dos meus pais que "esperar é uma virtude", resisti á aquisição de um LP por valores, que, embora pudesse dispensar, recusei, aguardando por um exemplar vendável por preço simpático. Na semana finda, por vinte "euricos", adquiri Rão Kyao - «Recorded live in Cascais». Trata-se da actuação do saxofonista no Pavilhão dos Desportos cascalense, ocorrida ao oitavo dia de Novembro de 1980, no X Festival Internacional Cascais Jazz.

(Da Nova, 6018)

Quando se deparou com surdez, foi afectado por depressão; após ultrapassar esse episódio de tonalidade escura, Ludwig van Beethoven escreveu a sua Sinfonia n.º 5. Refectora de amadurecimento enquanto compositor, a Quinta ganhou estatuto da música mais exaltada na Europa, posicionando-se no cume da arte clássica do século XVIII. Prestei ouvidos à recriação do berlinês Carlos Kleiber.

(Deutsche Grammophon, 447 400-2)

Recentemente, aquando a queda de um meteorito, os terráqueos foram surpreendidos com uma musculada claridade no céu nocturno em Espanha e Portugal. Ora, o fenómeno não provocou espanto no fantasma, que com regularidade se movimenta no espaço, na coordenada 102.6 para a clareza ambiente do  Planeta Jazz.

Soalheira é a residência no Ilhéu Chão. No Inverno é fácil conviver com a exposição ao Sol. Contudo, na quadra em que está mais calor e os dias se apresentam mais musculados opondo-se à noite, este bem transforma-se em incómodo, impossibilitando prolongar o tempo de estar entregue ao sono no fim-de-semana. Para sair desta situação, promovi a pintura das paredes dos quartos na cor oposta e mais distante do branco, mantendo os tectos desses espaços, sala, corredor, cozinha e lavabos no acabamento níveo. A tinta preta utilizada foi aproveitada da natureza, proveniente da tinta de choco acumulada ao longo de 365 dias. Tratada mediante processo químico para extrair odores, concedendo acabamento sedoso e brilhante, transmitido por um marinheiro da ilha Ascensão, assim, reduziu-se a luminosidade ao amanhecer patente nos quartos.

Concluído o trabalho de pintura, limpeza e arrumação iniciado a 29 de Maio, retornei a audição de registos discográficos, frisando o momento com o LP «Back in Black», dos AC/DC.

(Epic, E-80207)

A temperatura amena vai convidando o anoitecer a dizer "presente". Enquanto isso, no Auditório Fantasma, a quentura da bossa nova na excelente edição em LP da Cool Cult Records, do álbum homónimo de João Gilberto. A voz surge à direita, enquanto que a guitarra ocupa o centro do palco e a percussão preenche a profundidade; na última faixa, «Izaura», Miúcha, esposa de João, preenche o canal esquerdo.

(CCR 332)

Segunda jornada do Festival Robalo. No Auditório do Liceu Camões, Panoply, projecto estado-unidense dos veteranos John O’Gallagher (saxofone), Michael Formanek (contrabaixo) e Jeff Williams (bateria), animam o entardecer da audiência da Antena 2.