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| Diario de um confinado ... | |
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+8Fernando Salvado Alexandre Vieira ricardo onga-ku Luciana Silva Ghost4u mannitheear José Miguel TD124 12 participantes | |
Autor | Mensagem |
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Alexandre Vieira Membro AAP
Mensagens : 8560 Data de inscrição : 11/01/2013
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Qui Abr 09 2020, 12:31 | |
| - Mário Franco escreveu:
- Após diversas tentativas mediocramente recompensadas, mantive-me firme e perseverei.
Hoje pela primeira vez fiz um pão formidável.
Ena se ficou com esse aspecto já marchava com manteiga. | |
| | | TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Qui Abr 09 2020, 13:41 | |
| - José Miguel escreveu:
- ... Durante uns dez minutos experimentamos um "novo" som, confuso, todo amontoado, ... Parecia que estávamos numa garagem com o som de um PA manhoso apontado a nós.
... Ontem abrimos uma garrafa de vinho, ajudou! ... estou voltado para a nova "cena" Jazz... Parece haver uma nova ligação do género à espiritualidade, como se fosse a forma de expressão do que a "Rua" transpira... Fases! Aproveitar desta situação para afinar ( ou fazer tentativas ) o sistema pareçe-me ser uma boa coisa. Em tempo normal até pareçe tempo desperdiçado pois aproveitamos do pouco tempo livre para descompressar e ouvir musica ... mas quando o tempo é com fartura, até ajuda a passà-lo mais depressa e pode permitir de encontrar uma ou outra solução diferente que dê um melhor resultado. Creio ser também, o bom momento para apertar os parafusos dos altifalantes, limpar os contactos com alcool, alinhar as colunas, verificar as afinagens do gira, limpar o pò dos altifalantes com um pincel e dos outros elementos tanbém, aspirar a poeira do interior dos amplificadores e outros aparelhos electronicos, lavar com àgua e sabão os tapetes do gira e outras coisas assim. Pareçe-me ser uma boa ideia de "lavar e pentear" o sistema... Tenho guardado os bons vinhos na adega para o fim de isto tudo e os encontros futuros com os amigos, quotidianamente bebo branco ou rosé modestos mas agradàveis, e no fim de semana abrimos uma garrafita simpàtica para nos fazer prazer. Tém sido a cerveja a minha companheira de eleição e ainda por cima aqui tém feito muito calor ... durante o dia é calcões e manga curta O que escuto, ou tenho escutado, da nova "cena jazz" não me pareçe estar virado para os lados da espiritualidade, mas é deveras intelectual e muito "artistica". Existe uma vontade de trabalhar no nivel musical alguns conceptos oriundos da arte pictórica e da musica contemporânea. A electronica jà o fazia desde os finais do passado século, assim que o jazz escandinavo, mas actualmente pareçe-me ser uma tendência global e ainda mais puxada. Michael Wollny, Danilo Rea, Edward Perraud, Portico Quartet e Nik Bärtsch's Ronin são bons exemplos do que digo... Mas, globalmente e fora o jazz escandinavo ... ando relativamente afastado do jazz moderno. Hà muita coisa que não conheço... | |
| | | José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Qui Abr 09 2020, 14:07 | |
| Não quero desviar o tópico, mas no Não Roda mas Toca eu ainda ontem coloquei um álbum que representa o que digo... O mesmo digo do que se passa do outro lado e que The Epic do Kamasi representa bem. De Londres chegam amostras desta "nova" linguagem e não creio que se confunda com os Nórdicos... São movimentos bem diferenres. Não vou usar a "carta" da cor de pele, felizmente os jovens misturam-se bem, mas nota-se que a nova geração já não quer apenas a tradicional linguagem Jazz, quer juntar a Electrónica com beats actuais, quer o Hip-hop e o Rap, quer os Blues ... Eles respeitam as raízes e basta ouvir as linhas de Baixo do Thundercat, mesmo o seu álbum (Drunk, por exemplo), para se perceber como há muito respeito. Claro que se notam as referências aos grandes Músicos de Jazz Espiritual, do casal Coltrane aos que os acompanharam nessa jornada, mas nos 60's não era possível fazer o que se faz hoje, as Ruas ainda não tinham as restantes linguagens desenvolvidas. Para mim há muita espiritualidade e não se afasta a razão e bom uso desta, porque Nós somos isso tudo e quem quer afastar uma das faces apenas se está a enganar... Não confundir espiritualidade com religião. Eles querem expressar o que se passa com eles, com os seus vizinhos e amigos. Eles querem dizer o que pensam e criar a banda sonora dos nosso dias, das suas vidas. Já comparei alguns álbuns ao London Calling, porque os Clash fizeram o mesmo - naturalmente eles usaram o Dub, afinal eles eram vizinhos de quem usava essa linguagem e foram contaminados por ela. Tudo soa natural, porque era mesmo natural a mescla. Para já ando nessa fase, mas no início da quarentena ouvi bastante Post-rock e fartei-me... Cheguei a pensar que não havia originalidade nenhuma no género e no que se faz agora, achei melhor fazer pausa. | |
| | | mannitheear Membro AAP
Mensagens : 1392 Data de inscrição : 01/08/2013
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Qui Abr 09 2020, 17:44 | |
| - José Miguel escreveu:
- The Epic do Kamasi
I tried yet several times to listen to that album but I found it very conventional. Easy listening meets 70s jazzrock fusion. I didn't get it at all. | |
| | | José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Qui Abr 09 2020, 18:06 | |
| - mannitheear escreveu:
- José Miguel escreveu:
- The Epic do Kamasi
I tried yet several times to listen to that album but I found it very conventional. Easy listening meets 70s jazzrock fusion. I didn't get it at all.
Hi Manfred! For me The Epic fulfil all the boxes i mentioned... It's a new approach. It represents Spiritual Jazz, but the Coltranes did not have the Hip-hop language - for exemple. The new generation represents the Classics meet the streets they grow up. | |
| | | TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Qui Abr 09 2020, 18:44 | |
| Hi man, i'm confined bit still working, i'm going to switch from vinyl to digital! A before taste ... | |
| | | Mário Franco Membro AAP
Mensagens : 2494 Data de inscrição : 27/03/2013 Idade : 66
| | | | TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sex Abr 10 2020, 09:48 | |
| Ontém era noite de lua cheia e dormi mal, é raro mas aconteçe. Em contrapartida pensei muito com esperança que a fatiga me traga o sono, foi instructivo. Disse-me que talvez tenha estado errado na minha visão do futuro, que fui pessimista e que na realidade um novo paradigma està a nascer. Os 27 chegaram a um acordo economico ontém, e a um bom acordo pois estão todos contentes, a europa ainda vai durar um pouco. Mas é uma reflexão mais vasta que me dà motivos de optimismo e que mostra a singularidade do instante. Até hoje a europa tinha como linha vermelha o respeito do pacto de estabilidade assim que a ideia de poupança do dinheiro publico, a frugalidade assim que o pragmatismo eram o padrão economico. Esta visão do mundo nordica e protestante foi imposta como regra a todos e a crise de 2008 tinha provado o seu poder, era assim ou era a ruina. Ora, no momento em que escrevo tudo isso é do passado, e um novo paradigma socio-economico desenha-se sém que ninguém se dê conta. Pela primeira vez, a maioria dos paises ditos desenvolvidos abdicam das regras economicas para salvar os mais fracos, os velhotes. Portanto, o desaparecimento dos reformados, pois não são productivos, é algo que não teria economicamente um impacto negativo. Bem ao contràrio, pois daria folego à economia, mais casas vazias o que regula a construção e criaria beneficio nas caixas de pensões e na segurança social. Uma visão pragmàtica e puramente economica, levaria a deixar o virus fazer o seu trabalho sém ameaçar a economia, portanto a escolha foi outra e quase unanimamente. Hoje estamos a ver os paises "cigarra" do norte gastar sém contar para salvar a economia, tal como os paises do sul ... e isto para salvar os mais fracos. Mesmo os americanos, à maneira deles é certo, estão nesta logica economicamente absurda. Uma excepção que prova a mudança é a atitude da suécia, pais habitualmente social e benevolente e que decidiu de não fazer nada afim de salvar a sua economia ... ao ponto de ser hoje criticado por todos os outros e que a ministra da saude tenha que se explicar publicamente. O meu filho tém dificuldades a copiar a Mona Lisa, mas com esforço e perseverança tém estado a se amelhorar, isso deixa-me alegre e dà-me confiança... | |
| | | TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sex Abr 10 2020, 11:08 | |
| - José Miguel escreveu:
- ... Claro que se notam as referências aos grandes Músicos de Jazz Espiritual, do casal Coltrane aos que os acompanharam nessa jornada, mas nos 60's não era possível fazer o que se faz hoje, as Ruas ainda não tinham as restantes linguagens desenvolvidas.
Para mim há muita espiritualidade e não se afasta a razão e bom uso desta, porque Nós somos isso tudo e quem quer afastar uma das faces apenas se está a enganar... Não confundir espiritualidade com religião.
Já comparei alguns álbuns ao London Calling, porque os Clash fizeram o mesmo - naturalmente eles usaram o Dub, afinal eles eram vizinhos de quem usava essa linguagem e foram contaminados por ela. Tudo soa natural, porque era mesmo natural a mescla. ... Não sou tão formal quanto o Manfred no que diz respeito ao album Epic, mas é verdade que a fusão entre o rap, hip hop e electronica não data de hoje, o album do Eric Truffaz Bending New Corners jà tém vinte anos para falar apenas de um que conheço ... nesse aspecto o Epic não tràs nada de novo, fora a atitude espiritual da capa!... Não sei muito bem o que tu entendes por espiritualidade, tens talvez uma visão pessoal o que é normal ... mas no caso do casal Coltrane a espiritualidade é verdadeiramente religiosa. Ele foi sempre um " crente em evolução quanto a Deus" persuadido que Deus o tinha salvado das suas adições ... ela era adepta do hinduismo e acabou por se convertir tomando o nome de Swami Turiya Sagittinanda. Sò tenho um album dela que é o Translinear Light e cheira a templo hinduista desde o começo até ao fim... Os Clash reciclam todos os estilos da época, mas seria dificil falar de espiritualidade na musica deles ... fica em suspenso o que é a espiritualidade, talvez o significado seja intimo e pessoal | |
| | | José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sex Abr 10 2020, 12:24 | |
| Bom dia!
É um erro comum confundir Espiritualidade com religiosidade, aquela todo o Homem tem, esta nem por isso. A Espiritualidade não se confina ao culto de uma religião, ela tem na sua base crenças que vão para além do indivíduo e podem ancorar-se na Moral, Ciência, Prática da Ecologia, … é só escolher as crenças mais profundas pelas quais se regem vidas e logo se vai encontrar Espiritualidade. Nisto não há nada de visão pessoal, basta consultar a história do pensamento, de Oriente a Ocidente, do Hemisfério Norte ao Sul, está lá.
Há espiritualidade em The Epic? Há sim! Se bem entendido o conceito, é fácil perceber que todo o álbum espelha crenças que estão para lá do indivíduo Kamasi Washington, são as suas crenças, as que regem a sua acção e que ele partilha com o ouvinte por considerar ser a via certa.
Isto é diferente do A Love Supreme? Na fundação não, no acto de partilha de uma crença Espiritual são semelhantes.
Eu não gosto de biografias, sempre evitei ler esse tipo de texto antes de conhecer a obra produzida pelo autor e definitivamente eu não preciso de conhecer a biografia do Coltrane para afirmar que ele tem uma fase de produção musical muito Espiritual. Nem me interessa saber que religião ou religiões ele procurou, isso é completamente acessório na Música dele, porque o que ele procura e afirma é que há Algo que está para lá dele, de nós, e que deve servir de fio condutor para uma melhor prática de vida.
Kamasi Washington tem o mesmo tipo de mensagem nos seus trabalhos, obviamente que a forma e conteúdo são distintos, mau era se fossem iguais.
Percebo que o álbum não agrade a muitos, eu próprio afirmei que não cheguei ao álbum quando ele saiu em 2015, nem o compramos nesse ano por isso. Hoje vejo-o de forma diferente, compreendo que é uma criação que está para lá da linguagem Jazz mais tradicional e isso nota-se quando se observa a banda toda, os nomes, os trabalhos individuais…
Não disse nunca que este álbum é uma coisa única, pelo contrário, disse que ele se alimentava dos Clássicos e da Rua! Erik Truffaz, que não conhecia, também se alimenta e muito de quem tocou antes dele, escute-se a fase de Miles Davis que enquadra Tutu, por exemplo… A Música anda toda ligada, em alguns casos mais do que em outros, por vezes vemos saltos acontecer – a nova “cena” Jazz que vai de Chicago a Nova Iorque, até Londres, parece-me estar a criar um pequeno salto, ela está a dizer agora o que quer, expressa-se com todas as "armas" que tem disponíveis, com todas as aprendizagens e experiências. Não admira ver um saxofonista ao lado de um DJ, um e outro frequentam os mesmos espaços da cidade.
Paulo, eu não comparei o London Calling pela carga Espiritual, eu comparei pela natureza orgânica com que vários géneros musicais são incorporados. Essa naturalidade deve-se à abertura com que os então jovens conviviam com várias Culturas, aceitavam e experimentavam-nas. No final dos anos 70 ou hoje ainda há muitos “puristas” e há até quem queira criar a toda a hora novas etiquetas/gavetas para colocar álbuns… Eu por vezes esqueço-me que a “híper-especialização” ainda faz escola…
Já agora, o London Calling e os The Clash tinham carga Espiritual? Que a luta deles passa pela Moral não há dúvidas… o álbum só precisa de ser enquadrado no tempo e espaço, já agora, ser transportado (devidamente) para os dias de hoje – creio que faz todo o sentido nos dias que correm e que se vão anunciando.
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| | | TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sex Abr 10 2020, 14:33 | |
| - José Miguel escreveu:
- ... É um erro comum confundir Espiritualidade com religiosidade, aquela todo o Homem tem, esta nem por isso. A Espiritualidade não se confina ao culto de uma religião, ela tem na sua base crenças que vão para além do indivíduo e podem ancorar-se na Moral, Ciência, Prática da Ecologia, … é só escolher as crenças mais profundas pelas quais se regem vidas e logo se vai encontrar Espiritualidade. ...
José, eu não disse que o album Epic não possui espritualidade, falei da "atitude espiritual na capa". Basta olhar para o Kamasi Washington rapidamente para ver que ele veste uma camisa no estilo da asia central, que tém um amuleto indiano no pescoço e bolinhas do mali como pulseira ... sém falar do fundo que faz " Stellar Regions" ou " Interstellar Space" e a postura que subentende dar o saxofone em oferenda. As escolhas estéticas da capa são as de um Hippie moderno. Com tantos codigos espirituais ou religiosos (shamanismo) na capa, imagino que a musica vai enveredar por esse caminho, é isso que a capa promete e foi o que eu quiz dizer... Num album que se alimenta " dos Clàssicos e da Rua" ... poderia haver também um getto blaster ou um SL1200. Hà muito de classico e pouco de rua na capa | |
| | | José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
| | | | mannitheear Membro AAP
Mensagens : 1392 Data de inscrição : 01/08/2013
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sex Abr 10 2020, 16:24 | |
| For me, music is spiritual if it connects me to the eternal, the divine or "the love" itself, whatever you want to name it! This is a personal thing and for me examples of spiritual music are Bach, Bruckner, many of Wagner, Haydn Quartets, Dhafer Youssef, Arvo Pärt, Sun Ra Arcestra, Archie Shepp, some Bill Evans, Anouar Brahem, Pat Metheny in his strongest moments, Dollar Brand, Eric Truffaz and many others. The Epic does not work in a spiritual way for me, for me it's sirupy romantic, busy - and empty. But that's only me. Perhaps this is because I don't have any receptors for "Soul" music which has (again: for me!) nothing to do with soul, only with emotion and not real feelings... | |
| | | José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sáb Abr 11 2020, 09:09 | |
| Hello Manfred!
We are talking about Music and that is more important to me than talking about equipment or the like, so thank you.
I understand and respect what you say, I said above that the Spiritual question is personal and should not be confused, even for an instant, with the religious question - some albums touch some and don't touch others.
There are some opinions that I don't share, like calling Soul Music "only with emotion and not real feelings". Of course there is Soul for all tastes, there is Jazz, Rock, Hip-hop, Blues, Classical, ... in all genres there is good and less good, the one that touches us and the one that does not touch us. Motown, or "pop-Soul" sound is not the only example of Soul! Listen to Sam Cook A Change Is Gonna Come, Aretha Franklin’s version of the song Respect that Otis Redding wrote – in a black woman voice all the lyrics have a different impact! – or even Charles Bradley - The World (Is Going Up In Flames). I share Sam Cooke: https://www.youtube.com/watch?v=wEBlaMOmKV4
Maybe touch you or maybe not, but A Change Is Gonna Come it is not a song of simple emotion, it is a hymn against racism, full of pertinence and even today it must be listened to carefully ... the World has a lot to learn from this type of Music ...
With Classica I also feel a connection to the Spiritual side and when I take my nephew (10 years) to see and hear Hector Berlioz's Symphonie Fantastique or Tchaikovsky's Pathétique Symphony, I try to make him realize that Human is more than a heap of meat that creeps through the world.
Music is Art and can give us a lot, whatever the genre.
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| | | TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Seg Abr 13 2020, 12:42 | |
| Lentamente começo a me habituar ao ritmo lento que ponctua o passar do tempo, sinto-me melhor. Vou fazer um passeio de uma hora todos os dias e esta actividade brisa o confinamento estàtico e o torpor sedentàrio no qual estava mergulhado. Voltei a encontrar um equilibrio nos cigarros e fumo de novo pouco, compenso com o vapor de nicotina em dose moderada. Ontém li um belo artigo apontando a ideia que os amadores de vinilos são fetichistas, sempre pensei que o audio era uma disciplina idolátrica, é globalmente como gostar de um clube de futebol. Ninguém gosta de um clube porque ele joga bem, gostamos porque é assim e tal continua mesmo, ou talvez sobretudo, quando jogam mal. Gostaria de fazer um Dac com a forma de um gira discos e que acende quando se põe o prato a rodar. Um sistema com captores permitiria de começar a leitura do ficheiro quando o braço desce e de mudar de faixa quando se avança a célula. Evidentemente que seria necessario virar o disco para continuar a leitura do ficheiro e seria mesmo possivel de adicionar uns riscos, estalos, estàtica, ruido de superficie e mesmo mais distorção na ultima pista. Tenho a certeza que seria um sucesso e que se tornaria num objecto iconico do inicio do século XXI. O confinamento conduz a refexões vàrias e os nossos horizontes são redesenhados consoante a realidade do presente, como sempre. Tenho descobrido muita musica que não conhecia e deveras interessante, é estranho de constatar que continua a ser muito complicado de aceder à musica quando esta não é mainstream, jà o era nos anos 80. Constato que os unicos estilos de musica do qual não me farto é a musica barroca e contemporânea, tenho que averiguar porquê. A mulher pediu-me para escutar o Alan Parsons Project esta manhã, era coisa que jà não gostava muito adolescente e hoje é pior. O disco é dela e tém direito a escutà-lo evidentemente, aliàs ela é muito diferente de mim, uma razão para que goste ainda mais dela... | |
| | | TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Seg Abr 13 2020, 18:23 | |
| O confinamento não me impede "complétamente" de trabalhar então as coisas vão avançando. Jà faz três dias que o DAC do amigo Manfred anda em testes intensivos. Até me permiti de abrir uma bela garrafa de branco hoje, não para festejar a Pascoa mas afim de melhor aproveitar o sublime violino do Gidon Kremer! Os ficheiros téem desfilado uns apòs os outros e começo a ter saudades das minhas colunas, amanhã vou mudar. Vou aproveitar também para fazer uma escuta exaustiva com todos os auscultadores que por aqui andam ... é esse o teste ultimo de uma fonte digital. Aqui diz-se que o sapateiro é sempre o mais mal calçado, jà sei o que tenho a fazer durante este verão pois as férias em Portugal estão anuladas. Não sei se terei tempo de fazer um novo par de colunas, um DAC e um amplificador num mês ... mas é um projecto que cria um objectivo ambicioso!... | |
| | | Mário Franco Membro AAP
Mensagens : 2494 Data de inscrição : 27/03/2013 Idade : 66
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Qui Abr 16 2020, 00:10 | |
| Vão-se ouvindo umas músicas, fazendo restauro de madeira (obviamente colunas) fazendo o famoso tele-trabalho (que obviamente não é para aqui chamado) e absorvendo muita informação das mais diversas fontes (com muito exercício de análise). Mas acima de tudo o PÃO !!!!!! Este agora com uma nova receita e melhor ainda do que o anterior. https://lifestyle.sapo.pt/sabores/noticias-sabores/artigos/paodemia-a-receita-de-filipa-gomes-que-se-tornou-viral-no-instagram Esta fornada saiu agora | |
| | | TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Qui Abr 16 2020, 11:21 | |
| - Mário Franco escreveu:
- Vão-se ouvindo umas músicas, fazendo restauro de madeira (obviamente colunas) fazendo o famoso tele-trabalho (que obviamente não é para aqui chamado) e absorvendo muita informação das mais diversas fontes (com muito exercício de análise).
Mas acima de tudo o PÃO !!!!!! ... Vejo que por todo o lado é a mesma coisa e estou contente que continue a "bricolar". Aqui as lojas não alimentares estão todas fechadas e ném sequer um pouco de verniz para madeira encontro . O Pão e a agua são os elementos nutricionais de base ... e a comida dos prisioneiros no passado, mas o seu tém um aspecto de luxo. Vou me deixar tentar pela sua reçeita e tentar fazer um clone ... se encontrar farinha | |
| | | Mário Franco Membro AAP
Mensagens : 2494 Data de inscrição : 27/03/2013 Idade : 66
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Qui Abr 16 2020, 14:36 | |
| - TD124 escreveu:
- Mário Franco escreveu:
- Vão-se ouvindo umas músicas, fazendo restauro de madeira (obviamente colunas) fazendo o famoso tele-trabalho (que obviamente não é para aqui chamado) e absorvendo muita informação das mais diversas fontes (com muito exercício de análise).
Mas acima de tudo o PÃO !!!!!! ... Vejo que por todo o lado é a mesma coisa e estou contente que continue a "bricolar". Aqui as lojas não alimentares estão todas fechadas e ném sequer um pouco de verniz para madeira encontro . O Pão e a agua são os elementos nutricionais de base ... e a comida dos prisioneiros no passado, mas o seu tém um aspecto de luxo. Vou me deixar tentar pela sua reçeita e tentar fazer um clone ... se encontrar farinha A farinha é sem fermento, na composição olhar à percentagem de proteína, quanto mais alta melhor. O fermento de padeiro vende-se no lidl, para 450g de farinha uso 20g de fermento. Nem toda a farinha tem o mesmo poder de absorção da água, portanto vai-se acrescentando aos poucos. O pão faz sempre parte do meu pequeno almoço, um dia que não comece pela sandes mista e um robusto café com leite é um dia tremido Por aqui o leroy merlin esteve sempre aberto e há de tudo (menos máscaras, até as de pintura esgotaram) | |
| | | TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Qui Abr 16 2020, 15:38 | |
| - Mário Franco escreveu:
- ... O pão faz sempre parte do meu pequeno almoço, um dia que não comece pela sandes mista e um robusto café com leite é um dia tremido
Por aqui o leroy merlin esteve sempre aberto e há de tudo (menos máscaras, até as de pintura esgotaram) Eu sò como ao jantar, durante o dia não como nada ... mas pão com um pedaço de queijo ou pão com chouriço é o meu pecado. Tenho que experimentar a fazer isso pois nunca fiz... Aqui foram fechados e sò os profissionais das obras ou das reparações com carta da loja podem ir comprar. Alguns abriram recentemente mas com encomenda pela net e ir levantar à loja. Tenho um aqui perto mas paradoxalmente não abriu ainda, mesmo pela net ... ora que a nossa região faz parte das pouco contaminadas | |
| | | mannitheear Membro AAP
Mensagens : 1392 Data de inscrição : 01/08/2013
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Qui Abr 16 2020, 16:39 | |
| - TD124 escreveu:
O confinamento não me impede "complétamente" de trabalhar então as coisas vão avançando. Jà faz três dias que o DAC do amigo Manfred anda em testes intensivos. Até me permiti de abrir uma bela garrafa de branco hoje, não para festejar a Pascoa mas afim de melhor aproveitar o sublime violino do Gidon Kremer! Os ficheiros téem desfilado uns apòs os outros e começo a ter saudades das minhas colunas, amanhã vou mudar. Vou aproveitar também para fazer uma escuta exaustiva com todos os auscultadores que por aqui andam ... é esse o teste ultimo de uma fonte digital. Aqui diz-se que o sapateiro é sempre o mais mal calçado, jà sei o que tenho a fazer durante este verão pois as férias em Portugal estão anuladas. Não sei se terei tempo de fazer um novo par de colunas, um DAC e um amplificador num mês ... mas é um projecto que cria um objectivo ambicioso!... Hi Paulo, normally I would die of impatience to know the DAC is ready and I can't listen to it! But miraculously the system has itself transformed and plays very well to my liking - digitally and vinyl! I optimized the bass performance a bit and use now a different filter for the rear (cancellation) bass array of the pseudo-DBA. And I found that my old generic 6 sqmm speaker cable performs in this setup better than a Kimber 8 PR which has the tendency to a little glare in the upper mids while the generic cable is smooth. Now a certain balance is achieved and the systems plays with subtlety and great violence! And the new DAC will be even better, this will be musical heaven! The crazy thing is that we are less confined than you in France (hardware stores are open), despite my wife and I are certain to be Corona infected. But we both were tested - and negative. But we both and our son, too, have among other symptoms a total loss of sense of smell...from one day to the other... Biz, Paulo! | |
| | | TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Qui Abr 16 2020, 18:38 | |
| - mannitheear escreveu:
- ... Now a certain balance is achieved and the systems plays with subtlety and great violence!
And the new DAC will be even better, this will be musical heaven!
The crazy thing is that we are less confined than you in France (hardware stores are open), despite my wife and I are certain to be Corona infected. But we both were tested - and negative. But we both and our son, too, have among other symptoms a total loss of sense of smell...from one day to the other... Hi Man, glad to ear that you're having great time with the system ... i'm having a great, great time also with the Enigma as i've wrote on Tabula Rasa topic!!!... The loss of smell is a clear symptom as they say here, but there's a lot of people who beside that remains asymptomatic and the effects doesn't go further... Keep me in touch and Biz for you and your little family | |
| | | TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sex Abr 17 2020, 11:39 | |
| Està na hora de partir! Nada do que deixo tém mais importância do que a musica, a minha e a outra. Nesta catedral de objectos que me serve de apartamento mais de dez mil discos me rodeiam. Deambulo entre o piano e os sintetizadores, acaricio cada um da ponta dos dedos, digo-lhes adeus. Vesti-me bem, é importante estar apresentàvel sobretudo para esta viagem. Não estou triste de partir, mas melancolico, regozijo-me de ir encontrar alguns amigos, o Johnny, o Alain, o Alan, o Lou! Pouso o album dos Suicide no prato, o que me assombrava antes aconchega-me hoje. Sirvo-me um ultimo copo, não para me acalmar mas simplesmente porque é o ultimo, talvez. A noite estimula-me, é o meu momento propicio para a criação, não gosto de dormir pois parar é morrer. Não sei se hà um piano no sitio para onde vou, pouco interessa. Ninguém vai vir me dizer adeus, ainda bem, sempre fui um Dandy discréto e solitàrio. Olho para as estantes de discos, vinilos evidentemente, toda a minha vida està resumida nos sulcos de cada um deles. Nunca gostei do CD, demasiado limpo, puro, sò Deus é perfeito. Lanço um ultimo olhar ao que me rodeia, os vestigios do caos da minha vida cristalisam-se aqui, foi a minha vida. Vou ao espelho ver a minha imagem, ajusto os oculos e o casaco, é importante estar elegante, sempre. Ainda havia um copo na garrafa, serà este verdadeiramente o ultimo, saboro-o. O Frankie Teardrop chegou ao fim, não é necessario escutar a ultima faixa, tudo està dito, levanto o braço. Arrumo o disco na sua capa e ponho-o com cuidado no seu lugar, na sua estante, ele fica no lugar dele e eu parto para outro sitio. Deixo o sistema ligado, pouco interessa que as vàlvulas se gastém, fica pronto para a escuta. A recordação dos que amei e que amo acompanham-me e cortam-me em mil pedaços de ninguém. Acabei o copo e olho a garrafa vazia, como eu ela chegou ao fim da sua viagem. Olho para o relogio, é hora de apagar as luzes, é hora de partir...
O musico Cristophe faleceu esta noite victima deste virus, tinha 74 anos. A frança perde um dos seus ilustres filhos que admiro particularmente. Todas as vidas téem o mesmo valor, mas todas as pessoas não nos tocam igualmente. Fica esta modesta homenagem por tudo o que a sua musica me dà e me deu... | |
| | | Ghost4u Membro AAP
Mensagens : 14419 Data de inscrição : 13/07/2010 Localização : Ilhéu Chão
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sex Abr 17 2020, 13:37 | |
| Prezado TD124, Agradeço a partilha da homenagem. Bravo! | |
| | | TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Dom Abr 19 2020, 13:04 | |
| Hoje chove, um céu de chumbo abateu-se sobre este sul primaveril. Gosto de ver um céu assim, estou imunisado contra o saturnismo, as paisagens setentrionais pareçem-me mais aconchegadoras, mais propicias para a introspeção. O silêncio dominical é rompido regularmente pelo ballet dos helicopteros da urgência médica, hà muitos hoje. Jà faz dois dias que tenho uma ciàtica, o meu corpo lembra-me pela dor que jà não sou jovém mas irei passear uma hora na mesma. Fiz uma longa sessão de escuta esta manhã, ouvi belas coisas que me submergiram de emoção, os olhos vidraram. Tenho que me mexer na cadeira regularmente pois as posições estàticas são dolorosas, a dor lembra-nos que estamos vivos, tém ao menos esse mérito e talvez seja mesmo essa a sua razão de ser. O confinamento foi prolongado de um mês, pouco importa, jà me habituei a esta existência surrealista, este falso ritmo de existência tornou-se no o meu quotidiano. Nunca pensei que fosse tão caro de parar o mundo, o que està parado não gasta nada, vai ser necessario trabalhar mais para compensar estas férias inesperadas, voi sobrar pouco tempo para a musica. A minha metade pergunta-me inopinadamente esta manhã o nome do escritor ou filosofo que defendia a ideia que o homém é naturalmente mau, disse mecanicamente Xun Zi. Perplexo pela sua pergunta pensei também ao Thomas Hobbes bebendo o meu chà, não quiz saber porque razão ela se interessa à condição humana, aparentemente ela jà escolheu o que lhe pareçe ser a essência. Ser interrompido por esta questão durante as Lições das Trevas do Marc-Antoine Charpentier é perturbante e de uma certa maneira deliciosamente absurdo, como o tempo presente. Deixei o sistema ligado, não é ecologico mas é audiofilo e em bom ser humano alterno o meu sentido das prioridades. Este céu mercurial convida-me à escuta do Arbour Zena mas a obra é pomposa e previsivel, vou antes escutar o Englabörn ao qual a mesma critica pode ser feita, mas que prefiro. Não, finalmente vou-me calçar e ir passear uma hora com o meu filho no bosque, com a chuva serà agradàvel e depois vamos escutar juntos o Perry Blake no Circo Real de Bruxelas. Hà momentos que são mais belos num dia de chuva... | |
| | | TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Dom maio 03 2020, 10:37 | |
| Não tenho escrito ultimamente, pouco hà a dizer quanto ao monotono passar dos dias por aqui. A primavera estende a sua influência e o bosque aqui ao lado tém os senteiros invadidos pelas plantas pois ninguém faz a manutenção, a natureza recupera os seus direitos rapidamente. Leio que Portugal vém de sair do estado de emergência, voçês vão poder passear e sair com mais normalidade. Daqui a uma semana serà a mesma coisa em frança, mas as limitações serão tantas que serà a mesma coisa, mas disfarçada de normalidade. Poderei ao menos ir ver ou receber os amigos, vamos festejar esse momento devidamente, jà chega desta não vida. Tudo foi anulado para as férias em portugal, vamos ficar por aqui e fazer algumas obras na cozinha, a economia das férias vai permitir de beber e escutar novas coisas. Nenhum dos nossos amigos vai partir, penso que o turismo este ano serà uma calamidade, talvez seja uma situação que vai durar. O desconfinamento jà està a trazer o problema de volta na italia e no japão, vamos ter uma segunda vaga e de novo viver a mesma coisa, não quero. As noticias jà não falam da epidemia mas dos resultados economicos dela, anunciam uma catastrofe de amplitude imprevisivel. Poucos falam da catastrofe social que vai seguir o desconfinamento por causa dos divorcios, depressão, desemprego, instabilidade economica e etc, mas cada coisa no seu tempo. Tenho vontade de recomeçar a trabalhar normalmente, reçeber as minhas peças, ir ver os empreiteiros e poder construir aparelhos de novo. Estas férias forçadas deixam-me um amargo gosto de inutilidade e de impotência, nada me foi bom nesta situação. Vou tentar recuperar um ritmo normal sém exagerar, o que foi perdido humanamente não se recupera e é bom assim, é necessario açeitar certas coisas. Ninguém tém um bom moral à minha volta, todos os meus amigos estão inquietos quanto ao futuro proximo. È verdade que os ultimos tempos não téem sido muito bons mas os proximos anunciam-se muito piores, elle est belle la vie néanmoins... | |
| | | José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Dom maio 03 2020, 12:36 | |
| あん (An) – Uma Pastelaria em Tóquio.
O que aprendemos nós com o nosso passado e antepassados? Em que estado está a cadeia de transmissão de conhecimento? Como é que os preconceitos ainda têm mais força do que as ideias que os corrigem?
Esta manhã dediquei quase duas horas ao filme Uma Pastelaria em Tóquio (título em Português), filme Japonês com todas as belas características que o cinema daquele país nos habituou. Uma boa narrativa é acompanhada de grandes planos e fotografia, a acção desenrola-se a um ritmo próximo do que vivemos, não é necessária uma loucura de frames por segundo. Há imagens de comboios. Há imagens de cerejeiras em flor.
Não vou contar o filme, aconselho a ver na página da Medeia de forma gratuita.
Qual a razão de falar nisto? Vivemos um tempo diferente, mas independentemente dos acontecimentos, o tempo será sempre diferente. Tal como a água que não passa duas vezes por baixo da mesma ponte, o tempo também não passa duas vezes por nós. Os rios não se perdem e encontram sempre o mar, mas nós além de nos perdermos, ainda conseguimos perder a noção do tempo. As pessoas voltam à rua com maior sensação de segurança, mas para isso não foi necessário mudar o estado em que o país se encontrava, bastou mudar o discurso. Durante muito tempo se debateu por aqui o problema da “narrativa” política, mas curiosamente parece que tanto debate apenas serviu de entretenimento, a capacidade de análise da “narrativa” esfumou-se. Há melhorias e elas são comunicadas, isto faz bem ao espírito, alimenta a esperança. A comunicação de melhorias é vista como luz verde, avança-se com toda a confiança. O que é que nos está a escapar que não escapa à água dos rios? Desejamos o futuro. Hoje é o futuro de ontem. Hoje queremos o que tínhamos faz uns meses. Somos estranhos, criamos as leis para tentar dominar a Natureza, mas não paramos um instante para a ouvir e nos ouvir no meio dela. Se é para avançar, não carreguemos o ontem, coloquemo-nos em cima dele, sigamos para amanhã. | |
| | | TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Dom maio 03 2020, 14:22 | |
| - José Miguel escreveu:
- ... Somos estranhos, criamos as leis para tentar dominar a Natureza, mas não paramos um instante para a ouvir e nos ouvir no meio dela. Se é para avançar, não carreguemos o ontem, coloquemo-nos em cima dele, sigamos para amanhã.
Não percebi là muito bem a metafora entre o filme japonês e o devaneio sobre o tempo, senti-me dislexico (o que sou) ou uma forma de disortografia no texto ... mas a conclusão surpreendeu-me!...
Por mais que queira, ou qualquer outra pessoa, voltar a ontém isso não acontecerà, ainda menos voltar a dois meses atràs ou mais ainda ... então "seguir para amanhã" é uma evidência que de uma maneira pejorativa em frança é chamada uma lapalissade (verdade de La Palice). Ninguém vai ter direito a escolher e o "seguir para amanhã" é, sempre foi e serà, o rumo quotidiano da humanidade, incansavelmente...
No entanto, questionar-se sobre a natureza do amanhã, tentar compreender do que ele serà feito se serà sombrio ou luminoso é tão natural quanto ver o boletim metereologico para saber que tempo vai fazer ... a potencial "previsibilidade" das coisas é uma das maneiras de combater a angustia do vazio. O que vém de se passar não é anódino ném economicamente ném socialmente, é mesmo extraordinario, então alguns alicerces foram erodados mais rapidamente e algumas referências foram abaladas. Paradoxalmente, a rivalidade medical hoje em frança é entre cura e pesquisa ... a "santa" estabilidade orçamental publica foi esqueçida ... os bancos centrais "imprimem" dinheiro em série ... a solidariedade europeia e mundial não existiu ... a barbaria do quotidiano multiplicou-se rapidamente ... a dependência em relação à china apareçe total"...
Tudo isto revelou fraquezas do tipo calcanhar de Aquiles com possiveis repercussões no futuro, e que mereçem uma reflexão profunda da parte das classes politicas e economicas. Pragmatico que sou, não creio que a contemplação da natureza ném a simbiose com ela dê as respostas imediatas exigidas. Não é que as pessoas não queiram "seguir para amanhã", muitas pessoas téem medo de amanhã! Não é a mesma coisa e essa angustia nos tempos que corrém pareçe-me perfeitamente legitima... | |
| | | José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Dom maio 03 2020, 14:58 | |
| Caro Paulo, quando escrevi não me senti de forma alguma vinculado a uma posição académica, pelo que as metáforas soltas são meramente a expressão em “voz alta” de pensamentos. É normal que o Paulo não compreenda a relação entre o filme e o que escrevi, assim como é normal que a Luciana compreenda perfeitamente. O filme retrata muito bem um problema que abordamos várias vezes em conversas, a saber, o hiato cada vez maior entre gerações. Além disso, retrata a forma como preconceitos nascem socialmente e se enraízam nas pessoas, ao ponto de as fazer questionar a sua própria natureza. O filme retrata ainda mais, retrata a forma como nós nos vamos descolando do meio que habitamos e perdemos a capacidade “infantil” de observar pormenores simples, de nos surpreendermos, de aprender com eles. O filme retrata que nós tendemos a carregar o passado e não o contrário - nós somos em cima de ombros de gigantes, vemos mais longe porque temos um passado. O hiato é sempre preenchido, seja lá com o que for… Isto é tudo óbvio, infelizmente o óbvio tem que ser muitas vezes lembrado, pois é tantas outras vezes esquecido. Cola-se muitas vezes a Hegel a ideia “a história repete-se” e a sua obra acaba aberta… num momento passado eu (como outros) tentei abordar a obra e meter mais o Homem na equação, porque no fundo é do Homem que se fala e da sua evolução. Não admira que “a história se repita”, o Homem tende a agir de acordo com a sua necessidade imediata e sacrifica o carácter universal dessa necessidade… não vou continuar, para não chatear com Filosofia. O que o Paulo diz é verdade, no fundo é uma visão macro… mas há visão macro além da visão individual? Apelida de “lapalissade” o que digo sobre o seguir para amanhã, mas pensa e bem que há várias possibilidades de seguir. No dia em que pensarmos de facto que a nossa acção é passível de lei universal, talvez algo mude… e isto também é “lapalissade”, foi muitíssimo bem colocado/sistematizado no século dezoito e hoje ainda não é compreendido. E tudo começou num filme que achei de rara beleza… a Arte tem destas coisas. | |
| | | TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Dom maio 03 2020, 15:53 | |
| - José Miguel escreveu:
- ... O que o Paulo diz é verdade, no fundo é uma visão macro… mas há visão macro além da visão individual? Apelida de “lapalissade” o que digo sobre o seguir para amanhã, mas pensa e bem que há várias possibilidades de seguir. No dia em que pensarmos de facto que a nossa acção é passível de lei universal, talvez algo mude… e isto também é “lapalissade”, foi muitíssimo bem colocado/sistematizado no século dezoito e hoje ainda não é compreendido.
E tudo começou num filme que achei de rara beleza… a Arte tem destas coisas. Ontém às duas da manhã vi um documentario aonde era posto em paralelo a gestão pelos soviéticos do acidente nuclear de Tchernobyl e o de Fukushima no japão. Foi seguido de um debate com vàrios especialistas e apesar do maneirismo anti-soviético habitual a conclusão foi unânime. Os soviéticos açeitaram de perder localmente varias perdas humanas afim de limitar a incidência mundial do acidente ... os japoneses limitaram as perdas locais afim de diluir as incidências mundialmente, pelo oceano pacifico!... Não é Arte, mas é uma reflexão interessante sobre a reação frente ao desconhecido e à destrução, sobre a morte! Diz-se por aqui que o rico tém mais medo da morte do que o pobre, é normal pois tém mais a perder ... no entanto o rico viveu melhor a sua vida, deveria ter menos pena de partir! Ontém pensei na frase do David Hume: ... Não é contra a razão que prefiro a destruição do mundo inteiro ao arranhão no meu dedo. Não é contra a razão que escolho a minha ruína total para evitar o menor desagrado de um índio ou de uma pessoa totalmente desconhecida para mim. ... Porque a "razão" humana é isto tudo e mais ainda, qualquer visão de universalismo sociopolitico pareçe-me utopico. Sei que gostarias que fosse o caso, sei que ao menos gostas de reflectir sobre isso, eu não. Não gosto do homém pelo que ele pensa ou imagina, mas pelo que ele faz | |
| | | José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Dom maio 03 2020, 16:24 | |
| Pensamento é acção! Eu não sou tão utópico como posso parecer (muito menos tenho inclinação para a esquerda política), mas gosto de pensar que pequenos gestos provocam grandes mudanças. Teria muito para dizer sobre isso do rico e pobre... Repito muitas vezes isto: o maior dos bens que o dinheiro pode comprar é tempo. Por razões que a razão desconhece quem mais ganha e mais tempo poderia ter, acaba por usar esse tempo para ganhar mais ainda... E fica refém de um estilo de vida que não sei se realmente permitirá viver "melhor", mas sei que essas pessoas são tão fruto da sociedade como eu - pensar diferente afinal leva a acções diferentes. Como nunca fui rico, não sei desse "melhor"... Pobre sei que tenho vivido bastante e até consigo surpreender alguns ricos... até por ter tempo para fazer algumas coisas que não custam muito. Faz uns dois anos um amigo que está nos EUA partilhou um estudo que dizia algo como isto: as novas gerações procuram trabalhar menos, comsomem menos grandes bens (casas, carros) e mais pequenos bens de prazer imediato (viagens, telefones, roupa, comida e bebida, ...). Não sei se será mesmo assim, a constante bolha do imobiliário diz-nos que há procura, mas poderá ser um breve reflexo dos mais jovens, ou desta relação complexa de dependência com constantes lançamentos de novos produtos. Posto isto, acredite que compreendo o que diz e o que vai partilhando, eu vou partilhando estas ideias não como resposta directa ao Paulo, não as entenda assim, mas como uma visão diferente. Não quero travar o desenvolvimento, apenas o quero diferente, para poder usifruir dele. | |
| | | TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Dom maio 03 2020, 17:52 | |
| - José Miguel escreveu:
- Pensamento é acção!
Posto isto, acredite que compreendo o que diz e o que vai partilhando, eu vou partilhando estas ideias não como resposta directa ao Paulo, não as entenda assim, mas como uma visão diferente. Não quero travar o desenvolvimento, apenas o quero diferente, para poder usifruir dele. O pensamento pode ser a antecâmara da acção ... mas sò um "concepto" pode ligar directamente esses dois elementos. Lembro-me de ter lido algo como o pensamento é um luxo e a acção uma necessidade ... gostei dessa frase Eu sei que não é por espirito de contradição, mas por gosto pela dialéctica . Quanto a quereres um desenvolvimento diferente, somos uma maioria de seres a querer isso, mas cada um da sua maneira... | |
| | | TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Ter maio 05 2020, 14:09 | |
| Ninguém diz nada!... então como se passa o "desconfinamento" nos vossos lados desde ontém ???... Aqui é aguentar ainda cinco dias e depois logo se vê !!! Digam como isso se passa do vosso lado | |
| | | José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Ter maio 05 2020, 14:45 | |
| A minha hora de almoço já terminou, por aqui a rotina mantém-se... bem quero ver uma luz ao fundo do túnel, mas o túnel ainda está longe do fim. As empresas já procuram saber se há a possibilidade de colocar os seus colaboradores de fora, mas ainda não há voos... isto mais parece um daqueles puzzles de milhares de peças. Para me deslocar na cidade uso uma bicicleta citadina, a da Luciana. De manhã notei que mais pessoas usavam a marginal para praticar exercício. Ontem parei mesmo junto à zona da Baía de Espinho, estavam pelo menos 30 surfistas na água... o dia nem tinha acordado particularmente quente, o mar estava quase flat, mas pensei numa espécie de revolta colectiva. Pensei usar a minha bicicleta hoje de tarde, para dar uma pequena volta... uma a duas horas a pedalar, visitar uma paisagem catita. Vamos ver se ainda tenho pernas para isso, apesar da boa genética, noto que o meu perímetro abdominal está diferente. Não é por falta de pedalar que mudei, andar de bicicleta não ajuda a manter a barriga plana, mas o sedentarismo passou a ser a normalidade e eu gosto de comer. As lojas abriram, pelo que vejo são poucas as que estão muito concorridas. Tal como em outras cidades, lojas de produtos agrícolas e tecidos têm procura, umas porque é preciso dar uso à terra, outras porque fazer máscaras deverá substituir a mania de fazer pão em casa. Por falar em máscara, eu ainda não tive que usar, odeio a ideia de ter que o fazer - o termo é forte, mas é o que sinto. Nada contra a saúde colectiva, mas aquele objecto não me cai bem. Talvez fique mais bonito com ela, sairão realçados os meus olhos quase preto... até ontem era eu que ia ao supermercado, fazia-o com gosto, agora evito. Eu sei que é uma ideia parva, mas cada um tem as suas manias. Este será mais um texto de recortes, mas hoje as interrupções estão a acontecer com frequência. | |
| | | ricardo onga-ku Membro AAP
Mensagens : 6017 Data de inscrição : 02/01/2012 Localização : Terra d'Anglos...e Saxões
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Ter maio 05 2020, 21:47 | |
| Os Ingleses não gostam de acatar ordens. Hoje fiz a minha peregrinação semanal ao hiper-mercado, que estava o mais vazio que o encontrei desde que começou a crise, e vi muitos mais carros no caminho. Ao final da tarde dei a minha volta-exercício, de bicicleta, aos campos que ladeiam o meu bairro e eram muitos os que se ocupavam com actividades físicas. O sol voltou em força e o dia esteve lindo. O corço selvagem que "mora" ao final da rua pastava perto dos cavalos.
Não sei qual o plano, fico deprimido com as notícias. Este des-Governo é uma anedota sem ponta de graça.
A minha mulher lá vai ao hospital, felizmente que apenas 3 dias por semana. Tem de trazer a farda contaminada para lavar em casa. O 3° mundo não fica longe daqui... | |
| | | TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sex maio 08 2020, 11:18 | |
| - José Miguel escreveu:
- ... por aqui a rotina mantém-se... bem quero ver uma luz ao fundo do túnel, mas o túnel ainda está longe do fim. ... junto à zona da Baía de Espinho, estavam pelo menos 30 surfistas na água ... dar uma pequena volta... uma a duas horas a pedalar, visitar uma paisagem catita. Vamos ver se ainda tenho pernas para isso, ... porque fazer máscaras deverá substituir a mania de fazer pão em casa. ... Por falar em máscara, eu ainda não tive que usar, odeio a ideia de ter que o fazer ... Nada contra a saúde colectiva, mas aquele objecto não me cai bem. ...
Pensei que o desconfinamento ofereçesse em todo o lado uma forma de euforia, como a paz apòs a guerra e finalmente temo que seja uma sensação de ressaca o que me espera segunda-feira. Sinto as pessoas fartas e abatidas com estes dois meses de confinamento que embruteceu a população. Entre a pandemia e a crise economica subjacente penso que este verão vai ser surrealista. Os restaurantes se abrirem não vão ter ninguém e as pequenas empresas que vivem do turismo ou da estação estival vão desapareçer como bolas de sabão. As pessoas devoraram bolos e massa e agora são os produtores de frutos e legumes que se queixam de deitar fora a sua produção. Com o fecho dos restaurantes, cantinas de trabalho e escolas o consumo foi reduzido por três ... a ideia que uns morram de fome e que outros deitem fora a produção agricola desola-me e dà-me raiva. Venho de ler um estudo que "prova" que trazer de volta as empresas que partiram para a china sai mais caro do que deixà-las estar aonde estão ... para resumir, nada vai mudar. A esposa de um vizinho que é da Mongolia e costureira decidiu de fazer mascaras sob medida para todo o bairro ... escolhi uma mascara "tubo" a condizer comigo e a madame deixou-se ir por um imprimido salpicado, està na moda. Andar com uma mascara na cara durante o verão vai ser impossivel, vou ter que me auto-confinar e sair o menos possivel. Jà combinei com um amigo para fazer-mos um churrasco aqui na segunda ao meio dia, que faça chuva ou tempestade vamos fazê-lo! Tenho a certeza que vamos abrir uns belos frascos e abusar de tudo ... hà que festejar o começo da liberdade condicional!... | |
| | | José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sex maio 08 2020, 12:07 | |
| Ontem jantamos relativamente cedo, pelas 21h20 estávamos despachados... decidimos ir caminhar, a noite estava agradável. Seguimos em direcção ao mar pela Rua 31 (sim, em Espinho as ruas apresentam-se com números) e tudo parecia calmo, a cidade para nós, mas assim que chegamos à marginal... Imediatamente pensamos que se tratava de uma noite de Verão, pessoas a caminhar para um lado e para o outro, famílias que se divertiam, crianças brincavam. Não cruzamos a Rua 2, seguimos pelo passeio mais afastado da praia e continuamos a nossa conversa, pontualmente entrecortada por exclamações de admiração - inclusive da nossa admiração, fazíamos parte da multidão. Assim que chegamos à Baía verificamos que havia sinais de vida, a maré estava extremamente baixa e uns quantos aventureiros estendiam os braços para apanhar seres vivos que lembram o mar na boca - apeteceu-nos fazer-lhes companhia, havia espaço no estômago para a ceia. Levados pela curiosidade até junto do areal, foi por ali que seguimos mais um pouco. Hoje acordamos, a Luciana prontificou-se para ir buscar o pão, a padaria fica a cem metros de nossa casa, na mesma rua. Perguntou-me se seria necessário levar máscara, eu respondi que não, ainda ontem tinha ido lá sem esse acessório. Na padaria apenas entra uma pessoa de cada vez, existem protecções em acrílico no balcão, a sensação de confiança aumenta com a lavagem das mãos à nossa frente. Agradeço sempre o trabalho, nos momentos mais complicados sempre estiveram de portas abertas, sempre com cuidado. Poucos minutos depois ouvi a Luciana chegar, disse-me que eu era "sempre a mesma coisa" - é verdade, sou! Não a deixaram comprar pão sem máscara, teve que voltar a casa para voltar à padaria. Não os condeno pelo excesso de zelo, mas começo a desejar não sair de casa. Felizmente no meu local de trabalho estou isolado, desejo que assim continue, enfiado numa sala, a trabalhar com o computador e telefone. O resto do hotel está a ser repensado, todas as unidades hoteleiras terão que ser repensadas. Desde a entrada num edifício que há barreiras a esta nova normalidade, até o botão do elevador parece atrapalhar... um botão! Criatividade será chamada ao trabalho, temos que pensar fora da caixa para atrair pessoas de forma confiante e segura. Tudo é uma questão de percepção, a imagem vai contar cada vez mais... talvez se passe a trabalhar com o pensamento. Este pode ser o tempo para desenvolver o nosso cérebro, eventualmente passaremos a mover objectos com a mente. Ontem não, mas anteontem fui dar uma volta de bicicleta, duas horas. Fui até ao Furadouro, andei a passear-me pelo imenso pinhal que começa em Cortegaça. Vi muitos carros enfiados no pinhal, ao que parece as pessoas não se esqueceram de contornar as praias mais vigiadas. Há sempre forma de contornar as proibições. A bicicleta tem sido elogiada como forma de deslocação segura, afinal ela cria distanciamento natural. Eu vou para o trabalho de bicicleta, desço a 31, sigo pela marginal. Paro um instante para namorar o mar, nesse instante sinto-me bem, depois sigo rumo à normalidade, na esperança que ela traga mais luz do que sombra. ps.: ventilam-se muitas ideias, todas as que tocam princípios de "passaporte biológico" deixam-me profundamente nervoso; atestados como os que já se pensaram na Alemanha lembram-me outros tempos que não vivi, mas que imagino... jã não sei se imagino o passado ou o futuro, não gosto disto; na China o uso de uma aplicação no telefone garante entrada em lugares, aqui fala-se dessa porcaria... desculpem o termo, mas que m*&da é esta? Não aprendemos nada... Vou apontar à luz, ela está no meio e sei que o sol se deita além, iluminando todo o espaço onde ainda há sombra... pelo menos ontem foi assim. | |
| | | reirato Membro AAP
Mensagens : 3642 Data de inscrição : 08/11/2010 Idade : 80 Localização : Stª Maria de Belém, Lisboa
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sex maio 08 2020, 14:38 | |
| [quote="José Miguel" … … … em direcção ao mar pela Rua 31 (sim, em Espinho as ruas apresentam-se com números) e … … … .[/quote] E... Também há ruas com números obscenos, como por exemplo…!?… Ver aqui em Lisboa!?… | |
| | | José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
| | | | reirato Membro AAP
Mensagens : 3642 Data de inscrição : 08/11/2010 Idade : 80 Localização : Stª Maria de Belém, Lisboa
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sex maio 08 2020, 15:14 | |
| Eu!?… Fui sempre um menino de coro!!! Mas em Hamburgo, a Herbertstrasse … à portuguesa: "rua dos tapumes"? | |
| | | José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
| | | | antpaubarcar Membro AAP
Mensagens : 1001 Data de inscrição : 20/12/2013
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sex maio 08 2020, 17:10 | |
| O pensamento já é crime (para alguns) | |
| | | ricardo onga-ku Membro AAP
Mensagens : 6017 Data de inscrição : 02/01/2012 Localização : Terra d'Anglos...e Saxões
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sáb maio 09 2020, 09:26 | |
| Desde o início do meu confinamento, a 18 de Março, apenas choveu 5 ou 6 dias, facto extraordinário para o RU. Isso permitiu que almoçassemos na rua praticamente todos os dias; jantar nem sempre porque a temperatura por vezes cai até aos 5° C...
O bairro está repleto de passarada chilreante – chanpins, peitos-ruivos, pardais, melros, pegas, gralhas, pobos-bravos e, mais acima, milhafres e gaivotas - e de insectos - borboletas, abelhas e abelhões, vespas, joaninhas, aranhas, e outros seres cujo nome desconheço. Os esquilos despiram os seus grossos casacos de verão, os corços passeiam-se com as suas crias e os coelhos alimentam-se ao Sol nos prados. Como é hábito na Primavera britânica, as plantas e arbustos explodiram de folhas e flores, aumentando o seu volume de dia para dia, e as copas das grandes árvores encheram-se de folhas criando zonas de floresta-sombra fresca, escura e misteriosa.
A ausência de ruidos mecânicos, aquela cacofonia horrenda produzida pelos humanos e as suas máquinas, é algo de verdadeiramente maravilhoso, assim como o é o ar freco e cristalino. Por vezes lá passa um helicóptero de emergência médica ou alguém apara a relva. O som de automóveis é raro. Debato-me, de um lado, com a vontade de passear ou pedalar pelos arredores e, de outro, com a atração deste silêncio humano que é perfeito para escutar música.
Criei um utilizador na conta Spotify Family das crianças. Tenho explorado todo um universo e descoberto alguma música interessante, que algumas das bandas que ouvia quando era mais novo desapareceram e que outras foram perdendo qualidade (ou talvez a capacidade de me surpreender).
Os efeitos do Covid têm sido dramáticos para os humanos mas uma benção para o planeta. Tenho esperanças, ainda que ténues, que este momento de ruptura no progresso suicida da humanidade sirva de alavanca para um novo paradigma de sociedade. Mas tal como o Paulo receio que os Governos fracos acudam aos poucos que detêm muito e nada façam pelos restantes muitos ou pelo habitat que nos dá sustento...
Última edição por ricardo onga-ku em Sáb maio 09 2020, 13:08, editado 3 vez(es) | |
| | | ricardo onga-ku Membro AAP
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| | | | TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sáb maio 09 2020, 11:44 | |
| - José Miguel escreveu:
- ... ventilam-se muitas ideias, todas as que tocam princípios de "passaporte biológico" deixam-me profundamente nervoso; atestados como os que já se pensaram na Alemanha lembram-me outros tempos que não vivi, mas que imagino... jã não sei se imagino o passado ou o futuro, não gosto disto; na China o uso de uma aplicação no telefone garante entrada em lugares, aqui fala-se dessa porcaria... desculpem o termo, mas que m*&da é esta? Não aprendemos nada... Vou apontar à luz, ela está no meio e sei que o sol se deita além, iluminando todo o espaço onde ainda há sombra... pelo menos ontem foi assim.
- ricardo onga-ku escreveu:
- ... Os efeitos do Covid têm sido dramáticos para os humanos mas uma benção para o planeta.
Tenho esperanças, ainda que ténues, que este momento de ruptura no progresso suicida da humanidade sirva de alavanca para um novo paradigma de sociedade. Mas tal como o Paulo receio que os Governos fracos acudam aos poucos que detêm muito e nada façam pelos restantes muitos ou pelo habitat que nos dá sustento... Estes discos não são os que téem andado a rodar ultimamente, na realidade raramente os escuto e não porque desgoste, mas porque me deixam sempre um final amargo apòs a escuta. Tenho um amigo intimo aqui que tém a particularidade de conheçer bem a economia por profissão e formação assim que a historia e filosofia por paixão. Temos o vinho e a cozinha como entretimento comum e quase todas as semanas fazemos um desafio aonde a grande cozinha e os belos frascos encontram-se. È sempre um pretexto para tentar-mos nos evangelizar mutualmente pois temos ideias politicas radicalmente diferentes, o que não nos impede de refazer o mundo à nossa imagem como se diz por aqui. Ele interessa-se pouco à musica e à arte e eu pouco aos carros e à finança ... então a socio-politica é o nosso tema favorito nesses semanais debates épicos e bem regados...
A razão porque cito extractos do José e do Ricardo é que ambos gostariam que algo mudasse apòs esta pandemia, eu também, e a razão porque cito este meu amigo é que ele defende que actualmente nada pode mudar. O meu amigo explica-me hà anos com paciência e didactismo que o unico elemento que cria laços comuns entre todos os estados é a economia. Que esta tornou-se tão complexa e vital que hoje é autonoma e ném sequer pode ser complétamente regulada por um estado, ou por um grupo de estados. A economia seria hoje um animal criado pelo homém que tém vida propria, cria as suas proprias regras, tém doenças e curas, necessidades e perversões e que decide aonde vai e como ... os estados tentando simplesmente evitar os extremos criando parapeitos legais. Nessas condições, a margem de manobra dos governos mesmo potentes é limitada ou extremamente limitada. Se a esquerda e a direita que alternadamente governam a frança à quarenta anos não mudaram nada, é talvez porque era impossivel. Se o presidente actual, que não tém ném cor ném historia politica foi eleito, era na esperança que ele mudasse o antigo paradigma o que também não vai aconteçer. Começo a acreditar que o meu amigo tém razão, mesmo se não compreendo totalmente os mecanismos que a economia utilisa para se "defender" contra a tentativa de mudança. Como ele diz muito pessimista, sò a revolução total pela guerra e pela eliminação de uma grande parte da população pode dar fôlego ao planeta e à sociedade, pareçe que na historia foi regularmente o caso. Não creio nas soluções radicais e muito menos na barbaria, mas hà dias aonde me sinto desanimado e impotente e nesses momentos as ideias são da cor do carvão...
Escolhi estes quatro discos pois são manifestos para a mudança, são obras de pessoas que gostariam que a sociedade se tornasse mais humana, mais justa. Penso que somos muitos a querer isso, talvez mesmo a maioria e incluo o meu amigo supracitado nesse grupo. No entanto, sete mil milhões de pessoas com carros, frigorificos, sistemas audio, boa saude e todo o conforto moderno não é sustentàvel para o planeta, ném sequer com a metade dessas pessoas. Fica esta reflexão e o gosto amargo que subsiste cada vez que equaciono a mudança, e portanto não sou utopista... | |
| | | José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sáb maio 09 2020, 13:35 | |
| - TD124 escreveu:
(...) A razão porque cito extractos do José e do Ricardo é que ambos gostariam que algo mudasse apòs esta pandemia, eu também, e a razão porque cito este meu amigo é que ele defende que actualmente nada pode mudar. O meu amigo explica-me hà anos com paciência e didactismo que o unico elemento que cria laços comuns entre todos os estados é a economia. Que esta tornou-se tão complexa e vital que hoje é autonoma e ném sequer pode ser complétamente regulada por um estado, ou por um grupo de estados. (...)
Estes temas dariam uma bela reunião à volta da mesa, entre amigos também gostamos de conversar sobre assuntos que necessitam de tempo para problematizar, mas a resposta à ideia que deixei a negrito pode ser rápida: a mudança é uma constante. A Filosofia e a Economia sempre andaram de mãos dadas, o meu trajecto até é fruto disso. Eu gosto muito de Economia, mas é pela vertente teórica que gosto de pegar. A parte de finanças e contabilidade deixei para trás após o secundário, recusar uma oferta de trabalho num escritório de contabilidade após o fim das aulas pareceu-me natural naquela altura... e o resto é história. Refiro isto porque acompanho parte do pensamento do amigo do Paulo, a Economia é algo que nos transcende, o Homem tem a mania de apontar a si a sua criação, mas está enganado e é por isso que ela é incontrolável. Já referi várias vezes que a Lei da Oferta e da Procura é das coisas mais perfeitas que se pode conhecer, também já apontei a razão para pensar assim: ela toca a nossa natureza. Ora, nós não controlamos a nossa natureza, como poderíamos controlar algo que toca algo que não controlamos? A história do pensamento revela um esforço constante na busca pela compreensão do que somos e, muito importante, como somos. A mesma história também nos revela que o pensamento económico nasce desta busca, primeiramente faz parte da tentativa de nos compreendermos. Umbilicalmente ligados, Homem e Economia estão para lá dos Estados Soberanos e das Instituições, são como dois jovens enamorados que não conseguem sair um de cima do outro, não respeitam nada nem ninguém, não há para eles espaço público e privado, não há limites... há desejo. Seria irracional esperar um mudança contra a nossa natureza, eu não me julgo irracional, mas gosto de colocar cenários complexos em jogo. O que me ocorre mais vezes toca o Homem na sua racionalidade. Ao longo do meu trajecto dediquei muitas horas a tentar perceber os mecanismos de Conhecimento, fiquei quase na mesma. A nossa maior arma é o nosso maior pesadelo, dessa coisa incrível a que chamamos Razão participam coisas a que não acedemos, mas que têm a força de um vulcão em constante erupção. Esse vulcão não nasce e desenvolve-se sozinho, todos sabemos que criação espontânea é coisa que não existe. As relações entre gerações são uma chave multi-usos, permitem afinações mais ou menos precisas e a História mostra-nos isso mesmo. Não há afinação perfeita, já sabemos, mas repare-se como em poucas décadas passamos a ter sociedades muito menos racistas. A afinação ainda não está no ponto e os álbuns que o Paulo refere ainda são altamente pertinentes hoje, mas basta recuar uns cinquenta anos para se perceber como estamos melhores. A transmissão de conhecimentos foi uma das principais armas para que esta evolução acontecesse, a letra da Lei, pela criminalização do acto, ajuda, mas sabemos bem que não há Lei que nos impeça de pensar... felizmente a mudança aconteceu ao ponto de mudar o pensamento. Em termos económicos também existem exemplos de afinações que aconteceram pela via das relações entre gerações, a mais poderosa talvez seja mesmo o mecanismo de solidariedade em que se baseiam a maioria das sociedades, afinado nos últimos três séculos. O que afina, também desafina! A relação entre gerações é a chave para a transmissão e criação de Valores e não se pode entregar às gerações vindouras a responsabilidade da mudança sem o exemplo. Mais uma vez o Paulo diz e bem que somos sete mil milhões neste planeta, mas não somos sete mil milhões com electricidade, quanto mais frigoríficos, carros e sistemas hi-fi, ... e por estes exemplos nota-se perfeitamente de que hemisférios somos, até parece natural desejar isso tudo. Não faz muitos anos, estudos antropológicos revelavam que ainda existiam tribos com noções de Tempo diferentes da nossa (mundo ocidental). Se essas pessoas não têm a noção de Tempo como a nossa, desejarão o mesmo que nós? Quem nunca viu um carro, desejará um carro? Quando o conhecimento ainda é transmitido pela oralidade, sem conhecimento do processo de gravação, fará falta um computador ou hi-fi? (os exemplos apenas servem de contraponto e não visam o retrocesso) Não podemos evitar o desejo, mas podemos educar o desejo. Não podemos evitar a pulsão, mas podemos entregar Valores relativamente eficientes para a controlar. Não podemos ultrapassar as diferenças, mas podemos aplicar a noção de justo. Há a mania de apontar ao pensamento económico a origem do mal, mas a noção de justa medida está tão presente no pensamento económico como está a noção de lucro. O que muda são os olhos de quem lê. Ficam alguns pensamentos soltos. | |
| | | TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sáb maio 09 2020, 15:47 | |
| - José Miguel escreveu:
- ...Estes temas dariam uma bela reunião à volta da mesa, entre amigos também gostamos de conversar sobre assuntos que necessitam de tempo para problematizar, ...
Mais uma vez o Paulo diz e bem que somos sete mil milhões neste planeta, mas não somos sete mil milhões com electricidade, quanto mais frigoríficos, carros e sistemas hi-fi, ... e por estes exemplos nota-se perfeitamente de que hemisférios somos, até parece natural desejar isso tudo. ... Eu ao contràrio de ti e da maioria dos meus amigos não gosto desse tipo de conversas. Prefiro intelectualisar as coisas às quais posso dar eventualmente uma solução e vejo nesse acto algo de intimo que não posso ném quero partilhar, sém duvida vestigios da minha formação. Fora com esse amigo e sempre sòs, pouco falo de politica, de sociedade e outros temas assimilados e insurjo-me delicadamente contra os amigos quando as conversas se tornam por demasiado especulativas. Os burgueses que falam da fome no mundo ( exemplo) são exercicios intelectuais nos quais evito participar e mesmo assistir... Mas, sendo eu desde sempre curioso dos outros e pelo que venho de dizer, viajei muito e sempre sò ... pareçeu-me ser a melhor maneira de criar uma relação mais directa, um contacto com menos filtros. Mesmo em zonas extremas como nos polos ou no deserto, nunca tive a impressão que as pessoas desejavam algo de muito diferente do que eu. As diferenças de modo de vida, de cultura, de religião e mesmo de moral eram evidentes, mas na globalidade todos desejavam uma vida com saude, comida e o melhor bem estar possivel, para eles e para os seus... Nunca estive em contacto com modos primitivos de vida ném em tribus isoladas do mundo moderno. Também nunca estive em aldeias sém nenhuma electricidade pois havia sempre ao menos uma geradora diesel. Lembro-me mesmo que quando era jovem, na aldeia da minha avò no algarve o penico era despejado nos regos da rua principal pois não havia esgotos ... o desenvolvimento era relativo. Se insisto no numero de sete mil-milhões e tens razão de indicar que nenhuma mudança vai contra a nossa natureza, é que a maioria dessas pessoas aspira à mesma coisa. As pessoas que por razões culturais, sociais, religiosas ou pessoais que não aspiram ao "conforto moderno" pareçem-me ser uma minoridade. E mesmo se essas pessoas fossém a metade do que somos, teriam que comer e o planeta seria agredido na mesma para produzir comida para os homens em quantidade suficiente. Três litros numa garrafa de um litro não entra ... ou entra muito mal. Pareçe-me natural e desejo que qualquer pessoa sobre a terra tenha direito à paz, saude e alimentação!!!... Se a paz até pode ser muito barata, jà a saude e a alimentação para a humanidade inteira tém um custo para o planeta que é a detruição dos ecosistemas. Podemos viver cada um com menos é claro, eu como uma vez por dia e ném sequer sou magro ... mas não creio que seja suficiente a frugalidade | |
| | | José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sáb maio 09 2020, 17:00 | |
| Paulo, de modo algum o que escrevi deve ser levado para lá dos bens acessórios, os fundamentais eu sei bem que todos desejamos. Cada um tem a sua formação (educação e instrução), eu tive a minha que me preenche onde eu não consigo chegar. Sou tão "filho" (entenda-se aqui ser tocado por) do meu pai que não aguentou um mês na Suiça longe da família, como de todos os amigos de escola que sonhavam ter motas e carros... Aqui estou. Sim, eu gosto dessas/destas conversas porque, como já disse, sem pensamento não há acção. Eu tento alinhar pensamento, linguagem e acção, não aspiro a ser perfeito, mas só assim se pode aspirar a algo melhor. Eu gosto dos princípios que são muitas vezes colados a autores de "direita", é neles que me revejo mais. Gosto particularmento do que diz que cada Homem deve tomar para si o que pode trabalhar. Defendo a propriedade privada nesta medida, creio nela, tento praticar esta máxima diariamente - de que servem milhões no banco? De que serve ter multiplas casas? Terremos a criar mato? Os EUA na sua fundação distribuía terras seguindo esta mâxima, bem sei que degenerou... O planeta não aguenta e o Paulo toca muito bem esse ponto, faz o que pode e participa das conversas - do seu jeito, expressando o que quer, tal como deve ser. Se todos participassem tanto como o Paulo, estas conversas seriam mais (?) animadas, respeitosas e produtivas. | |
| | | José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sáb maio 09 2020, 18:24 | |
| - ricardo onga-ku escreveu:
- Desde o início do meu confinamento, a 18 de Março, apenas choveu 5 ou 6 dias, facto extraordinário para o RU.
Isso permitiu que almoçassemos na rua praticamente todos os dias; jantar nem sempre porque a temperatura por vezes cai até aos 5° C...
O bairro está repleto de passarada chilreante – chanpins, peitos-ruivos, pardais, melros, pegas, gralhas, pobos-bravos e, mais acima, milhafres e gaivotas - e de insectos - borboletas, abelhas e abelhões, vespas, joaninhas, aranhas, e outros seres cujo nome desconheço. Os esquilos despiram os seus grossos casacos de verão, os corços passeiam-se com as suas crias e os coelhos alimentam-se ao Sol nos prados. Como é hábito na Primavera britânica, as plantas e arbustos explodiram de folhas e flores, aumentando o seu volume de dia para dia, e as copas das grandes árvores encheram-se de folhas criando zonas de floresta-sombra fresca, escura e misteriosa.
(...)
Caro Ricardo, esta manhã acabei por me esquecer de lhe pedir/sugerir, mas agora vai: gostei muito de ler a sua descrição, quando voltar a sair para um dos seus passeios partilhe a paisagem. Vejo que se rendeu à bicicleta, as paisagens já partilhadas desses lados revelam um belo lugar. | |
| | | ricardo onga-ku Membro AAP
Mensagens : 6017 Data de inscrição : 02/01/2012 Localização : Terra d'Anglos...e Saxões
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sáb maio 09 2020, 20:11 | |
| - José Miguel escreveu:
- ricardo onga-ku escreveu:
- Desde o início do meu confinamento, a 18 de Março, apenas choveu 5 ou 6 dias, facto extraordinário para o RU.
Isso permitiu que almoçassemos na rua praticamente todos os dias; jantar nem sempre porque a temperatura por vezes cai até aos 5° C...
O bairro está repleto de passarada chilreante – chanpins, peitos-ruivos, pardais, melros, pegas, gralhas, pobos-bravos e, mais acima, milhafres e gaivotas - e de insectos - borboletas, abelhas e abelhões, vespas, joaninhas, aranhas, e outros seres cujo nome desconheço. Os esquilos despiram os seus grossos casacos de verão, os corços passeiam-se com as suas crias e os coelhos alimentam-se ao Sol nos prados. Como é hábito na Primavera britânica, as plantas e arbustos explodiram de folhas e flores, aumentando o seu volume de dia para dia, e as copas das grandes árvores encheram-se de folhas criando zonas de floresta-sombra fresca, escura e misteriosa.
(...)
Caro Ricardo, esta manhã acabei por me esquecer de lhe pedir/sugerir, mas agora vai: gostei muito de ler a sua descrição, quando voltar a sair para um dos seus passeios partilhe a paisagem.
Vejo que se rendeu à bicicleta, as paisagens já partilhadas desses lados revelam um belo lugar. Combinado. | |
| | | mannitheear Membro AAP
Mensagens : 1392 Data de inscrição : 01/08/2013
| Assunto: Re: Diario de um confinado ... Dom maio 10 2020, 00:12 | |
| Since the beginning of the Corona measures worldwide I had doubts that the political measures were not appropriate and the publication of the Heinsberg study seems to confirm that. https://www.uni-bonn.de/news/111-2020 - Citação :
- Prof. Hendrik Streeck: “Focus of the study is to determine the number of infected, and the infection fatality rate (IFR), which indicates the ratio of deaths in comparison to those infected. Based on the data, we could calculate for the first time that the IFR in the context of the SARS-CoV-2 outbreak is 0.37 percent. If corrected for additional factors, this figure varies between 0.24 and 0.43 percent. About 15 percent of all persons examined tested positive for SARS-CoV-2. The officially reported infection rate for the community of Gangelt at the time of the study was 3 percent. This means that the real number of infections in Gangelt is about 5-fold higher than the official number. Single-person as well as multi-person households were studied in order to analyse a family cluster effect. The study shows that the probability of infection of a study participant is independent of the household size the person lives in. However, in a household with at least one person infected, the probability of infection for the other persons increases over the average of 15 percent (e.g. the additional risk of infection in a 3-person household is approximately 20 percent). The infection rate in children, adults and elderly does not differ significantly. However, children had a lower infection rate, but due to the relatively low number of children in the study, we don´t know yet whether this difference is statistically significant. The study also demonstrates that participation in carnifal events (a super-spreading event) enhanced the infection rate and the number of symptoms.”
Don't get me wrong: I have no doubts that the virus can be very dangerous, but not for everyone. Healthy people with an intact immune system are not seriously threatened, the old people and the ones with health issues must be protected. But not like that. Since the restrictions are relaxed now in Germany it's getting more and more absurd. Schools are closed, except the final years which will reopen soon. Bathing lakes are closed and barbecues with others are not allowed - but the biggest theme and amusement park will open in two weeks! A smartphone app is provided by the park to ensure the security distances between the visitors and "trace infections". To achieve that goal they need some "personal data".... Perhaps it's a good time to remember or reread 1984 and "Brave new world". The doublethink is long reality and the role of media and press is very interesting. Most regulations are now in the responsibilities of federal states or towns which leads to an immense number of confusing rules beginning and ending at different dates, meanwhile no one seems to knows exactly what is allowed and what not... Today it was a summer day with 26 degrees and we made a canoe trip on the rhine - and since the border to France is in the middle of the water we were in France several times! The Rhine is mostly a tamed and regulated river but on this part of the right arm we had 12 km natural vegetation on both banks, it was quiet, we saw at least 4 breeding swans and countless other waterbirds. Next to the civilisation, cities, streets and the near highway there are still (or better: again) some traces of paradise, small places of nature, undisturbed by humans. This time has good things: since weeks I don't need an alarm clock in the morning, which I hate.... Today I read in the newspaper that the first approved Covid 19 cases en Alsace were at the beginning of November 2019, before the first reports from China. And many collegues and friends had long and persistent colds this year...
Última edição por mannitheear em Dom maio 10 2020, 09:40, editado 1 vez(es) | |
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