Assunto: Re: Diario de um confinado ... Dom maio 10 2020, 00:12
Since the beginning of the Corona measures worldwide I had doubts that the political measures were not appropriate and the publication of the Heinsberg study seems to confirm that.
https://www.uni-bonn.de/news/111-2020
Citação :
Prof. Hendrik Streeck: “Focus of the study is to determine the number of infected, and the infection fatality rate (IFR), which indicates the ratio of deaths in comparison to those infected. Based on the data, we could calculate for the first time that the IFR in the context of the SARS-CoV-2 outbreak is 0.37 percent. If corrected for additional factors, this figure varies between 0.24 and 0.43 percent. About 15 percent of all persons examined tested positive for SARS-CoV-2. The officially reported infection rate for the community of Gangelt at the time of the study was 3 percent. This means that the real number of infections in Gangelt is about 5-fold higher than the official number. Single-person as well as multi-person households were studied in order to analyse a family cluster effect. The study shows that the probability of infection of a study participant is independent of the household size the person lives in. However, in a household with at least one person infected, the probability of infection for the other persons increases over the average of 15 percent (e.g. the additional risk of infection in a 3-person household is approximately 20 percent). The infection rate in children, adults and elderly does not differ significantly. However, children had a lower infection rate, but due to the relatively low number of children in the study, we don´t know yet whether this difference is statistically significant. The study also demonstrates that participation in carnifal events (a super-spreading event) enhanced the infection rate and the number of symptoms.”
Don't get me wrong: I have no doubts that the virus can be very dangerous, but not for everyone. Healthy people with an intact immune system are not seriously threatened, the old people and the ones with health issues must be protected. But not like that.
Since the restrictions are relaxed now in Germany it's getting more and more absurd. Schools are closed, except the final years which will reopen soon. Bathing lakes are closed and barbecues with others are not allowed - but the biggest theme and amusement park will open in two weeks! A smartphone app is provided by the park to ensure the security distances between the visitors and "trace infections". To achieve that goal they need some "personal data"....
Perhaps it's a good time to remember or reread 1984 and "Brave new world". The doublethink is long reality and the role of media and press is very interesting.
Most regulations are now in the responsibilities of federal states or towns which leads to an immense number of confusing rules beginning and ending at different dates, meanwhile no one seems to knows exactly what is allowed and what not...
Today it was a summer day with 26 degrees and we made a canoe trip on the rhine - and since the border to France is in the middle of the water we were in France several times!
The Rhine is mostly a tamed and regulated river but on this part of the right arm we had 12 km natural vegetation on both banks, it was quiet, we saw at least 4 breeding swans and countless other waterbirds. Next to the civilisation, cities, streets and the near highway there are still (or better: again) some traces of paradise, small places of nature, undisturbed by humans.
This time has good things: since weeks I don't need an alarm clock in the morning, which I hate....
Today I read in the newspaper that the first approved Covid 19 cases en Alsace were at the beginning of November 2019, before the first reports from China. And many collegues and friends had long and persistent colds this year...
Última edição por mannitheear em Dom maio 10 2020, 09:40, editado 1 vez(es)
José Miguel Membro AAP
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Assunto: Re: Diario de um confinado ... Dom maio 10 2020, 09:03
mannitheear escreveu:
(...) Perhaps it's a good time to remember or reread 1984 and "Brave new world". The doublethink is long reality and the role of media and press is very interesting.
(...)
Hi there!
What you point here, was already pointed by other kind of studies. For example: https://www.publico.pt/2020/05/07/sociedade/noticia/covid19-estudo-revela-taxa-infeccao-loule-14-vezes-maior-testes-diagnostico-1915624
The news talk about a series of tests in one city, but others near Lisbon made similar ones. Door to door simple tests show us that the number of people who contacted with the virus is quite different. I think that everyone knew, most of us will be asymptomatic (the Alsace news are new to me…).
We need to work a lot to comprehend this virus and real (health and social) consequences, need to be careful with legislation or social acceptation of some conducts, what is temporary must stay as temporary.
The focus line of your intervention, to me, is the idea present above. It is quite difficult to understand some of this new need for “data”, the interference in private/personal life concern me.
We will not need to sit in front of the "telescreen", we have telephones with geo-localization.
TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Dom maio 10 2020, 15:20
A chuva convidou-se para o ultimo dia de confinamento. Nestes dois meses de isolamento social aprendi algumas coisas: Começei a apreciar os carros ... as estradas vazias estragam a paisagem para nada. Ouvir musica como ultimo recurso contra o tédio faz detestar essa bela arte. Sinto necessidade de ver as pessoas mesmo se não desejo lhes falar. Ter um jardim tém agumas avantagens ... sobretudo numa cadeia. Os mídias manipulam as pessoas e evitam a informação objectiva. Durante as pandemias ném mesmo os médicos estão de acordo. As pessoas gostam das férias mas não gostam de não fazer nada. Os amigos fazém falta quando estão ausentes ... muita falta. Os discos que vamos levar para uma ilha deserta é pura especulação ... nessa situação não vamos ouvir musica. Viver no campo é verdadeiramente uma porcaria. Aprendi a passear e até gosto dessa actividade ... sozinho e sém cruzar ninguém. Houve debate para interdir os arabes de usar véu e agora temos todos que tapar a cara. Durante um confinamento as pessoas engordam ... os prisioneiros deveriam ser todos obesos. O digital soa muito, mas muito melhor que o vinilo. As pandemias durante o inverno são mais açeitàveis do que na primavera. Não aprendi a fazer pão mas descobri uma magnifica receita de cake aux olives. Finalmente gosto tanto de vinho durante a epidemia que em tempo normal. Fazer a comer duas vezes por dia quando sò se come uma vez é chatissimo. As pessoas são mais simpàticas durante as crises. O verdadeiro inferno é viver 24 horas por dia com outra pessoa ... o trabalho evita os divorcios. Raramente vou ao bar mas vê-los fechados dà-me vontade de ir tomar uma imperial. A liberdade é tão importante quanto o amor, a paz e a saude. As pessoas são mais antipaticas durante as crises. Não partir de férias permite de comprar muitos discos. A gasolina é muito mais barata quando não precisamos de andar de carro. Todos falamos do que não sabemos e no fim ném sabemos do que estamos a falar ... os politicos também. A vaga de calor de 2003 matou mais pessoas num mês que o COVID19 em dois meses. Não sei ainda muito bem o que vou fazer com tudo isto que aprendi, mas amanhã vou fazer um churrasco com um amigo que chova ou não...
mannitheear Membro AAP
Mensagens : 1392 Data de inscrição : 01/08/2013
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Dom maio 10 2020, 16:58
TD124 escreveu:
A chuva convidou-se para o ultimo dia de confinamento. Nestes dois meses de isolamento social aprendi algumas coisas: Começei a apreciar os carros ... as estradas vazias estragam a paisagem para nada. Ouvir musica como ultimo recurso contra o tédio faz detestar essa bela arte. Sinto necessidade de ver as pessoas mesmo se não desejo lhes falar. Ter um jardim tém agumas avantagens ... sobretudo numa cadeia. Os mídias manipulam as pessoas e evitam a informação objectiva. Durante as pandemias ném mesmo os médicos estão de acordo. As pessoas gostam das férias mas não gostam de não fazer nada. Os amigos fazém falta quando estão ausentes ... muita falta. Os discos que vamos levar para uma ilha deserta é pura especulação ... nessa situação não vamos ouvir musica. Viver no campo é verdadeiramente uma porcaria. Aprendi a passear e até gosto dessa actividade ... sozinho e sém cruzar ninguém. Houve debate para interdir os arabes de usar véu e agora temos todos que tapar a cara. Durante um confinamento as pessoas engordam ... os prisioneiros deveriam ser todos obesos. O digital soa muito, mas muito melhor que o vinilo. As pandemias durante o inverno são mais açeitàveis do que na primavera. Não aprendi a fazer pão mas descobri uma magnifica receita de cake aux olives. Finalmente gosto tanto de vinho durante a epidemia que em tempo normal. Fazer a comer duas vezes por dia quando sò se come uma vez é chatissimo. As pessoas são mais simpàticas durante as crises. O verdadeiro inferno é viver 24 horas por dia com outra pessoa ... o trabalho evita os divorcios. Raramente vou ao bar mas vê-los fechados dà-me vontade de ir tomar uma imperial. A liberdade é tão importante quanto o amor, a paz e a saude. As pessoas são mais antipaticas durante as crises. Não partir de férias permite de comprar muitos discos. A gasolina é muito mais barata quando não precisamos de andar de carro. Todos falamos do que não sabemos e no fim ném sabemos do que estamos a falar ... os politicos também. A vaga de calor de 2003 matou mais pessoas num mês que o COVID19 em dois meses. Não sei ainda muito bem o que vou fazer com tudo isto que aprendi, mas amanhã vou fazer um churrasco com um amigo que chova ou não...
ricardo onga-ku Membro AAP
Mensagens : 6017 Data de inscrição : 02/01/2012 Localização : Terra d'Anglos...e Saxões
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Dom maio 10 2020, 17:00
Amigo Maior que o pensamento Por essa estrada amigo vem Não percas tempo que o vento É meu amigo também Não percas tempo que o vento É meu amigo também
Em terras Em todas as fronteiras Seja bem vindo quem vier por bem Se alguém houver que não queira Trá-lo contigo também Se alguém houver que não queira Trá-lo contigo também
Aqueles Aqueles que ficaram Em toda a parte todo o mundo tem Em toda a parte todo o mundo tem Em sonhos me visitaram Traz outro amigo também Em sonhos me visitaram Traz outro amigo também
Ghost4u Membro AAP
Mensagens : 14271 Data de inscrição : 13/07/2010 Localização : Ilhéu Chão
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Seg maio 11 2020, 00:07
Prezado TD124,
Votos de fraterno repasto com o seu amigo.
Com melhores cumprimentos,
José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Seg maio 11 2020, 12:24
Os frutos das marés fazem-se esperar.
Ele chegou à praia, antes de outra coisa, reteve-se a mirar o mar e o seu constante movimento. As ondas tinham formações imperfeitas, o vento fazia-se sentir moderadamente, o suficiente para as desarrumar. A maré estava a subir e essa era uma das razões para estar ali tão cedo, queria aproveitar a fase em que o mar se torna mais fértil e generoso. Rodou a cabeça para ambos os lados, os sinais mais próximos de vida vinham mesmo do Atlântico, aquele era o lugar para lançar as linhas.
O saco não estava muito pesado, os rasgos laterais, o fecho já sem função fruto do uso ao longo dos anos, permitiam o trato descuidado. Tirou as duas canas enquanto olhava para outro lado, queria perceber melhor o movimento desordenado das ondas. Montou a primeira, montou a segunda cana, colocou mais peso na ponta da linha. O isco era o de sempre, o tamanho do anzol revelava a intenção de procura de peixe graúdo. Olhou mais uma vez, tomou o peso dos chumbos, confiou e lançou ambas as linhas.
Reteve-se por instantes de pé, o primeiro lançamento não corre sempre bem, mas a sua experiência tinha-se revelado pertinente, uns bons metros dentro da zona de rebentação o anzol estaria no ponto certo. Sentiu o assalto de pensamentos contemporâneos, tentou combate-los com memórias que tinha guardadas e que o ligavam àquele lugar. O tempo é como as ondas ao sabor do vento, escapa ao controlo, desafia a lógica e todas as leis que conhecemos, a aparente repetição nunca o é de facto, contudo pode ser manuseado seguindo a experiência acumulada. A linha mantinha-se para lá da zona de rebentação, o peso fora bem escolhido. Sentou-se.
Ghost4u Membro AAP
Mensagens : 14271 Data de inscrição : 13/07/2010 Localização : Ilhéu Chão
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Seg maio 11 2020, 16:25
Fotografia decorada com bom texto.
José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Ter maio 12 2020, 13:21
Os frutos das marés fazem-se esperar – ii.
Uma boa ideia nunca surge numa só cabeça, pensou depois de ver que não estaria sozinho no baloiço do mar ao ritmo das ondas. Enquanto se aproximava do areal percebeu que a ordenação das ondas estava razoável, a presença do pontão fazia com que elas se orientassem para esquerda quando as experimentasse. Do outro lado do pontão, o seu ponto favorito, o mar estava demasiado calmo. O pontão mede uns poucos metros, observá-lo não é suficiente para encontrar a justificação para o estado das ondas nos dois lados, ele sabia que o fundo do mar e o vento participam mais do resultado final que aquele molho de pedras com forma fálica.
Enquanto fazia os exercícios de aquecimento era comum sentir-se assaltado por ideias soltas, acabava a projectar que lá no meio tudo mudaria e que encontraria paz, mas raramente era assim. Até quando deslizava nas ondas tendia a focar mais nas ideias do que nas acções, talvez esse fosse o pecado e a razão para não ter evoluído muito na prática daquele desporto. Sonhara viajar pelo mundo, conhecer as melhores ondas, aparecer em revistas, acabara a fazer parcialmente tudo isso, mas a prancha no dia-a-dia não lhe fazia companhia como no sonho.
Apertou o fato, calçou os pés de pato, correu naquela forma estranha até se poder atirar para a água. Mergulhou para passar a rebentação da primeira onda, deu aos braços para ultrapassar a que empinava logo a seguir, chegou ao lado de lá. O mar tem muitas faces, por vezes acolhe de forma pouco simpática, mas logo a seguir presenteia com a calma que poucos colos conseguem transmitir. Cumprimentou quem por ali estava e observou a regularidade com que as ondas chegavam. Para se apanhar a melhor é preciso ser paciente, mas quando se experimenta a tal permite-se que ela sirva de transporte até junto do areal.
TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Ter maio 12 2020, 17:28
José Miguel escreveu:
... Para se apanhar a melhor é preciso ser paciente, mas quando se experimenta a tal permite-se que ela sirva de transporte até junto do areal. ...
Pelo que compreendo andas a pescar e a fazer bodysurf para festejar o desconfinamento ... eu faço churrascos repetidos, ontém e daqui a bocado, bem regados que é assim que sabem bem
Vive la liberté
antpaubarcar Membro AAP
Mensagens : 1001 Data de inscrição : 20/12/2013
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Ter maio 12 2020, 18:35
TD124 escreveu:
José Miguel escreveu:
... Para se apanhar a melhor é preciso ser paciente, mas quando se experimenta a tal permite-se que ela sirva de transporte até junto do areal. ...
Pelo que compreendo andas a pescar e a fazer bodysurf para festejar o desconfinamento ... eu faço churrascos repetidos, ontém e daqui a bocado, bem regados que é assim que sabem bem
Vive la liberté
Ne pas oublier le bon vin
José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Qua maio 13 2020, 16:37
Os frutos das marés fazem-se esperar – iii.
A curiosidade matou o gato, mas mesmo consciente deste adágio questionava-se por que razão a figura do “velho do Restelo” era tão presente fosse qual fosse o tempo vivido. A paisagem onde o “velho” foi retratado era de horizonte largo, com certeza permitiria o sonho e foi atrás de sonhos que muitos partiram. Prometimentos não são mais do que sonhos travestidos, enfeitados de forma a se parecerem com realidade factual num futuro próximo. Partidos para a aventura, cada um dos navegadores apostou a sua vida, preço elevado a pagar por uma promessa de prémio que não seria transportável para outro mundo. A paisagem não é tudo, o “velho” não se deixou levar por ela, relata-nos o poeta, apontou mesmo o dedo aos que inebriados por ela e pelos sonhos seguiram em frente.
O tempo presente já passou, está sempre a passar e o melhor que conseguimos fazer é olhar para trás ou para a frente, tentar vislumbrar imagens de um agora que nos escapa. Se pelo menos o tempo tivesse um comando com dois botões, apenas dois já fariam toda a diferença. Parar e Andar. Que maravilhoso seria poder para o tempo e observar tudo quieto, à nossa mercê. Esta possibilidade permitiria analisar todas as circunstâncias, perspectivar melhor o futuro com mais informação. A análise poderia ser minuciosa, usada uma lupa ou um microscópio mental, acederíamos a tal informação que falhar seria praticamente impossível. Estava perante o mar e permitiu-se imaginar um cenário de pausa possível. Evitar molhar os pés pelo avanço da água resultante da grande onda que se aproximava seria fácil, não haveria distracção possível que o fizesse passar novamente o que passara uns instantes antes.
Ouviu uma voz chamar o seu nome, não a reconheceu imediatamente. O cenário de pausa foi interrompido e mesmo sem pressionar o botão de Andar tudo voltou ao ritmo certo. Perante a admiração que encontrava na face que o mirava, partilhou que estava absorvido nos seus próprios pensamentos. Apareceu um sorriso, afirmação de alguma condescendência, aproveitou para lançar uma pergunta: - A maré subiu mais hoje? A resposta não se demorou. - Não, tu é que andavas muito perto da água, eu estava a observar-te ali de cima. Admirou-se, não tinha consciência de tal facto, tinha apostado no facto da maré estar mais alta.
José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Qui maio 14 2020, 17:31
Os frutos das marés fazem-se esperar – iv.
Acordou com vontade de comer um petisco vindo do mar, lembrou-se dos peixinhos que costumam sobrar nas redes puxadas para o areal perto do bairro dos pescadores. Sabia que ao comprar estaria a infringir uma ou duas leis, estaria a alimentar um mau costume, mas uma saborosa tradição.
Preparou-se para sair de casa de forma algo precipitada, os ponteiros do relógio nunca são grandes amigos de planos urgentes. Este era um plano urgente porque nascido de uma vontade com a qual acordara, mas sem a qual se deitara. Não se tinha preparado, sabia que tinha de correr. Olhou-se ao espelho, arrumou o cabelo da melhor forma possível, ouviu o cuco tocar. Dirigiu-se para a porta de saída da casa, tinha lá três pares de sapatos seus. A fartura nem sempre é amiga, observou cada par, pensou para onde ia e que condições encontraria. Imediatamente descartou as sapatilhas mais coloridas, apesar de serem as mais leves e as que usava para correr. Seguiu com a inspecção aos dois pares que sobravam. As botas de cano baixo apresentavam-se como confortáveis a caminhar e com certeza bloqueariam a areia, impedindo que esta entrasse e causasse aquela sensação de que nada gosta. Ao lado estavam outras sapatilhas, menos coloridas, mas bastante confortáveis. A cor destas sapatilhas confundir-se-ia com a areia, mas não impediria que a cada passo entrassem grãos e mais grãos para baixo dos pés, causando a sensação que queria evitar. Decidiu-se pelas botas.
Saiu de casa e a cada passo lembrava-se que o tempo para garantir o petisco era curto, ele não deveria ser o único a sentir aquele tipo de desejo. A rua estava sossegada e conseguia ouvir cada um dos seus passos, há sapatos que gostam de se fazer notar, naquele momento lembravam o som do ponteiro do relógio de casa. Nunca havia comprado sapatos para se fazer notar, mas sempre que usava um par que provocava ruído ao caminhar pensava que não podia negar a natureza dos materiais. Ouvira dizer várias vezes que sapatos e relógios distinguiam os homens, não estava certo de que assim fosse, mas os sapatos mais formais tendiam a fazer mais barulho ao caminhar do que os sapatos informais como as sapatilhas. O troca passo lembrava mesmo o ponteiro do relógio. Um homem ocupado é sinal de boa coisa, no seu caso de petisco para o jantar.
Chegou à praia, viu o barco, não viu ninguém. Pensou que no dia seguinte teria outro tipo de sorte, começaria o dia mais cedo com a ajuda do despertador e à porta de casa deixaria apenas um par de sapatos.
reirato Membro AAP
Mensagens : 3642 Data de inscrição : 08/11/2010 Idade : 80 Localização : Stª Maria de Belém, Lisboa
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Qui maio 14 2020, 22:55
José Miguel escreveu:
Os frutos das marés fazem-se esperar – iv.
Acordou com vontade de comer um petisco vindo do mar, lembrou-se dos peixinhos que … … ...
Estes pesquei-os eu!... É servido!?…
José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sex maio 15 2020, 08:22
Desde que voltamos dos Açores, Faial, não pescamos mais... O fato mantém-seco e a cana desmontada. Resta-nos viver da Arte dos outros, caso queira partilhar, será sempre bem-vindo.
TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sex maio 15 2020, 11:48
José Miguel escreveu:
Os frutos das marés fazem-se esperar – iv.
Acordou com vontade de comer um petisco vindo do mar ...
È engraçado pois em françês o marisco chama-se "fruto do mar"
José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sex maio 15 2020, 18:33
TD124 escreveu:
José Miguel escreveu:
Os frutos das marés fazem-se esperar – iv.
Acordou com vontade de comer um petisco vindo do mar ...
È engraçado pois em françês o marisco chama-se "fruto do mar"
Aqui também se chama ao marisco "frutos do mar", mas eu coloquei petisco porque Espinho tem a tradição da Xávega - arrasto para a praia, por isso se vê esse barco no areal.
Queria colocar um último texto hoje, o quinto, mas já não consigo... aproveitei para esticar as pernas.
ricardo onga-ku Membro AAP
Mensagens : 6017 Data de inscrição : 02/01/2012 Localização : Terra d'Anglos...e Saxões
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sex maio 15 2020, 23:02
O rio Cherwell, ao pé de casa:
José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sáb maio 16 2020, 15:17
Bela imagem Ricardo, muito primaveril!
José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sáb maio 16 2020, 15:18
Os frutos das marés fazem-se esperar – v. (último)
Os grandes navios que via perto da linha de horizonte sempre o fascinaram, não apenas pelo tamanho, mas pelo que poderiam carregar. Enquanto estão longe, ao largo, a imagem desfocada permite à imaginação o mais fértil terreno, onde qualquer semente germina num instante. Naquele dia seguia sossegadamente na realização do seu exercício semanal, procurava recuperar de um largo período em que esteve retido em casa. O trajecto era mais ou menos plano, seguia a linha de costa, mas só quando chegou perto da praia com robustas formações rochosas é que percebeu que eles lá estavam. Abrandou, sentiu o impulso de parar, decidiu-se a fazê-lo assim que viu o corvo marítimo a esticar as asas.
Não se sentia cansado ou a precisar de esticar o esqueleto ao sol como o corvo marítimo estica as asas para as secar, mas voltou-se para o Atlântico e reteve-se a mirar. A imaginação não demorou muito a tomar conta de si, é incrível como a louca da casa depressa pega nas ideias e as desarruma. Os grandes navios poderiam trazer de tudo, dado o seu tamanho poderiam até trazer grandes soluções para todos os problemas. Há quem espere os navios pelas mais variadas razões, o desejo é quase tão potente como a imaginação, ficando-lhe atrás apenas por uns poucos usos efectivos da razão. A ave mantinha a posição.
ricardo onga-ku Membro AAP
Mensagens : 6017 Data de inscrição : 02/01/2012 Localização : Terra d'Anglos...e Saxões
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sáb maio 16 2020, 18:14
José Miguel escreveu:
Os frutos das marés fazem-se esperar – v. (último)
Os grandes navios que via perto da linha de horizonte sempre o fascinaram, não apenas pelo tamanho, mas pelo que poderiam carregar. Enquanto estão longe, ao largo, a imagem desfocada permite à imaginação o mais fértil terreno, onde qualquer semente germina num instante. Naquele dia seguia sossegadamente na realização do seu exercício semanal, procurava recuperar de um largo período em que esteve retido em casa. O trajecto era mais ou menos plano, seguia a linha de costa, mas só quando chegou perto da praia com robustas formações rochosas é que percebeu que eles lá estavam. Abrandou, sentiu o impulso de parar, decidiu-se a fazê-lo assim que viu o corvo marítimo a esticar as asas.
Não se sentia cansado ou a precisar de esticar o esqueleto ao sol como o corvo marítimo estica as asas para as secar, mas voltou-se para o Atlântico e reteve-se a mirar. A imaginação não demorou muito a tomar conta de si, é incrível como a louca da casa depressa pega nas ideias e as desarruma. Os grandes navios poderiam trazer de tudo, dado o seu tamanho poderiam até trazer grandes soluções para todos os problemas. Há quem espere os navios pelas mais variadas razões, o desejo é quase tão potente como a imaginação, ficando-lhe atrás apenas por uns poucos usos efectivos da razão. A ave mantinha a posição.
O mar fica longe daqui... A praia mais perto dista mais de 100km.
Eu sou mais montanhês e um apaixonado pelo deserto, mas à minha mulher o mar faz muita falta.
José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sáb maio 16 2020, 18:33
Deste lado nós voltamos para perto do mar, mais uma etapa da nossa vida, contudo a nossa paisagem favorita é a de rio... Alto Douro, por exemplo. É uma paisagem mais dinâmica. Esse é o Rio Zêzere, outra zona do país que merece a visita e longas caminhadas.
Esta tarde fui dar uma voltinha de bicicleta, retive-me por uns minutos perto do Ribeiro de Gaia:
É um cantinho sossegado, hoje um refúgio para evitar o sol.
Ghost4u Membro AAP
Mensagens : 14271 Data de inscrição : 13/07/2010 Localização : Ilhéu Chão
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sáb maio 16 2020, 19:21
Ainda assim, apesar do refúgio, a bicicleta ficou bronzeada.
José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sáb maio 16 2020, 19:23
Ghost4u escreveu:
Ainda assim, apesar do refúgio, a bicicleta ficou bronzeada.
Ela e eu... Estou com umas belas marcas.
ricardo onga-ku Membro AAP
Mensagens : 6017 Data de inscrição : 02/01/2012 Localização : Terra d'Anglos...e Saxões
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Dom maio 17 2020, 00:34
José Miguel escreveu:
Deste lado nós voltamos para perto do mar, mais uma etapa da nossa vida, contudo a nossa paisagem favorita é a de rio... Alto Douro, por exemplo. É uma paisagem mais dinâmica.
Muito bonito.
antpaubarcar Membro AAP
Mensagens : 1001 Data de inscrição : 20/12/2013
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Dom maio 17 2020, 11:26
Ghost4u escreveu:
Ainda assim, apesar do refúgio, a bicicleta ficou bronzeada.
Principalmente o selim
TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Dom maio 17 2020, 13:27
As vossas paisagens bucolicas lembram-me um pouco os caminhos que atravessam a minha aldeia e aonde ia passear durante o confinamento. Fui esticar as pernas com o meu filho antes do almoço e aproveitei para fazer algumas fotos. Dar a volta a estes atalhos dura mais ou menos uma hora...
Este caminho percorre os diferentes bairros da aldeia e permite de ir de um ponto a outro sém andar nos passeios ném ver os carros. O que pareçe ser uma ribeira seca é na realidade um colector de àgua da chuva que é recuperada em cada loteamento e concentrada neste canal. Mais longe fora da aldeia a àgua é tratada e armazenada e serve para a rega dos espaços verdes...
Vàrias pequenas pontes em pedra ou madeira cruzam esse canal e permitem de se dirigir para os diferentes loteamentos. A natureza està intacta e as casas não são visivéis através da vegetação o que dà a impressão de estar na natureza e não no meio de urbanizações...
Ultimamente choveu muito e em alguns sitios havia àgua que ainda escorria mas globalmente o canal està seco no verão. Não existém prédios aqui então as vivendas estão escondidas o que permite aos animais de se sentirem em segurança. Hoje vimos vàrios esquilos nas arvores e um porco espinho que bebia àgua...
Na aldeia existe um parque com corças e veados que é acessivel por estes caminhos. Os animais vivem em liberdade là dentro e é possivel de ir fazer piqueniques ou simplesmente passear com a condição de não perturbar os animais. Os pequenos veados vém ver as pessoas para que lhes déem guloseimas e brincar. O meu filho adorava ir ver esses "bambis" quando era mais pequeno...
José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Dom maio 17 2020, 15:14
Portugal vive a fase do "desconfinamento" faz um par de semanas, mas confesso que ainda não o sinto. Com isto não quero dizer que as pessoas não andam na rua, ainda ontem abreviei a minha volta de bicicleta pelo excesso de carros que se dirigiam para a zona do Senhor da Pedra - com certeza procurariam os gelados...
Hoje as pessoas aproveitam o sol e a praia já tem sinais visíveis de vida com todas as idades, o vento vindo de Norte ainda não nos permite pensar no Verão, mas a Primavera já se faz (finalmente) presente.
Amanhã mais portas vão abrir-se, estou curioso para ver o que se passará. Pode parecer um paradoxo, mas as pessoas que vejo nas ruas (sexta fui até Matosinhos de bicicleta e a imagem na marginal é sempre semelhante), não vejo a procurar os espaços interiores, as lojas ainda não estão a retomar as vendas de que precisam. Parece haver uma maior confiança no "andar ao ar livre". Pelo que vejo, a prática de exercício deve ter aumentado e as roupas encolheram... cada vez há mais pele visível.
Há uma outra imagem que vejo e que me deixa sempre pensativo: as filas no McDonald's. Na parte dedicada aos carros, há sempre motas dos serviços de entrega... nas minhas voltas passo no estabelecimento de São Felix da Marinha e não consigo evitar a admiração. Bem sei que não é algo exclusivo daqui, em outros países foram reportadas filas gigantescas assim que abriram estas lojas de comida.
As paisagens "verdejantes" são um bom rebuçado, essas Francesas e Inglesas são muito bem-vindas.
Ghost4u Membro AAP
Mensagens : 14271 Data de inscrição : 13/07/2010 Localização : Ilhéu Chão
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Dom maio 17 2020, 15:25
José Miguel escreveu:
(...) Estou com umas belas marcas.
Não será errado afirmar, que V. Ex.ª, é uma individualidade repleta de etiqueta.
ricardo onga-ku Membro AAP
Mensagens : 6017 Data de inscrição : 02/01/2012 Localização : Terra d'Anglos...e Saxões
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Dom maio 17 2020, 23:36
No domingo passada furei o pneu da minha bicicleta, primeiro furo desde que a comprei em 1998. Na sexta furei o pneu da bicicleta do meu filho mais velho. E as das lojas fechadas.
José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Seg maio 18 2020, 09:10
A Decathlon desses lados não faz entregas/envia para casa, não está a vender?
Por mero acaso, antes disto tudo começar pensei na troca de pneus e aproveitei para trocar as câmaras de ar. Os meus anteriores estavam a pedir descanso, não eram os melhores para andar por aqui. Esta bicicleta permite-me fazer "gravel", mas por estes lados não tenho muito por onde e troquei para uns mais estreitos.
Por falar em gravel...
Este ano o evento de gravel no Caramulo não deverá acontecer, mas foi ele que me levou à troca de bicicleta... Não é uma prova de competição, é uma reunião de pessoas que gostam de pedalar dentro e fora de estrada, organizado por apaixonados. O lugar merece ser explorado, mesmo fora do evento.
Quem não tiver bicicleta, pode passar na Velo Concept em Viseu, o Nelson saberá aconselhar, dar umas belas dicas. http://veloconcept.pt/
José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Seg maio 18 2020, 11:20
José Miguel escreveu:
TD124 escreveu:
José Miguel escreveu:
Os frutos das marés fazem-se esperar – iv.
Acordou com vontade de comer um petisco vindo do mar ...
È engraçado pois em françês o marisco chama-se "fruto do mar"
Aqui também se chama ao marisco "frutos do mar", mas eu coloquei petisco porque Espinho tem a tradição da Xávega - arrasto para a praia, por isso se vê esse barco no areal.
Queria colocar um último texto hoje, o quinto, mas já não consigo... aproveitei para esticar as pernas.
Hoje a Luciana apanhou a chegada do barco ao areal, eu a chegar ao trabalho avistei e avisei-a.
Por aqui até às segundas-feiras há peixe fresco - já temos jantar.
ricardo onga-ku Membro AAP
Mensagens : 6017 Data de inscrição : 02/01/2012 Localização : Terra d'Anglos...e Saxões
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Seg maio 18 2020, 11:25
José Miguel escreveu:
A Decathlon desses lados não faz entregas/envia para casa, não está a vender?
É o pneu traseiro em ambas as bicicletas. Para além de ser mais complicado, teria que o fazer no passeio ou atravessar a casa com as bicletas até ao quintal.
Mas descobri que há duas oficinas abertas, vou ver se me desenrascam.
Nuno Marques Membro AAP
Mensagens : 30 Data de inscrição : 07/02/2015 Idade : 49 Localização : Odivelas
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Seg maio 18 2020, 11:45
José Miguel escreveu:
José Miguel escreveu:
TD124 escreveu:
José Miguel escreveu:
Os frutos das marés fazem-se esperar – iv.
Acordou com vontade de comer um petisco vindo do mar ...
È engraçado pois em françês o marisco chama-se "fruto do mar"
Aqui também se chama ao marisco "frutos do mar", mas eu coloquei petisco porque Espinho tem a tradição da Xávega - arrasto para a praia, por isso se vê esse barco no areal.
Queria colocar um último texto hoje, o quinto, mas já não consigo... aproveitei para esticar as pernas.
Hoje a Luciana apanhou a chegada do barco ao areal, eu a chegar ao trabalho avistei e avisei-a.
Por aqui até às segundas-feiras há peixe fresco - já temos jantar.
Custa-me nesta altura ver estes senhores sem máscaras, quando muitos deles são de risco.
TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Qui maio 28 2020, 10:58
Faz duas semanas e meia que o desconfinamento começou em frança ... paradoxalmente nada e muito mudou nestes dois meses de dictadura sanitària, aparentemente ou não sò o futuro dirà. Pessoalmente estou contente de poder ver os amigos, de recomeçar a trabalhar quase normalmente e de ter uma autonomia de movimento, mesmo se é limitada num raio de 100Km. Habitualmente levo uma hora e meia para ir buscar o meu filho à sexta na casa da mãe e actualmente dura apenas 45mn pois apenas a metade dos carros circulam por causa do tele-trabalho ... isto é um ponto que aprecio. Deixei de ouvir sò os sons dos pàssaros e de novo a massa acustica da civilisação regressou e sinto-me novamente num meio urbano e não perdido no campo no meio da natureza ... isto também é um ponto positivo para mim. A paranoia do virus continua activa e ver todas as pessoas no supermercado com as mascaras na cara deixa-me um sentimento contrastado ... uma sensação de absurdo subsiste ainda em relação a esta crise sanitària. Chegou a hora das contas e com ela a caça às bruxas na esperança de encontrar responsàveis ou bodes expiatorios que possam envergar a capa da culpa, que esta seja alheia não é um problema, nunca foi. Està de regresso o gosto pela escuta de um album com um copo na mão, os churrascos ao meio-dia com os amigos, as grandes conversas labirinticas e animadas, comer à sombra no alpendre com um rosé bem fresco ou dar um mergulho entre 13 e 15 horas quando o sol està alto e queima bem. Durante o confinamento o tédio subjacente dàva-me vontade de cozinhar mas não de comer ... agora é o contràrio que se passa mas estamos na época das saladas, planchas e churrascos então não hà nada a preparar. Apòs algumas negociações e apesar da abertura das fronteiras para o verão, decidi-mos que este ano não vamos a portugal e que não teria sentido essa viagem ... mudar os habitos é sempre bom. Vamos aproveitar deste verão para fazer trabalhos em casa que adiamos todos os anos e para ir ver sitios e terras aqui à volta muito bonitos e que também adiamos jà hà muitos anos a visita. Como diz um dos meus amigos, hoje em dia vamos mais fàcilmente ver sitios situados a milhares de quilometros do que ao lado de onde vivemos, ora que a nossa região é deveras bonita ... talvez essa seja a mudança de imediato mais perceptivel. Entretanto como se pode ver pelas fotos a vida começa a ter outro sabor e mesmo se não é exactamente o de antes, jà é melhor do que o de ontém...
mannitheear Membro AAP
Mensagens : 1392 Data de inscrição : 01/08/2013
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Qui maio 28 2020, 20:25
Paulo, you speak from my soul!
On Saturday we'll start the camping season - here in Germany! Hope I'll feel less irreal and more alive then because the mood is still somewhat fogged.
antpaubarcar Membro AAP
Mensagens : 1001 Data de inscrição : 20/12/2013
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sex maio 29 2020, 09:30
TD124 escreveu:
Faz duas semanas e meia que o desconfinamento começou em frança ... paradoxalmente nada e muito mudou nestes dois meses de dictadura sanitària, aparentemente ou não sò o futuro dirà. Pessoalmente estou contente de poder ver os amigos, de recomeçar a trabalhar quase normalmente e de ter uma autonomia de movimento, mesmo se é limitada num raio de 100Km. Habitualmente levo uma hora e meia para ir buscar o meu filho à sexta na casa da mãe e actualmente dura apenas 45mn pois apenas a metade dos carros circulam por causa do tele-trabalho ... isto é um ponto que aprecio. Deixei de ouvir sò os sons dos pàssaros e de novo a massa acustica da civilisação regressou e sinto-me novamente num meio urbano e não perdido no campo no meio da natureza ... isto também é um ponto positivo para mim. A paranoia do virus continua activa e ver todas as pessoas no supermercado com as mascaras na cara deixa-me um sentimento contrastado ... uma sensação de absurdo subsiste ainda em relação a esta crise sanitària. Chegou a hora das contas e com ela a caça às bruxas na esperança de encontrar responsàveis ou bodes expiatorios que possam envergar a capa da culpa, que esta seja alheia não é um problema, nunca foi. Està de regresso o gosto pela escuta de um album com um copo na mão, os churrascos ao meio-dia com os amigos, as grandes conversas labirinticas e animadas, comer à sombra no alpendre com um rosé bem fresco ou dar um mergulho entre 13 e 15 horas quando o sol està alto e queima bem. Durante o confinamento o tédio subjacente dàva-me vontade de cozinhar mas não de comer ... agora é o contràrio que se passa mas estamos na época das saladas, planchas e churrascos então não hà nada a preparar. Apòs algumas negociações e apesar da abertura das fronteiras para o verão, decidi-mos que este ano não vamos a portugal e que não teria sentido essa viagem ... mudar os habitos é sempre bom. Vamos aproveitar deste verão para fazer trabalhos em casa que adiamos todos os anos e para ir ver sitios e terras aqui à volta muito bonitos e que também adiamos jà hà muitos anos a visita. Como diz um dos meus amigos, hoje em dia vamos mais fàcilmente ver sitios situados a milhares de quilometros do que ao lado de onde vivemos, ora que a nossa região é deveras bonita ... talvez essa seja a mudança de imediato mais perceptivel. Entretanto como se pode ver pelas fotos a vida começa a ter outro sabor e mesmo se não é exactamente o de antes, jà é melhor do que o de ontém...
Belíssimas fotos e montagem, só falta o quadrado para por o pisco do ''não sou robó''
TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sex maio 29 2020, 10:48
O caràcter excepcional desta crise sanitària que nos meteu em gaiola durante dois meses sò poderia ter como contraponto um excepcional regresso à liberdade individual. Foi o que decidimos entre amigos e que se concretizou exactamente hà uma semana atràs. Aproveità-mos da primeira oportunidade disponivel apòs estes dois meses de dieta para fazer uma jornada tertulia à volta da musica, comida, vinho, audio e obviamente do nosso reencontro...
Um amigo que é um verdadeiro chef de cuisine tratou da ementa com foie-gras abafado em entrada e perna de cordeiro espetada com alho no forno acompanhada com um gratin dauphinois! Para a ocasião um amigo levou os seus blocos de amplificação anTiTon para substituir os residentes Manley a vàlvulas e um novo streamer estreava-se na casa do nosso anfitrião. Afim de acentuar o caracter unico desse dia os vinhos escolhidos foram absolutamente excepcionais, um momento unico que tinha-mos vontade de viver juntos...
A organisação dos vinhos fez-se da seguinte maneira com as esposas bebendo "quase" exclusivamente Champagne Rosé e Blanc de Blancs:
1° Abertura com um vinho branco prestigioso da nossa região que é o Mas Jullien, neste caso de 2009 então com 11 anos de idade ele brindou-nos com aromas florais intensos, grande profundura e persistência na boca e um final mineral e amanteigado ... excelente para preparar a boca!
2° Desde o segundo vinho quatro patamares foram subidos e atacà-mos um mitico e mistico Clos des Mouches em 2011. Este vinho que tém como DOC Beaune 1er Cru é um borgonha branco de uma pureza excepcional. Na boca os aromas de flores brancas eram dominados pelos aromas de cogumelos e pimenta branca com final persistente e que se acabava num final amanteigado criando uma constinuidade do primeiro vinho...
3° Se o segundo vinho é algo que um amador de vinhos vai beber raramente na sua vida em frança, este vinho então com (muita) sorte vamos beber sòmente uma vez na vida. Um Bâtard-Montrachet Grand Cru de 1959 esperou 61 anos na sua garrafa por este dia, longevidade excepcional para um vinho branco não fortificado e que mostra a grandeza dos grandes borgonha. Pureza dos aromas florais complétamente integrados na elegante estructura amanteigada. Persistência aromatica que aumenta na boca e dà a sensação de evoluir durante a degustação. Uma classe sém limites e um dos mais belos brancos que provei ... um vinho mistico que fez honra ao foie-gras, ou o contràrio!
4° Com o cordeiro abri-mos o melhor tinto da nossa região, que é dificil a encontrar mesmo aqui. Com 17 anos de idade o tempo jà tinha começado o seu trabalho de amelhoração. Taninos suaves e sedosos e aromas de floresta combinaram maravilhosamente com o prato e os queijos...
5° Por fim um velhissimo Tawny tratou do Roquefort e dos charutos no fim do almoço. Muito elegante com aromas de nozes e baunilha...
Aqui diz-se que sò as coisas boas fazém esqueçer as màs ... este dia prova isso!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
antpaubarcar Membro AAP
Mensagens : 1001 Data de inscrição : 20/12/2013
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sex maio 29 2020, 11:09
TD124 escreveu:
O caràcter excepcional desta crise sanitària que nos meteu em gaiola durante dois meses sò poderia ter como contraponto um excepcional regresso à liberdade individual. Foi o que decidimos entre amigos e que se concretizou exactamente hà uma semana atràs. Aproveità-mos da primeira oportunidade disponivel apòs estes dois meses de dieta para fazer uma jornada tertulia à volta da musica, comida, vinho, audio e obviamente do nosso reencontro...
Um amigo que é um verdadeiro chef de cuisine tratou da ementa com foie-gras abafado em entrada e perna de cordeiro espetada com alho no forno acompanhada com um gratin dauphinois! Para a ocasião um amigo levou os seus blocos de amplificação anTiTon para substituir os residentes Manley a vàlvulas e um novo streamer estreava-se na casa do nosso anfitrião. Afim de acentuar o caracter unico desse dia os vinhos escolhidos foram absolutamente excepcionais, um momento unico que tinha-mos vontade de viver juntos...
A organisação dos vinhos fez-se da seguinte maneira com as esposas bebendo "quase" exclusivamente Champagne Rosé e Blanc de Blancs:
1° Abertura com um vinho branco prestigioso da nossa região que é o Mas Jullien, neste caso de 2009 então com 11 anos de idade ele brindou-nos com aromas florais intensos, grande profundura e persistência na boca e um final mineral e amanteigado ... excelente para preparar a boca!
2° Desde o segundo vinho quatro patamares foram subidos e atacà-mos um mitico e mistico Clos des Mouches em 2011. Este vinho que tém como DOC Beaune 1er Cru é um borgonha branco de uma pureza excepcional. Na boca os aromas de flores brancas eram dominados pelos aromas de cogumelos e pimenta branca com final persistente e que se acabava num final amanteigado criando uma constinuidade do primeiro vinho...
3° Se o segundo vinho é algo que um amador de vinhos vai beber raramente na sua vida em frança, este vinho então com (muita) sorte vamos beber sòmente uma vez na vida. Um Bâtard-Montrachet Grand Cru de 1959 esperou 61 anos na sua garrafa por este dia, longevidade excepcional para um vinho branco não fortificado e que mostra a grandeza dos grandes borgonha. Pureza dos aromas florais complétamente integrados na elegante estructura amanteigada. Persistência aromatica que aumenta na boca e dà a sensação de evoluir durante a degustação. Uma classe sém limites e um dos mais belos brancos que provei ... um vinho mistico que fez honra ao foie-gras, ou o contràrio!
4° Com o cordeiro abri-mos o melhor tinto da nossa região, que é dificil a encontrar mesmo aqui. Com 17 anos de idade o tempo jà tinha começado o seu trabalho de amelhoração. Taninos suaves e sedosos e aromas de floresta combinaram maravilhosamente com o prato e os queijos...
5° Por fim um velhissimo Tawny tratou do Roquefort e dos charutos no fim do almoço. Muito elegante com aromas de nozes e baunilha...
Aqui diz-se que sò as coisas boas fazém esqueçer as màs ... este dia prova isso!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Se as fotos já eram de chorar por mais a descrição do repasto e da rega nem sei como qualificar...acho que quem vai pagar as favas a pescada do cabo que tinha previsto fazer cozida com todos
Ghost4u Membro AAP
Mensagens : 14271 Data de inscrição : 13/07/2010 Localização : Ilhéu Chão
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sex maio 29 2020, 12:20
Gosto de "lanternas" Manley. Mas, esse Porto Branco é delicioso! Vai bem com amplificação de estado sólido ou de luzinhas. Por aqui, um grupo de amigos marretas, aguarda a oportunidade de se juntar para confraternizar.
TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sex maio 29 2020, 15:45
antpaubarcar escreveu:
... Se as fotos já eram de chorar por mais a descrição do repasto e da rega nem sei como qualificar...
Ghost4u escreveu:
... Por aqui, um grupo de amigos marretas, aguarda a oportunidade de se juntar para confraternizar.
Caros amigos, aqui o desconfinamento progressa com resultados agradàveis! Estas fotos foram feitas ao meio-dia com um amigo e provam que a normalidade està a ganhar terreno, devagarinho mas com consistência...
Caro antpaubarcar, não lhe posso assegurar de provar as mesmas pingas se um dia vier por aqui ... mas asseguro que haverà o suficiente para lhe deixar uma recordação repleta de bem estar e alegria !!!...
Amigo Ghost4u, apesar de estar contente de não repetir este ano a monotona viagem às terras lusas que pratico desde hà trinta anos ... uma tristeza subsiste portanto. O nosso encontro no ano passado na casa do Gonçalo acendeu a minha estadia e irradiou no meu espirito ... encontrei amigos e tal é inesquecivel! Alimentei no meu espirito que tal fosse possivel de repetir este ano e essa ideia inspirava-me nessa nova odisseia. Mas, o mundo é grande e bonito e o caminho entre o ponto A e B é o mesmo nos dois sentidos. Sinta-se à vontade para vir descobrir com as pérolas que formam a sua familia uma das belas regiões deste velho pais que é a Gàlia do sul. Encontrarà nestas terras longinquas algo que lhe ferà se sentir em casa, pois coração e amizade estarão presentes. Mesmo um ser imaterial necessita de algo, ora creio que um bom disco com o repasto adequado e devidamente regado numa atmosfera acolhedora ... pode alimentar um fantasma de onde quer que ele venha! Fica a ideia e o convite aberto...
PS: Espero que o grupo dos amigos marretas se reuna desde possivel! Aqui e mesmo longe, abrirei nesse dia uma bela garrafa com um profundo pensamento de amizade em relação a voçês ... e apesar da distância e da tristeza da ausência estarei contente por voçês, e por vos conheçer
José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sex maio 29 2020, 19:50
O desenvolvimento deste tópico escapou-me, não sei por que razão deixei de receber as notificações... Contudo isto está bonito!
Não conheço nenhum dos vinhos referidos, fiquei curioso com os "velhotes", principalmente o Branco de 1959 (possa, bem antigo para branco).
Esse Dow's escapa-me, gosto da casa, mas esse nunca tinha visto - o de 2018 promete!
Ontem dediquei-me ao passeio, fui visitar familia e amigos... Mas de bicicleta.
Não comi um Jesuíta, mas depois de 123km a pedalar (ida e volta), também abrimos um vinho, um Burmester Branco 2018.
TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sáb maio 30 2020, 09:57
José Miguel escreveu:
... Esse Dow's escapa-me, gosto da casa, mas esse nunca tinha visto - o de 2018 promete! ...
O Porto que bebemos era um Tawny branco que foi engarrafado em frança pela Cave du Patriarche na Borgonha em 1955. A partir de uma pipa de 550 litros originària da Dow's foram feitas 720 garrafas deste Porto...
Para mim ele jà estava na fase descendente e não nos brindou com a força e persistência que teve hà anos atràs certamente. Trata-se de um Tawny e não de um Vintage então a qualidade para um vinho de mesa não é comparàvel. Sendo eu um aficionado dos Vintages da Quinta do Noval e de Fonseca Guimarães achei este vinho demasiado feminino, subtil mas sém profundura explicando que o Roquefort e o charuto esmagaram os seus aromas e consistência, foi pena...
antpaubarcar Membro AAP
Mensagens : 1001 Data de inscrição : 20/12/2013
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sáb maio 30 2020, 10:48
TD124 escreveu:
antpaubarcar escreveu:
... Se as fotos já eram de chorar por mais a descrição do repasto e da rega nem sei como qualificar...
Caro antpaubarcar, não lhe posso assegurar de provar as mesmas pingas se um dia vier por aqui ... mas asseguro que haverà o suficiente para lhe deixar uma recordação repleta de bem estar e alegria !!!...
Caro TD 124, obrigado, nunca se sabe o que o futuro nos reserva!
antpaubarcar Membro AAP
Mensagens : 1001 Data de inscrição : 20/12/2013
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sáb maio 30 2020, 10:50
José Miguel escreveu:
O desenvolvimento deste tópico escapou-me, não sei por que razão deixei de receber as notificações... Contudo isto está bonito!
Não conheço nenhum dos vinhos referidos, fiquei curioso com os "velhotes", principalmente o Branco de 1959 (possa, bem antigo para branco).
Esse Dow's escapa-me, gosto da casa, mas esse nunca tinha visto - o de 2018 promete!
Ontem dediquei-me ao passeio, fui visitar familia e amigos... Mas de bicicleta.
Não comi um Jesuíta, mas depois de 123km a pedalar (ida e volta), também abrimos um vinho, um Burmester Branco 2018.
Nem ao menos um limonete, inadmissível
José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Sáb maio 30 2020, 11:05
antpaubarcar escreveu:
Nem ao menos um limonete, inadmissível
Nem fui à Moura... pensei ir lá antes de seguir para o almoço em casa dos meus pais, mas lá os doces devem ser evitados.
Agora é mais fácil comer os doces da Moura, no Mercado de Bom Sucesso tem o "balcão" e vem tudo de Santo Tirso.
Para estar com a "malta", as esplanadas escolhidas são outras.
TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Qui Jun 04 2020, 13:48
Antes de ontém recebi alguns amigos afim de festejar a nossa reunião mensual que foi interrompida pelo confinamento ... pelas fotos vê-se que o desconfinamento avança bem por estes lados! Ao menu estava previsto uma Paëlla, mas não de qualquer maneira, foi feita à moda de Valência no fogo de lenha como diz a tradição. Desde a manhã com o meu colega de cozinha, jà com o calor primaveril e acompanhados por um copo de Rosé para combater a desidratação ... cortà-mos os pimentos, a carne de porco de frango e de coelho, as lulas, as cebolas o feijão verde as ervilhas e alhos e acendemos o lume devagarinho. Enquanto a madeira começava a rubrar e acompanhados pela musica do Monteverdi abri-mos um Pêra-Manca branco, aqui chama-se a isto a parte do cozinheiro "la part du chef". Com as chamas jà altas, toca a refogar violentamente no azeite da estremadura os pimentos, as carnes, as lulas e enfim o resto dos legumes que foram reservados. Durante o segundo copo do Pêra-Manca quatro quilos de mexilhão do mediterrâneo foram cozinhados com pimentos, alho, cebola e um pouco de vinho branco para serem servidos mornos ao aperitivo com chorizo e tortilla de patatas. Ao meio dia quando os outros chegaram jà podiamos começar a cozinhar a Paëlla e a abrir os outros vinhos que cada um trouxe...
A Paêlla foi cozinhada na àgua dos mexilhões com o caldo de tomate, as especiarias e com arroz bomba com lume muito brando para que reçeba o gosto do fumo da madeira. A musica desviou para outros horizontes e uma grande degustação dos vinhos começou para saber a ordem de serviço. Um magnifico Ribera del Duero e um imenso Pomerol de 2003 foram os eleitos para começar as hostilidades. Um Fino de Xerez fechou a Paëlla antes de passar a um queijo manchego bem curado que era de se lhe tirar o chapéu. Os outros vinhos jà na parte da tarde foram acompanhados por azeitonas e chouriço em petisco. Um belo dia que se acabou jà tarde pela noite e com as esposas aonde o resto da Paëlla foi consumida. Um belo dia que assina o fim do desconfinamento da mais bela das maneiras...
José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Qui Jun 04 2020, 14:02
E eu a pensar que hoje tinha passado bem a manhã... A namorar o Porto desde uma esplanada em Gaia.
Possa, estou a preparar o meu almoço e já só penso nesse.
reirato Membro AAP
Mensagens : 3642 Data de inscrição : 08/11/2010 Idade : 80 Localização : Stª Maria de Belém, Lisboa
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Qui Jun 04 2020, 17:13
TD124 escreveu:
… … O Porto que bebemos era um Tawny branco que … … ...
Mas, perdão… Tawny branco!? … Esse está a escapar-me
antpaubarcar Membro AAP
Mensagens : 1001 Data de inscrição : 20/12/2013
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Qui Jun 04 2020, 18:48
reirato escreveu:
TD124 escreveu:
… … O Porto que bebemos era um Tawny branco que … … ...
Mas, perdão… Tawny branco!? … Esse está a escapar-me
Wikipédia dixit:
''Os Tawny são também vinhos tintos, feitos aliás das mesmas uvas que os Ruby, mas que apenas envelhecem dois a três anos nos balseiros, passando depois para as pipas de 550 litros. Estas permitem um mais elevado contacto do vinho com a madeira e daí com o ar. Assim os Tawny respiram mais, oxidando e envelhecendo rapidamente. Devido à elevada oxidação os Tawny perdem a cor inicial dos vinhos tintos, ganhando tons mais claros como o âmbar, e sabores a frutos secos como as nozes ou as amêndoas. Com a idade os Tawny ganham ainda mais complexidade aromática, enriquecend…''
Alexandre Vieira Membro AAP
Mensagens : 8560 Data de inscrição : 11/01/2013 Idade : 54 Localização : The Other Band
Assunto: Re: Diario de um confinado ... Qui Jun 04 2020, 20:06