A rodar XLIV

O termo Post-Rock perdeu uma grande parte da sua pertinência com o tempo simplesmente porque o estilo hoje engloba grupos como os Rachel's, Tortoise, Mogwai ou Esmerine … que pouco ou nada téem estilisticamente e musicalmente em comum. O grupo Hala Strana também nada tém em comum com os grupos citados ou com qualquer outro … fora com os diversos heteronimos do guitarrista Steven R Smith, pois Hala Strana é simplesmente mais uma das suas inumeras identidades. Quase todos os instrumentos (glockenspiel, harmonium, orgão, piano, guitarras, melodica …) são tocados por ele num espirito que poderia ser aparentado ao Folk Psicadelico. Desde as primeiras notas o auditor sente-se nas montanhas da Transilvania ou numa das republicas do norte da Jugoslávia … ou mesmo na Moldàvia! Esta musica de aparência e de sabor folclorica é na realidade um virtuoso disco de rock, de Post mesmo. A complexidade ritmica e harmonica é permanente e permite de desenhar uma recta entre o foot-tapping do math-rock e as harmonias hipnoticas da musica popular do centro/leste da Europa. O resultado é vertiginoso de audàcia e impressiona pela amplitude monumental do trabalho realisado. Isto escuta-se como um disco de rock, como uma obra folk e ao mesmo tempo como uma obra psicadelica ou ainda minimalista, tanto o aspecto tentacular desta musica oscila entre fusão e dispersão. Uma obra que alterna sob uma aparente simplicidade sonoridades rugosas, rusticas, minimalistas, delicadas. Um disco de Post-Rock intenso, imenso e fundamental nmho …

Tal um equilibrista a arte do Nils Petter Molvaer oscila sempre entre matéria orgânica e sintética. O toque feltrado do seu trompete (à la Miles…) é transmutado pelos efeitos electronicos e reconhecivel entre todos. De novo o gigante norueguês toma um novo caminho com este disco … questão de personalidade, mas de exigência artistica também pois o nosso homém sabe que a arte alimenta-se da audàcia, não da repetição. A slide-guitar é o instrumento central deste disco e à volta dela rodopia a trompete, percussão, hyper-piano assim que os efeitos electronicos do Jon Marius Aareskjold. Album de atmosferas e de grandes espaços o "Switch" desenha paisagens feitas de ritmos potentes, harmonias asiaticas ou orientais e evidentemente americana … sempre em equilibrio(s). Se o clima contemplativo do album é preponderante, isto é feito simplesmente afim de melhor ressentir os momentos de dinamica, de contraste. Uma obra complexa e exigente que ultrapassa a etiqueta habitual do Modern Jazz e instala uma estética sonora que rivalisa com as melhores realisações da ECM ...

A historia da arte revelou sempre um dualismo entre a criação intelectual e a espontânea … dando mesmo a pensar que as duas formas seriam incompativeis. Um dos elementos mais fascinantes na musica da Bjork é a maneira como estas duas pulsões estão en unissono … pois naturais e complementares. O album "Homogenic" continua a ser uma das obras mais ambiciosas da islandesa mas ao mesmo tempo é o melhor exemplo do que venho de dizer. Nesta obra monumental, épica e tentacular tudo é questão de simbolo(s), de detalhe(s) mas sobretudo de sentimentos intensos, viscerais … à flor da pele! Esta visão holistica da musica e por extensão da existência apareçe aqui como, ou com uma evidência devastadora. Ao virar da esqina que separa o XX do XXI século (1997) a Bjork dà uma lição de Musica Total aos seus contemporaneos e dispara à queima-roupa nos dogmas da musica moderna: A musica electronica é desumana, a musica clàssica é incompativel com a electronica, a musica escandinava é conceptual, a sensibilidade nordica é sintética … tudo isto pareçe ridiculo hoje, ultrapassado. Com este album a islandesa varre a porta de todo o lixo critico que vestia a musica electronica e leva-a até niveis de aceitação mundial que esta nunca tinha atingido. Um novo século pode começar !...

Decorria a Primavera de 1991, quando Maria João, em território tedesco, registou temas tradicionais lusitanos e brasílicos, demonstrando os dotes do seu instrumento vocal, acompanhada do Grupo Cal Viva (Mário Laginha: piano; José Peixoto: guitarra; Ermenio de Melo: guitarra portuguesa; Carlos Bica: contrabaixo; José Salgueiro: bateria e percussão). Em alguns temas, a estrutura interpretativa tem semelhanças com Patricia Barber. Curioso...

Por serem raros os álbuns que convidam a ouvir Pat Metheny, não considero que a individualidade que reveste o meu esqueleto, seja apreciadora da obra desse guitarrista e compositor. «Still life (talking)», editado à 32 anos, onde são notórias pinceladas sonoras com as cores do Brasil, é excepção ao meu parecer.