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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptyDom Jan 02 2022, 12:29

Zé Carlos escreveu:
Na Inglaterra o vinyl já é quase um terço das vendas....recuperando os números de 30 anos atrás.

Não é mais uma moda passageira. É algo que voltou para se afirmar como um formato provavelmente definitivo.

https://www.nme.com/news/music/vinyl-record-sales-in-2021-at-highest-level-for-30-years-3127074

È sempre dificil de predizer o futuro... nasci com o vinil, vi-o agonisar, morrer comercialmente e enfim renascer como um fenix, talvez mesmo de uma maneira duradoura como voçê diz...

Se o vinil atingir uma forma de simbolo como o relogio mecânico e representar uma forma de equilibrio ideologico entre a leitura mecânica e digital (como os relogios) é possivel que a moda se torne em disciplina e que possa durar, mas...

Em termos de qualidade do audio seria uma regressão evidente. Pelo que sei, um relogio mecanico de qualidade avança ou atrasa de uns segundos em relação a um quartzo e este faz a mesma coisa em relação a um atomico... são diferenças de algibeira que justificam os esforços nmho! Em contrapartida a diferença qualitativa entre o vinil e o digital é enorme e mesmo com todos os esforços imaginàveis os dois mundos não podem se aproximar muito pois o principio do vinil é por demasiado limitado... foi o melhor possivel na sua época mas as suas limitações são por demasiado flagrantes, é uma tecnologia de entretimento e não de fidelidade...

Em termos de mercado da musica seria igualmente absurdo! A especulação à volta do vinil està num auge e é alimentada artificialmente, conheço pessoas que os deixam embalados (mint) na esperança de ir ganhar uns tostões, ou muito, na discogs! Esta especulação absurda à volta de um pedaço de plastico e de cartão, pois nada é de outro, é boa para os negocios mas duvido que o seja para a sociedade e mesmo para os artistas...

Actualmente esse formato ajuda os artistas a ganhar um pouco mais e isso é bom mas sabemos que o modelo de distribuição do streaming vai ter que evoluir para se tornar mais justo... serà também aos musicos e casas de edição a encontrar novos modelos de comercio mais equilibrados e adaptados às novas tecnologias! Se inspirar do passado pode ser bom às vezes e mesmo uma boa maneira de se projectar no futuro mas... no caso do vinil existe um fundo absurdo e impotente pois é a escolha do mau! Não diria isto do gravador de bobines...
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptyDom Jan 02 2022, 13:44

TD124 escreveu:
Zé Carlos escreveu:
Na Inglaterra o vinyl já é quase um terço das vendas....recuperando os números de 30 anos atrás.

Não é mais uma moda passageira. É algo que voltou para se afirmar como um formato provavelmente definitivo.

https://www.nme.com/news/music/vinyl-record-sales-in-2021-at-highest-level-for-30-years-3127074

È sempre dificil de predizer o futuro... nasci com o vinil, vi-o agonisar, morrer comercialmente e enfim renascer como um fenix, talvez mesmo de uma maneira duradoura como voçê diz...

Se o vinil atingir uma forma de simbolo como o relogio mecânico e representar uma forma de equilibrio ideologico entre a leitura mecânica e digital (como os relogios) é possivel que a moda se torne em disciplina e que possa durar, mas...

Em termos de qualidade do audio seria uma regressão evidente. Pelo que sei, um relogio mecanico de qualidade avança ou atrasa de uns segundos em relação a um quartzo e este faz a mesma coisa em relação a um atomico... são diferenças de algibeira que justificam os esforços nmho! Em contrapartida a diferença qualitativa entre o vinil e o digital é enorme e mesmo com todos os esforços imaginàveis os dois mundos não podem se aproximar muito pois o principio do vinil é por demasiado limitado... foi o melhor possivel na sua época mas as suas limitações são por demasiado flagrantes, é uma tecnologia de entretimento e não de fidelidade...

Em termos de mercado da musica seria igualmente absurdo! A especulação à volta do vinil està num auge e é alimentada artificialmente, conheço pessoas que os deixam embalados (mint) na esperança de ir ganhar uns tostões, ou muito, na discogs! Esta especulação absurda à volta de um pedaço de plastico e de cartão, pois nada é de outro, é boa para os negocios mas duvido que o seja para a sociedade e mesmo para os artistas...

Actualmente esse formato ajuda os artistas a ganhar um pouco mais e isso é bom mas sabemos que o modelo de distribuição do streaming vai ter que evoluir para se tornar mais justo... serà também aos musicos e casas de edição a encontrar novos modelos de comercio mais equilibrados e adaptados às novas tecnologias! Se inspirar do passado pode ser bom às vezes e mesmo uma boa maneira de se projectar no futuro mas... no caso do vinil existe um fundo absurdo e impotente pois é a escolha do mau! Não diria isto do gravador de bobines...


Subscrevo integralmente que se está atingir o absurdo nos preços. E até que muitos dos vinis estão a ser negociados pelos mesmos especuladores que o fazem com crypto-moedas. Li um artigo faz pouco tempo num site de economia que dava conta disso mesmo. Mas num mundo em que é tudo virtual não é interessante que esta nova geração se tenha interessa por algo táctil? Eu penso honestamente que é uma moda, tanto mais que os preços dos gira-discos vintage começam a descer, mas foi ótima para a própria evolução do som do vinil. Nunca se fizeram pré-phonos tão bons como hoje em dia pelo preço que nos pedem, o que contribuiu imenso para a "evolução" do som do vinil. Mas como dizes e bem existem formatos melhore se o nosso objectivo for para além do entretimento.
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptyDom Jan 02 2022, 14:50

A questão dos preços é sinal só que há escassez no mercado, é sempre assim em tudo.

Quanto ao sucesso do regresso do Vinyl, porque é obviamente de um sucesso que estamos a falar penso que ele é a prova do que disse noutro post não me recordando se foi neste tópico.

Há um forma muito diferente de abordar a música.
Como mero "alimento" musical tipo Macdonalds e aí o Spotify da vida é óptimo pois pode até ser de borla e há uma abordagem mais séria e intimista de apreciação da música. Nesse caso o suporte físico faz todo o sentido e o Vinyl como expoente desse suporte cai que nem uma luva.

Depois há a questão da sonoridade que para a maioria das pessoas é mais importante que a fidelidade.

Nada tenho contra quem procura a fidelidade. Mas sei que são uma minoria. A vasta maioria das pessoas querem que o som seja do seu agrado e isso manifesta-se de várias formas : Vinyl, válvulas, equalização, etc.

Finalmente para mim há uma questão ética o que para muita gente é importante . Se tivesse poder nas mãos acabava amanhã com todas as plataformas gratuitas de divulgação musical e estabelecia uma regra em que pelo menos cada audição fosse paga per si e não por uma mensalidade ridícula.

Os artistas têm de ser bem pagos sobretudo na música erudita. Um intérprete de excepção demora 10 a 16 anos a formar e são tipos que abdicaram de quase tudo na infância e na juventude.

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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptyDom Jan 02 2022, 19:26

Zé Carlos escreveu:


(...)

Finalmente para mim há uma questão ética o que para muita gente é importante . Se tivesse poder nas mãos acabava amanhã com todas as plataformas gratuitas de divulgação musical e estabelecia uma regra em que pelo menos cada audição fosse paga per si e não por uma mensalidade ridícula.

Os artistas têm de ser bem pagos sobretudo na música erudita. Um intérprete de excepção demora 10 a 16 anos a formar e são tipos que abdicaram de quase tudo na infância e na juventude.


Pondo, obviamente, de lado as plataformas de pirataria pura, esta sua ideia, aparentemente bondosa para com os artistas, levaria a que a música, seja ela qual for, erudita ou popular, medieval ou contemporânea, fosse acessível apenas para uma elite. A que pode gastar, por poucos que sejam, alguns euros para ouvir o que lhe interessa ou quer ouvir.

Uma mensalidade ridícula, paga por milhões, faz uma soma muito razoável. Foi esta a solução encontrada, pela industria, para facilitar o acesso à música e, em simultâneo, acabar com a pirataria.

Não podemos estar a defender, por um lado a beleza, a universalidade e o bem estar que a música proporciona ao ser humano e por outro, defender que o acesso a esta apenas seja reservado a quem pode pagar bom dinheiro por ela.

Corrijo: poder até podemos mas estamos a pensar numa organização de sociedade em que, e no futuro, até para respirar é necessário pagar.

Um outro pormenor, a industria da música e as distribuidoras nunca se preocuparam muito com o rendimento dos músicos salvo o dos entendidos como monstros sagrados. Durante muitos anos apenas uma pequena fatia do bolo revertia para os artistas sendo que todo o resto alimentava gordos lucros das empresas ligadas ao meio. Mais do que o rendimento dos artistas foi a perda dos lucros provocada pelas plataformas piratas que alarmou a industria da música.
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptyDom Jan 02 2022, 19:51

agorgal escreveu:
Zé Carlos escreveu:


(...)

Finalmente para mim há uma questão ética o que para muita gente é importante . Se tivesse poder nas mãos acabava amanhã com todas as plataformas gratuitas de divulgação musical e estabelecia uma regra em que pelo menos cada audição fosse paga per si e não por uma mensalidade ridícula.

Os artistas têm de ser bem pagos sobretudo na música erudita. Um intérprete de excepção demora 10 a 16 anos a formar e são tipos que abdicaram de quase tudo na infância e na juventude.


Pondo, obviamente, de lado as plataformas de pirataria pura, esta sua ideia, aparentemente bondosa para com os artistas, levaria a que a música, seja ela qual for, erudita ou popular, medieval ou contemporânea, fosse acessível apenas para uma elite. A que pode gastar, por poucos que sejam, alguns euros para ouvir o que lhe interessa ou quer ouvir.

Uma mensalidade ridícula, paga por milhões, faz uma soma muito razoável. Foi esta a solução encontrada, pela industria, para facilitar o acesso à música e, em simultâneo, acabar com a pirataria.

Não podemos estar a defender, por um lado a beleza, a universalidade e o bem estar que a música proporciona ao ser humano e por outro, defender que o acesso a esta apenas seja reservado a quem pode pagar bom dinheiro por ela.

Corrijo: poder até podemos mas estamos a pensar numa organização de sociedade em que, e no futuro, até para respirar é necessário pagar.

Um outro pormenor, a industria da música e as distribuidoras nunca se preocuparam muito com o rendimento dos músicos salvo o dos entendidos como monstros sagrados. Durante muitos anos apenas uma pequena fatia do bolo revertia para os artistas sendo que todo o resto alimentava gordos lucros das empresas ligadas ao meio. Mais do que o rendimento dos artistas foi a perda dos lucros provocada pelas plataformas piratas que alarmou a industria da música.

Pirataria sempre houve. Antigamente na década de 70 eram as cassetes.

E continua haver pirataria... Basta entrar em certos canais russos e asiáticos e procurar.

Defendo o fim das plataformas gratuitas e o pagamento por download individual única coisa que me parece justa. Um amostra de 60 segundos de cada música deveria ser disponibilizada.

Eles venderam o peixe que era para acabar com a pirataria porque faz parte da estratégia do capital financeiro dar sempre uma explicação benevolente para as suas decisões.

Se eu quiser usar uma patente tenho de pagar e custa muito caro. A criação intectual e artística deveriam ser tratadas da mesma forma.

Não acredito nessa história de facilitar o acesso á música e sugiro - lhe que não acredite. A única coisa que interessa são os lucros e os dividendos.
O resto, como se diz no Brasil, é conversa para boi dormir.
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptyDom Jan 02 2022, 20:57

Não conheço plataformas completamente gratuitas. Talvez o YouTube, que não uso para ouvir música, mas que sei que na grande maioria das vezes, usa a publicidade como forma de "pagamento". Quanto às outras: sou assinante de uma, para a qual pago alguns euros e que muito raramente utilizo. Sei que, sempre que ouço alguma coisa com origem nessa plataforma, uns cêntimos de dólar revertem para o artista (ou melhor a editora) em questão.

Ainda hoje ouço discos comprados à mais de 40 anos, alguns dos quais foram gravados em K7's que usava no walkman que me acompanhou nas longas viagens que fiz ou no leitor do carro e isso nunca foi considerado pirataria. Mas confesso que gravei alguns dos meus discos para os amigos que tinham menos posses do que eu e isso foi, efectivamente, pirataria... mas a intenção foi boa daí penso estar perdoado!

Mas a questão que levanto é outra: com a desmaterialização dos conteúdos o valor destes baixou. E, como tal, esta baixa deve-se reflectir no consumidor. Não há custos com embalagens pomposas (alguns dos discos de vinil que possuo têm, como embalagem, obras sumptuosas de design) daí o preço - apenas do conteúdo, sem suporte nem embalagem - que deverá estar de acordo com este minimalismo material.

A cultura (a arte - e a música é uma arte) deve ser acessível - apetece-me dizer que deve estar acessível ao povo mas alguém pode interpretar isto como perigoso esquerdismo portanto não digo. Nos últimos anos a tecnologia ofereceu-nos novos recursos de divulgação da arte - neste caso, da música. E demonstrou que pode disponibilizar toda esta arte a mais pessoas por uma fracção do seu custo quando comparado com o que era à 30 anos atrás. Se defendemos uma cultura pela arte devemos agradecer tudo o que as novas tecnologias nos oferecem para atingir esse desiderato não pedir que tudo seja mais caro.

A Música faz parte de nós desde tempos ainda não registados nos livros de História. Comunicamos através dela sentimentos, crenças, esperanças, alegria e dor. Alguma da Música é expressão popular, pueril na sua forma, outra é resultado de profunda reflexão e enorme conhecimento, mas ambas são Música. E ambas são apenas uma pequena parte do que é o universo da Música.

Ainda hoje me entretive, numa plataforma gratuita, a ver dois programas duma série da RTP com o Michel Giacometti e os seus registos de música popular portuguesa no início da década de 70. Poder-se-ia dizer que deveria pagar para ter acesso a estes programas. Mas pagar a quem? À RTP que os produziu? A RTP é nossa, felizmente. Uma das  suas funções é preservar e divulgar, pelo registo, a nossa cultura. E o trabalho do Michel Giacometti é um exemplo acabado desse registo, mesmo que a Música que ele nos dá a conhecer esteja muito distante dos ambientes urbanos que nos são confortáveis.

Todo este latim para sublinhar que não podemos olhar para a Música (e a arte em geral) como um produto de consumo caro, como se de luxo fosse, mas algo que deve ser disponibilizado a todos por um preço justo, longe de especulativo. Acessível e com oferta adequada às várias posturas que o consumidor pode ter: equipamento de muitos milhares e altíssima resolução ou um simples telemóvel de umas dezenas de euros e uns pequeníssimos auscultadores enfiados nas orelhas...

A arte (neste caso a música) deve ser acessível a todos, mesmo àqueles que pouco ou nenhum dinheiro têm.
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptyDom Jan 02 2022, 22:38

agorgal escreveu:

(...)
A cultura (a arte - e a música é uma arte) deve ser acessível - apetece-me dizer que deve estar acessível ao povo mas alguém pode interpretar isto como perigoso esquerdismo portanto não digo.
(...)

A arte (neste caso a música) deve ser acessível a todos, mesmo àqueles que pouco ou nenhum dinheiro têm.

Cuidado com o esquerdismo! Laughing

Agora um pouco mais sério: um destes dias levantei a questão dos músicos em outro tópico, mesmo estando de acordo consigo quanto ao acesso à Cultura. Este é um daqueles problemas cuja solução passa efectivamente por decisões Políticas, não de um ou outro político, mas de todos nós que vivemos na e da Polis.

As plataformas de streaming pagam todas muito mal (o Spotify pode ser gratuito, mas tem publicidade e não se ouve o álbum por ordem), os músicos/bandas recebem pouco e hoje sabemos que as editoras já levam uma boa fatia das receitas de concertos para compensar as perdas em vendas.

Como tratar os criadores?
Existem duas alternativas conhecidas: financiamento ou lei do mercado.

É um enorme problema, nenhuma sociedade conseguiria financiar todos os que criam, a escolha a quem financiar é altamente discutível (no nosso Portugal já nos debatemos com o pouco que financiamos); por outro lado, a lei de mercado está a deixar muita gente com pouco nos bolsos e criar de bolsos vazios não funciona bem (há quem defenda que as crises proporcionam momentos de criação, há picos após as guerras por exemplo, mas o básico não pode faltar).


Em tempos usei muito as Bibliotecas para me possibilitarem livros e filmes, hoje uso menos, procuro nelas livros específicos. Os Cineclubes são uma boa forma de ter cinema por pouco, muito pouco, mas não passam os filmes mais comerciais e por isso apelam a poucos - que por vezes não chegam para pagar os custos associados. Não conheço um "audioclube", as bibliotecas que mais frequentei tinham pouca ou nenhuma oferta de música.

A Música, que é o que aqui nos traz, até é das formas de Arte que mais foi democratizada, talvez ainda falte algo ligado à Educação para a Música - que deve abordar desde o nosso Folclore até à dita Clássica de qualquer criador e nacionalidade.
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptyDom Jan 02 2022, 22:57

Zé Carlos escreveu:
... Finalmente para mim há uma questão ética o que para muita gente é importante . Se tivesse poder nas mãos acabava amanhã com todas as plataformas gratuitas de divulgação musical e estabelecia uma regra em que pelo menos cada audição fosse paga per si e não por uma mensalidade ridícula.

Os artistas têm de ser bem pagos sobretudo na música erudita. Um intérprete de excepção demora 10 a 16 anos a formar e são tipos que abdicaram de quase tudo na infância e na juventude.

Chama ao que vém de dizer ética?... eu chamo a ideia que emite de um nome muito(issimo) menos pomposo! Quanto aos artistas da musica dita erudita... jà são suficientemente bem pagos, demais mesmo, pois subvencionados pelo governo françês que utilisa uma parte dos impostos de todos para os dar a essa musica exclusivamente e que é preservada em redoma como se estivesse num museu, jà ganham o suficiente e é tempo de pensar nos outros musicos, como os de jazz por exemplo que são globalmente os mais pobres...

agorgal escreveu:
...A arte (neste caso a música) deve ser acessível a todos, mesmo àqueles que pouco ou nenhum dinheiro têm.

A musica é alternadamente uma arte e um entretimento e a fronteira é fosca! Isto é também valido para o cinema e outras artes... o ramo artistico é deficitario e o ramo de entretimento é beneficiario, torna-se dificil de introduzir uma intervenção de estado que não seja ou pareça injusta, mesmo se ela existe pois a musica classica, os grandes museus e o cinema de autor são subvencionados por exemplo (França). Apesar do que digo, o acesso à musica globalmente assim que aos museus e a certos cinemas ou teatros não é muito elitista aqui e pode mesmo ser gratuita para as crianças, estudantes, reformados e pessoas com meios modestos...
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptyDom Jan 02 2022, 23:10

TD124 escreveu:


(...)

A musica é alternadamente uma arte e um entretimento e a fronteira é fosca! Isto é também valido para o cinema e outras artes... o ramo artistico é deficitario e o ramo de entretimento é beneficiario, torna-se dificil de introduzir uma intervenção de estado que não seja ou pareça injusta, mesmo se ela existe pois a musica classica, os grandes museus e o cinema de autor são subvencionados por exemplo (França). Apesar do que digo, o acesso à musica globalmente assim que aos museus e a certos cinemas ou teatros não é muito elitista aqui e pode mesmo ser gratuita para as crianças, estudantes, reformados e pessoas com meios modestos...


Eis uma extraordinária questão:
A arte (qualquer uma das artes e todas em conjunto) é um apenas um entretenimento? Ou algo mais profundo? Ou ambas as coisas em simultâneo?

A minha opinião é: apenas um entretenimento. Para os olhos, para os ouvidos, para todos os outros sentidos e ainda resta espaço para a alma. E isto faz da arte algo de muito profundo. Tão profundo que nada se lhe equipara na nossa existência.




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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptyDom Jan 02 2022, 23:24

agorgal escreveu:
...Eis uma extraordinária questão:
A arte (qualquer uma das artes e todas em conjunto) é um apenas um entretenimento? Ou algo mais profundo? Ou ambas as coisas em simultâneo?

No meu ponto de vista são coisas separadas pois as três vertentes existém: O Stalker do Tarkovski é arte, o Star Wars do Lucas é entretenimento e o Apocalipse Now do Coppola é os dois... por isso disse que a fronteira podia por vezes ser fosca Wink
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptyDom Jan 02 2022, 23:37

TD124 escreveu:


No meu ponto de vista são coisas separadas pois as três vertentes existém: O Stalker do Tarkovski é arte, o Star Wars do Lucas é entretenimento e o Apocalipse Now do Coppola é os dois... por isso disse que a fronteira podia por vezes ser fosca Wink

O Paulo quer colocar o fórum no centro das notícias internacionais... mexer com o Star Wars!?! Laughing

A natureza do Homem tão bem retratada. dvil
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptySeg Jan 03 2022, 00:35

TD124 escreveu:
Zé Carlos escreveu:
... Finalmente para mim há uma questão ética o que para muita gente é importante . Se tivesse poder nas mãos acabava amanhã com todas as plataformas gratuitas de divulgação musical e estabelecia uma regra em que pelo menos cada audição fosse paga per si e não por uma mensalidade ridícula.

Os artistas têm de ser bem pagos sobretudo na música erudita. Um intérprete de excepção demora 10 a 16 anos a formar e são tipos que abdicaram de quase tudo na infância e na juventude.

Chama ao que vém de dizer ética?... eu chamo a ideia que emite de um nome muito(issimo) menos pomposo! Quanto aos artistas da musica dita erudita... jà são suficientemente bem pagos, demais mesmo, pois subvencionados pelo governo françês que utilisa uma parte dos impostos de todos para os dar a essa musica exclusivamente e que é preservada em redoma como se estivesse num museu, jà ganham o suficiente e é tempo de pensar nos outros musicos, como os de jazz por exemplo que são globalmente os mais pobres...

..

As palavras não são pomposas... As pessoas é que lhes dão o significado que entendem ao escrever ou ao ler.

A política do governo francês não tem nada a ver com o que eu escrevi. Há quase 200 países no mundo, escrevo em abstrato e não a pensar em nenhum governo ( questões dessas locais e pessoais devem ser resolvidas no voto, sendo certo porém que o que não falta na França é gente a viver à custa do estado sem fazer nada e sem mérito pessoal ou profissional)

Pagar bem às pessoas no contexto que eu escrevi só pode ser preservando a criação intelectual, nomeadamente proibindo plataformas gratuitas, pirataria, plataformas ao serviço de grupos financeiros, etc.

Em momento algum chamei o estado ao barulho que não deve pagar coisa nenhuma, nem jazz, nem rock, nem música clássica. Deve é dar condições aos artistas para se mostrar ao público a sua arte e isso chega. O dinheiro do estado deve ser todo canalizado para uma educação musical de qualidade desde a primária, o patrocínio de conservatórios para os mais dotados e a manutenção de espaços públicos gratuitos onde os músicos possam mostrar o seu trabalho. Observados estes pressupostos as coisas fluem naturalmente e os mais capazes safam-se melhor como em tudo na vida.


Última edição por Zé Carlos em Seg Jan 03 2022, 00:57, editado 1 vez(es)
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptySeg Jan 03 2022, 00:50

agorgal escreveu:
Não conheço plataformas completamente gratuitas. Talvez o YouTube, que não uso para ouvir música, mas que sei que na grande maioria das vezes, usa a publicidade como forma de "pagamento". Quanto às outras: sou assinante de uma, para a qual pago alguns euros e que muito raramente utilizo. Sei que, sempre que ouço alguma coisa com origem nessa plataforma, uns cêntimos de dólar revertem para o artista (ou melhor a editora) em questão.

Ainda hoje ouço discos comprados à mais de 40 anos, alguns dos quais foram gravados em K7's que usava no walkman que me acompanhou nas longas viagens que fiz ou no leitor do carro e isso nunca foi considerado pirataria. Mas confesso que gravei alguns dos meus discos para os amigos que tinham menos posses do que eu e isso foi, efectivamente, pirataria... mas a intenção foi boa daí penso estar perdoado!

Mas a questão que levanto é outra: com a desmaterialização dos conteúdos o valor destes baixou. E, como tal, esta baixa deve-se reflectir no consumidor. Não há custos com embalagens pomposas (alguns dos discos de vinil que possuo têm, como embalagem, obras sumptuosas de design) daí o preço - apenas do conteúdo, sem suporte nem embalagem - que deverá estar de acordo com este minimalismo material.

A cultura (a arte - e a música é uma arte) deve ser acessível - apetece-me dizer que deve estar acessível ao povo mas alguém pode interpretar isto como perigoso esquerdismo portanto não digo. Nos últimos anos a tecnologia ofereceu-nos novos recursos de divulgação da arte - neste caso, da música. E demonstrou que pode disponibilizar toda esta arte a mais pessoas por uma fracção do seu custo quando comparado com o que era à 30 anos atrás. Se defendemos uma cultura pela arte devemos agradecer tudo o que as novas tecnologias nos oferecem para atingir esse desiderato não pedir que tudo seja mais caro.

A Música faz parte de nós desde tempos ainda não registados nos livros de História. Comunicamos através dela sentimentos, crenças, esperanças, alegria e dor. Alguma da Música é expressão popular, pueril na sua forma, outra é resultado de profunda reflexão e enorme conhecimento, mas ambas são Música. E ambas são apenas uma pequena parte do que é o universo da Música.

Ainda hoje me entretive, numa plataforma gratuita, a ver dois programas duma série da RTP com o Michel Giacometti e os seus registos de música popular portuguesa no início da década de 70. Poder-se-ia dizer que deveria pagar para ter acesso a estes programas. Mas pagar a quem? À RTP que os produziu? A RTP é nossa, felizmente. Uma das  suas funções é preservar e divulgar, pelo registo, a nossa cultura. E o trabalho do Michel Giacometti é um exemplo acabado desse registo, mesmo que a Música que ele nos dá a conhecer esteja muito distante dos ambientes urbanos que nos são confortáveis.

Todo este latim para sublinhar que não podemos olhar para a Música (e a arte em geral) como um produto de consumo caro, como se de luxo fosse, mas algo que deve ser disponibilizado a todos por um preço justo, longe de especulativo. Acessível e com oferta adequada às várias posturas que o consumidor pode ter: equipamento de muitos milhares e altíssima resolução ou um simples telemóvel de umas dezenas de euros e uns pequeníssimos auscultadores enfiados nas orelhas...

A arte (neste caso a música) deve ser acessível a todos, mesmo àqueles que pouco ou nenhum dinheiro têm.


Nós já pagamos a RTP e defendo um serviço público DE rádio e televisão no modelo BBC.

A forma correcta de dar música acessível a todos é começar nas escolas, colocando um piano e outros instrumentos na primária e tornando o ensino musical obrigatório e complementar isso com serviço de rádios e net destinados a divulgar a música digna desse nome, isentar instrumentos musicais de impostos, apoiar bandas populares de associações recreativas, criar discotecas nas escolas ao lado das bibliotecas, etc, etc. Sem dar dinheiro às pessoas porque isso é em regra um mau princípio.

A ideia que o povo pobre não gasta dinheiro em música é um equívoco. Os artistas que mais dinheiro ganham são os que produzem música pimba e similares. Exactamente porque enquanto crianças não tiveram acesso acesso a outras formas de música
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptySeg Jan 03 2022, 10:20

A questão deste topico é de compreender porque razão houve o retorno do formato do disco vinil e de compreender se é uma moda ou não... pessoalmente não creio que isto esteja directamente ligado ao facto de saber se as pessoas continuam a gostar de musica ou não. O consumo da musica mudou desde hà muito e lembro-me do começo dos video-clips na televisão... hoje é o Youtube a plataforma preferida dos jovens e tudo isto jà està deveras afastado do vinil e da K7, é uma nova maneira de consumo e o streaming vai ser o futuro da distribuição musical...

Pareçe-me evidente que este novo modelo de consumo da musica vai criar uma nova e diferente geração de audiofilos pois penso que haverà sempre alguns sensiveis à qualidade da reprodução. Eu faço parte daqueles que pensavam que o vinil desapareceria por completo com a chegada da geração desktop-fi e finalmente não pareçe ser o caso, o fenomeno é estranho. Existe uma moda à volta do vintage que toca mesmo a estética de alguns carros, os moveis, a roupa e alguns objectos mas geralmente é um puro trabalho estético pois a tecnologia no interior é moderna... ora o vinil é verdadeiramente uma tecnologia antiga que é preferida pelos seus defeitos o que està em contradição com a audiofilia e mesmo com uma certa forma de logica. Não posso de deixar de achar estranho este fenomeno que de uma certa maneira é inexplicavel, como o retorno da K7...
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptySeg Jan 03 2022, 11:12

José Miguel escreveu:
...A Música, que é o que aqui nos traz, até é das formas de Arte que mais foi democratizada, talvez ainda falte algo ligado à Educação para a Música - que deve abordar desde o nosso Folclore até à dita Clássica de qualquer criador e nacionalidade.

Temos todos o sentimento que a educação musical poderia ser a solução para que a musica seja mais respeitada e difundida através das diferentes fatias de idade e sociais, apesar de ser uma ideia repleta de bom sentido e à qual subscrevo temo que o resultado não seja tão eficaz quanto o esperado. Os soviéticos diziam, não sém malicia, que as crianças eram a unica classe priveligiada... efectivamente desde o jardim de infância até ao fim do segundario a musica era ensinada e era uma materia obrigatoria. No final cada soviético no pior dos casos sabia ler a musica e no melhor dos casos sabia tocar piano, aliàs, a pauta da obra era sempre fornecida durante um concerto ou uma opera. Durante a minha longa estadia nunca tive a impressão que fossém mais melomanos do que os alemães ou os italianos...

No mundo ocidental a grandissima maioria das pessoas sabém ler sém que isso se traduza proporcionalmente no consumo de literatura ou mesmo de banda desenhada... isto diz-me que não chega saber ler para se interessar à poesia ou à prosa, é necessario algo mais. Eu tornei-me melomano por acaso e no fundo não quero que cada pessoa o seja, penso que se cada um se interessar ao menos a uma forma de arte jà serà algo de equilibrante na sua vida. Talvez uma educação generalisada à volta da arte seja mais interessante do que especificamente à volta da musica, tudo està interligado...
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptySeg Jan 03 2022, 12:53

Zé Carlos escreveu:


Nós já pagamos a RTP e defendo um serviço público DE rádio e televisão no modelo BBC.

A forma correcta de dar música acessível a todos é começar nas escolas, colocando um piano e outros instrumentos na primária e tornando o ensino musical obrigatório e complementar isso com serviço de rádios e net destinados a divulgar a música digna desse nome, isentar instrumentos musicais de impostos, apoiar bandas populares de associações recreativas, criar discotecas nas escolas ao lado das bibliotecas, etc, etc. Sem dar dinheiro às pessoas porque isso é em regra um mau princípio.

A ideia que o povo pobre não gasta dinheiro em música é um equívoco. Os artistas que mais dinheiro ganham são os que produzem música pimba e similares. Exactamente porque enquanto crianças não tiveram acesso acesso a outras formas de música


Em Portugal existem cerca de 70 escolas de música (ensino pré-escolar, básico e secundário).No nível universitário existem duas escolas superiores de música (Lisboa e Porto) e poucas são as universidades que não têm áreas de estudo em música. Associações culturais e recreativas com áreas de acção ligadas à música serão, pelo menos, uma por cada dois concelhos, cerca de 150. Bandas filarmónicas serão umas 75. De uma forma ou de outra todas estas instituições são apoiadas ou subsidiadas pelo Estado e pelas autarquias. Ranchos folclóricos serão uns 100 por este país fora.
Salas de espetáculo polivalentes geridas pelo Estado ou pelas autarquias serão cerca de cinquenta.

Posto assim parece-me que o país, atendendo à sua dimensão geográfica e capacidade económica, não sai nada mal na fotografia. Na minha opinião este rápido apanhado demonstra que somos um povo que não pode viver sem música. Pode é gostar de alguma música que nós não gostamos.

Em lado nenhum falo de povo pobre, falo de pessoas que pouco ou nenhum dinheiro têm. Que é um pouco diferente.
Associar música pimba ao povo pobre mas que tem dinheiro para a consumir é redutor. A música pimba não deixa de ser música por ser pimba. Podemos não gostar, podemos pensar que é de fraca qualidade artística e até podemos pensar que aliena o povo. Mas isso não deixa de ser uma opinião sustentada no gosto pessoal. Poderemos fazer considerações artísticas sustentadas na nossa própria cultura e/ou no conhecimento que a academia nos aporta. Mas tenho idade suficiente para perceber que isso não basta para definir a cultura de todos os outros e classificar os seus gostos de bons ou maus - não há apenas o preto e o branco.
Associar quem tem pouco ou nenhum dinheiro com idas aos concertos de música pimba também é redutor. A grande preocupação de quem tem pouco ou nenhum dinheiro é descobrir o que por na mesa ou como manter a casa que abriga os seus poucos haveres. Quando muito entretêm o tempo (e o estômago, por vezes) com a música pimba que a tv lhes oferece e com isso esquecem as agruras da vida.


TD124 escreveu:


A questão deste topico é de compreender porque razão houve o retorno do formato do disco vinil e de compreender se é uma moda ou não...


Nunca compreendi muito bem a minha decisão de voltar ao vinil. Quando optei pelos CD's, talvez uns 35 anos atrás, abriu-se-me uma janela completamente nova. Um som muito mais limpo e detalhado, maior facilidade no manuseamento do suporte, menor espaço ocupado. O gira-discos ficou encostado, as k7's e as bobinas (que usava para poupar o uso dos discos e o trabalho que davam) em breve seguiram o mesmo destino. Durante muito tempo apenas adquiri cd's que não tinha na versão vinil mas depois comecei a recomprar em cd algumas das obras em vinil que mais gostava.
Um dado dia, 2010 mais ou menos, acordei com uma ideia: uma vez que o meu gira-discos já não tinha correia que o girasse de tanto tempo parado, arranjar outro um pouco melhor. E voltar a ouvir vinil. E assim fiz. E depois disso já comprei mais dois ou três, sempre um pouco melhores. Continuei a comprar cd's e recomecei a comprar vinis. Já me apanhei a comprar o mesmo disco nas duas versões para comparar.

Desisti de encontrar resposta para o porquê da minha alteração nos hábitos musicais como também já desisti de comparar os defeitos e virtudes de ambos os suportes e qual é o melhor.

Tenho amigos que deitaram fora ou venderam ao desbarato o vinil. Tenho outros que mantêm tudo mas simplesmente não ouvem vinil à muitos anos. Só digital. Os primeiros estão profundamente arrependidos e, curiosamente, os segundos continuam desistentes do formato mas não me vendem as suas coleções...

E tenho amigos que nunca se interessaram por música, pelo menos com o formalismo de quem enche estantes com discos, que agora andam de feira da ladra em feira da ladra, de loja de usados em loja de usados, a comprar tudo e mais alguma coisa. E que recorrem à minha pessoa para os ajudar a escolher um gira-discos ou uma célula nova, a ensinar a lavar e guardar os discos, a procurar uma edição melhor, etc. etc.


Se não compreendo a minha decisão de retornar ao vinil muito menos compreendo quem os começa a usar agora. Talvez uma moda (é o mais provável), talvez uma fuga a um presente cada vez mais digital, mais 0000 e 11111...  contrariar a evolução tecnológica...
Talvez uma tentativa de contornar a desmaterialização dos suportes, ter a percepção da leitura que, mesmo no cd, é impossível (o ouvir a música e ver o movimento do suporte em simultâneo). Aqui e ali uma admiração pela arte gráfica de muitas capas.
Talvez o mesmo sentimento que leva os amantes de comboios a visitarem países longínquos na procura de viagens em carruagens antigas puxadas por locomotivas a vapor.
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptySeg Jan 03 2022, 15:06

agorgal escreveu:
...Se não compreendo a minha decisão de retornar ao vinil muito menos compreendo quem os começa a usar agora. Talvez uma moda (é o mais provável), talvez uma fuga a um presente cada vez mais digital, mais 0000 e 11111...  contrariar a evolução tecnológica...

Somos vàrios nesse barco penso! No inicio do AAP e este topico data dessa época, havia um apego quase religioso em relação ao vinil... esta tecnologia fazia a coesão do grupo e acabava por ser a chama vital, uma forma de fé templaria. Ela representava um modelo de solidão ingénua e arrogante contra a escalada do digital e mesmo no interior do grupo dos audiofilos o vinilista era o guardião do templo, os ultimos representantes de uma tradição nobre e ameaçada. Qualquer avanço ou progressão era apresentado como uma prova da sua superioridade e resiliência, era mais uma batalha vitoriosa e este topico era a prova da sua eternidade pois recusava-se a morrer! Mais do que um formato o vinil era uma espécie de musa que inspirava paixões...

Tal jà era o caso hà trinta e tal anos por aqui! Numa época aonde toda a gente queria ter um leitor de Cd's um pequeno grupo no interior dos jà escassos audiofilos faz secessão e começa a apregoar a nobreza orgânica do som do vinil contra a aridez fria e clinica do digital. Esse grupo ganha forma e cresce paradoxalmente ao ponto que no inicio dos anos 2000 um audiofilo torna-se numa imagem associada a uma pessoa que escuta vinis e tém uma aparelhagem a vàlvulas, eram os rebeldes altivos em cruzada contra o mau gosto, os Che Guevara do som! Tudo isto poderia ter sido uma fase romantica na historia da audiofilia e acabar por se dissolver na sua propria inconsistência, mas trinta anos depois a continuidade acaba por deixar perplexo...

Ontém discutindo com um velho amigo que hoje està em Paris acabei por lhe dizer que os vinilistas eram os usurpadores da audiofilia. Argumentei que eles tinham trazido para o audio valores que nunca tinham sido os da audiofilia como o fetichismo, o materialismo, o estetismo e o colecionismo. Um velho audiofilo nunca possuiu um valvulado porque gostava de ver vàlvulas acesas, mas porque essa tecnologia era a que melhor casava com full-range ou cornetas da época. Ele nunca preferiu um Class A a transistores porque era grande e pesado mas porque é a tecnologia mais linear de amplificação e que o som era melhor, a reprodução da musica era a sua unica obcessão para tristeza das companheiras pois as colunas ném eram pintadas e o material era muitissimo feio! Nos anos oitenta os audiofilos receberam o digital de braços abertos, era o messias que permitia enfim de ter uma fonte à altura do resto do sistema e que respeitava melhor a musica...

Aqui estamos no inicio de 2022 com um vinil que continua a crescer sém que a relação entre este formato deficiente e a qualidade da reprodução que ele ofereçe sejam postas em paralelo. Evidentemente que pode haver emoção durante a escuta de um vinil, foi a fonte suprema durante trinta anos! Evidentemente que posso ter sensações escutando um deck Teac V7000 como tive, mas vai durar uns minutos e não dias ou anos. Evidentemente que é melhor escutar um vinil do que um shellac 78rpm... mas é verdadeiramente disso que se trata ou é puro fetichismo desdobrado de materialismo, pois ter algo nas mão de material nada é de outro. Vejo muitas pessoas se queixar por aqui do passar do tempo e do desaparecimento de alguns simbolos do audio do passado... não sendo nostalgico isso não me afecta. Em contrapartida a ressurreição do vinil cria(me) um problema de fundo pois é a victoria da mà reprodução sonora independentemente de tudo o que escrevi e como sou melomano antes de qualquer outra coisa sò a musica conta! Não ponho oculos de sol quando vou ver os quadros do Louvre ou do Hermitage, também não ponho bolinhas de algodão nas orelhas quando vou a um concerto de barroco... hà coisas que devem ser apreciadas da melhor maneira possivel. Serà o vinil a melhor maneira de reproduzir a musica ou é uma excelente maneira de a degustar? Nesta resposta està uma chave do problema...
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptySeg Jan 03 2022, 15:48

TD124 escreveu:


...hà coisas que devem ser apreciadas da melhor maneira possivel. Serà o vinil a melhor maneira de reproduzir a musica ou é uma excelente maneira de a degustar? Nesta resposta està uma chave do problema...

Penso que, estando mais do que provado que não é a melhor maneira de reproduzir música, resta a excelente maneira de a degustar.

Porquê?
Porque somos apegados a rituais (por exemplo: tirar a rolha a uma garrafa, decantar o vinho, deixá-lo respirar...) e estes rituais sublinham a experiência vivida. Sensorialmente torna-a mais completa porque não tão facilitada.
Procurar com as mãos por entre as centenas de discos de uma estante é mais estimulante que percorrer uma biblioteca de ficheiros numa qualquer tablete ou telemóvel. Mais lenta a procura mais descobertas (ou redescobertas) esta proporciona. Por um lado um retorno ao passado (nostalgia) por outro abrandar o ritmo do tempo para que este esteja mais de acordo com o nosso próprio ritmo.

Um dos problemas que entendo existir nas nossas sociedades é a velocidade a que a vida decorre. A rapidez nas decisões, nas escolhas. A rapidez nos contactos, na forma como comunicamos e na enorme profusão de informação que nos rodeia. Sentimo-nos obrigados a ler tudo, a responder a tudo, a entender tudo, a chegar a tudo. E como o tempo é um bem finito, a obrigação de chegar a tudo também é a obrigação de sermos rápidos, muito rápidos. O vinil, tal como a locomotiva a vapor, abranda o nosso ritmo. Permite saborear a música, degustar com lentidão. Sem a sofreguidão de quem bebe um bom vinho apenas para matar a sede numa tarde de calor (o que por acaso acho um enorme desperdício).
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptySeg Jan 03 2022, 17:24

O mundo/ a realidade, não são a preto e branco.

Entre 0 e 1, apesar do que possa parecer, há inifinitos valores e estados. Isto tem implicações brutais.

Ainda não ouvi niguém dizer " belo som! parece digital! ...e, não morre... - Página 7 491368 ...e, não morre... - Página 7 758687
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptySeg Jan 03 2022, 17:26

agorgal escreveu:
...Penso que, estando mais do que provado que não é a melhor maneira de reproduzir música, resta a excelente maneira de a degustar.

Porquê?.............................................

Amigo agorgal, encontro-me em muito do que diz e penso que talvez seja esse aspecto simbolico que acaba por dar valor ao formato e por extensão nos toca. Mas, todos esses valores dos quais fala são menos validos para as novas gerações... eles nasceram num mundo que jà era assim, é de esperar que estejam habituados! O nosso mundo jà era mais rapido do que o dos nossos pais e não fomos buscar as grafonolas para travar o tempo...

O som do vinil, pois tém um som caracteristico, pode ser também uma das chaves. Ouvi varias pessoas durante conversas sobre os formatos acabar em ultimo recurso a argumentar que o digital era demasiado perfeito! Ora é nesta hipotetica perfeição que pode residir o problema. O audio sempre evoluiu com a noção de deficiência pois os elementos eram perfeitiveis, mesmo os formatos. A leitura vinil é modular e permite de entreter a ilusão permanente de evolução ou amelhoração, mudança de agulha, de braço, de tapete, de phono, de gira e etc... uma prensagem de origem, uma prensagem audiofila, uma prensagem pesada ou uma japonesa e etc, as variàveis são muitas e a mudança sonora imediata, não digo melhor. O digital partiu desde a nascença o tecto de vidro do vinil e eliminou complétamente todos os defeitos que os audiofilos com amor e paixão tentavam corrigir e impôs uma qualidade do sinal que ultrapassava todos os outros elementos do sistema, o patinho feio tornava-se cisne branco! Existe muito mais diferenças subjectivas entre um gira de entrada e um gira de topo que entre um Dac de entrada e outro High-End... no vinil a promessa de evolução (amelhoração) é real e vasta, no digital não pois o nivel de qualidade desde o inicio é elevadissimo...

Subsiste no fim esse som velado e espesso que nos imerge numa sensação reconfortante como os bolos da avozinha... é uma fotografia do passado aonde reconhecemos as caras mas hà algo de irreal, é na nossa imaginação que a imagem se recria ora que o digital é a evidência do real! O vinil deixa também um grande espaço à imaginação e permite de acreditar que ainda hà caminho a percorrer, que podemos amelhorar a coisa e continuar eternamente a progredir... o digital é o fim do caminho. Talvez seja nesta alternância entre a sua parte de palpàvel e a sua fragil deficiência que o vinil se torna transgeracional e lembra que a imperfeição é fonte de esperança e isto é algo que o homém necessita independentemente das épocas...
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptySeg Jan 03 2022, 17:45

tomaz escreveu:
...Ainda não ouvi niguém dizer " belo som! parece digital! ...e, não morre... - Página 7 491368 ...e, não morre... - Página 7 758687

Essa sua frase algo provocatoria encerra em si um dos problemas de base do audio! O som de um sistema deve ser belo ou bom? No primeiro caso existe uma visão estética do som ora que no segundo apareçe uma noção de qualidade:

Um belo som pode tornar a musica bela!...

Um bom som sò é belo se a musica o for!...

O melhor sistema possivel seria aquele que não possuiria som proprio fora o que està na gravação...

È possivel que este sistema não agrade a todos e talvez mesmo a poucas pessoas...

È possivel que a musica não seja o principal ném o objectivo final Wink
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptySeg Jan 03 2022, 18:17

As coisas não são assim tão simples, isto é melhor que aquilo...

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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptySeg Jan 03 2022, 18:59

tomaz escreveu:
As coisas não são assim tão simples, isto é melhor que aquilo...

Admito ter ficado tocado pelo seu video, emocionado mesmo! Admito também não ter compreendido a razão das suas palavras... mandar uma frase enigmatica e um video que fala de humanidade numa discussão sobre audio, mesmo se ele é da stereophile, é o que eu chamo mandar para o lado...

Que esse senhor possua as colunas do Art Dudley pois gostava da sua pluma é um belo simbolo, que ele escute atravès das suas mãos com um balão cheio de gaz é a prova da forças desconhecidas do organismo e uma bela descoberta, que ele escute vinilos também compreendo por tudo o que estamos dizendo ultimamente... mas com o digital esse senhor sentiria a musica diferentemente? Talvez...

Se a intenção era de mostrar que mesmo os surdos preferem o vinil, està a defender mal o formato Laughing

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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptySeg Jan 03 2022, 19:00

tomaz escreveu:
As coisas não são assim tão simples, isto é melhor que aquilo...


TD124 escreveu:


È possivel que a musica não seja o principal ném o objectivo final

(Se bem que retirada do contexto em que foi escrita)

Music is life

Seja qual for o suporte, o estilo, o autor...

A música não será o principal e final objectivo, será apenas o meio que nos trás um pouco de felicidade. Será este o objectivo principal, final.
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptySeg Jan 03 2022, 19:20

TD124 escreveu:


(...)

O som do vinil, pois tém um som caracteristico, pode ser também uma das chaves. Ouvi varias pessoas durante conversas sobre os formatos acabar em ultimo recurso a argumentar que o digital era demasiado perfeito! Ora é nesta hipotetica perfeição que pode residir o problema. O audio sempre evoluiu com a noção de deficiência pois os elementos eram perfeitiveis, mesmo os formatos. A leitura vinil é modular e permite de entreter a ilusão permanente de evolução ou amelhoração, mudança de agulha, de braço, de tapete, de phono, de gira e etc... uma prensagem de origem, uma prensagem audiofila, uma prensagem pesada ou uma japonesa e etc, as variàveis são muitas e a mudança sonora imediata, não digo melhor. O digital partiu desde a nascença o tecto de vidro do vinil e eliminou complétamente todos os defeitos que os audiofilos com amor e paixão tentavam corrigir e impôs uma qualidade do sinal que ultrapassava todos os outros elementos do sistema, o patinho feio tornava-se cisne branco! Existe muito mais diferenças subjectivas entre um gira de entrada e um gira de topo que entre um Dac de entrada e outro High-End... no vinil a promessa de evolução (amelhoração) é real e vasta, no digital não pois o nivel de qualidade desde o inicio é elevadissimo...

Subsiste no fim esse som velado e espesso que nos imerge numa sensação reconfortante como os bolos da avozinha... é uma fotografia do passado aonde reconhecemos as caras mas hà algo de irreal, é na nossa imaginação que a imagem se recria ora que o digital é a evidência do real! O vinil deixa também um grande espaço à imaginação e permite de acreditar que ainda hà caminho a percorrer, que podemos amelhorar a coisa e continuar eternamente a progredir... o digital é o fim do caminho. Talvez seja nesta alternância entre a sua parte de palpàvel e a sua fragil deficiência que o vinil se torna transgeracional e lembra que a imperfeição é fonte de esperança e isto é algo que o homém necessita independentemente das épocas...


Caro TD124, talvez resida nestas duas frases parte da resposta que procuramos.
Estamos num tempo em que a cultura urbana (o vinil faz parte de uma cultura urbana recém-aparecida) procura o artesanato, os "bolos da avózinha". Decora as suas casas com bonecas de trapos e mantas de retalhos, aprende a fazer coisas manualmente, cultiva ervas aromáticas em pequenos vasos num cantinho da varanda.
O vinil obriga à manualidade necessária para afinar pesos, mudar células e agulhas, limpar discos, procurar uma constante melhoria do sistema (impossível no monobloco que é o leitor de cd's ou no servidor de ficheiros). Uma revolta contra a industrialização e uniformização do mundo contemporâneo. O gira-discos afasta-nos do "prêt-à-porter" dos suportes digitais. O vinil está para a música como o "tricot" está para as camisolas de lã. Mais caras, mais trabalhosas mas mais fofas, feitas com carinho.

E assim vamos encontrando as vária respostas possíveis para este fenómeno que nos atormenta. Mesmo que pelo caminho concordemos ou concordemos que discordamos!

Fernando Salvado gosta desta mensagem

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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptySeg Jan 03 2022, 21:12

O Paulo disse bem, " a prova da forças desconhecidas do organismo e uma bela descoberta". O meu ponto é esse, não queria chutar para o lado, eu oiço música com todo o tipo de fontes menos R2R e retiro prazer de todas. E porventura o vinil é o menos prático mas quase sempre é aquele que me emociona mais, que é transcendente. Outras pessoas dirão o mesmo com outros formatos. E eu acho que na maioria estão todos a dizer o que sentem. Desse ponto de vista têm todos razão. Essa verdade suporta-se na análise técnica dos formatos, mas pessoalmente acho que isso está aquem do que indiviualmente experenciamos com e através dos nossos equipamentos. E daí a relevância das tais forças desconhecidas. Música e sons são coisas distintas e distintamente processadas por nós. Por muitas e outras razões já referidas, esta também me parece ser uma para vislumbrar porque é que apesar de tudo...não morre!
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptyTer Jan 04 2022, 04:25

agorgal escreveu:


Todo este latim para sublinhar que não podemos olhar para a Música (e a arte em geral) como um produto de consumo caro, como se de luxo fosse, mas algo que deve ser disponibilizado a todos por um preço justo, longe de especulativo. Acessível e com oferta adequada às várias posturas que o consumidor pode ter: equipamento de muitos milhares e altíssima resolução ou um simples telemóvel de umas dezenas de euros e uns pequeníssimos auscultadores enfiados nas orelhas...

A arte (neste caso a música) deve ser acessível a todos, mesmo àqueles que pouco ou nenhum dinheiro têm.

Reproduzir a música, ou parte dela,  em formatos compactados pode e deve ser barato. Aprender e estudar música deve ser apoiado pelo estado.

Infelizmente em muitos casos, na maioria,  criar boa e grande música é caro, muito caro e nós se queremos ter acesso a ela deveremos pagar. Salas, acústica, instrumentos caros como o piano, músicos que se fazem pagar bem, tudo isso somado dá valores elevados. Infelizmente é assim e as excepões são poucas.

Ensino universal e gratuito da música para quem nasce com menos recursos sim. Instrumentos isentos de impostos sim, concertos idem. Disponibilização das salas públicas gratuitamente sim.

O resto quem quer tem de suportar, o contribuinte de Vila Real, Valença ou Castelo Branco não tem de pagar os devaneios culturais de quem quer ir á ópera ao São Carlos ouvir uma nova estrela do Bel Canto.

As pessoas pagam quando querem mesmo ir aos espectáculos. Os artistas preferidos têm sempre salas cheias pelo mundo ocidental . E os valores não param de subir.

Infelizmente a generalidade das coisas boas na vida não são baratas
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptyTer Jan 04 2022, 04:54

agorgal escreveu:



Em lado nenhum falo de povo pobre, falo de pessoas que pouco ou nenhum dinheiro têm. Que é um pouco diferente.
Associar música pimba ao povo pobre mas que tem dinheiro para a consumir é redutor. A música pimba não deixa de ser música por ser pimba. Podemos não gostar, podemos pensar que é de fraca qualidade artística e até podemos pensar que aliena o povo. Mas isso não deixa de ser uma opinião sustentada no gosto pessoal. Poderemos fazer considerações artísticas sustentadas na nossa própria cultura e/ou no conhecimento que a academia nos aporta. Mas tenho idade suficiente para perceber que isso não basta para definir a cultura de todos os outros e classificar os seus gostos de bons ou maus - não há apenas o preto e o branco.
Associar quem tem pouco ou nenhum dinheiro com idas aos concertos de música pimba também é redutor. A grande preocupação de quem tem pouco ou nenhum dinheiro é descobrir o que por na mesa ou como manter a casa que abriga os seus poucos haveres. Quando muito entretêm o tempo (e o estômago, por vezes) com a música pimba que a tv lhes oferece e com isso esquecem as agruras da vida.


Essas questões podem e devem ser discutidas mas não me parece que este tópico seja o lugar. Uma é política e demasiado complexa e sensível ( a pobreza material e do espírito).

A outra é estética e aí estou com Sir Roger Scruton....e Robert Hughes.

Não podemos por no mesmo nível Beethoven ou o lixo que é hoje a maioria da música popular, não dá.

A música para ser boa, para ser catalogada de arte deve obedecer a certos critérios. Como em tudo na vida. O relativismo estético é muito perigoso. O relativismo cultural idem. Isto é politicamente incorrecto mas é mesmo assim.

A hierarquia é fundamental. Se não temos que aceitar que o Paulo Coelho é o Dostoievski brasileiro ou que os McNuggets de frango do McDonald’s são gastronomia ou que os prédios que se viam na antiga RDA eram arquitectura.

O nivelamento por baixo e o relativismo estético são más opções e terreno férteis para as demagogias sociais e políticas. Ser bom, ser melhor, dá muito trabalho, até no futebol, quanto mais na arte e na cultura em geral.
 

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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptyTer Jan 04 2022, 09:30

tomaz escreveu:
... E porventura o vinil é o menos prático mas quase sempre é aquele que me emociona mais, que é transcendente. Outras pessoas dirão o mesmo com outros formatos. E eu acho que na maioria estão todos a dizer o que sentem. Desse ponto de vista têm todos razão...!

È justamente esse potencial "emotivo" que me interessa compreender pois o resto que estamos a falar é mais sociologico, admito que hajam passadeiras entre ambos. Eu posso pareçer um detrator do vinil por vezes, mas também sou a pessoa que escreveu muitas palavras enfaticas e liricas à volta dos gira-discos... não sou o sniper do vinil! Mesmo quando escuto os vinis do This is the Sea, o The Queen is Dead ou o London Calling que me são albums queridos da adolescência e que conheci nesse formato, a emoção não é superior ao digital, bem ao contràrio... mesmo as remanências da juventude não me ajudam!...

Apesar de continuar a comprar regularmente discos escuto-os cada vez menos... mais um paradoxo! Dou-me conta que quando escuto um ficheiro é um momento de imersão na musica ora que quando escuto um vinil é um momento de imersão nos meus pensamentos, a musica é segundaria. De mesmo, o vinil escuto-o durante o dia no meio dos ruidos da vida ora que o digital é à noite, no escuro afim de ter os sentidos concentrados na musica e ném sequer vislumbrar o sistema. O digital ofereçe-me as notas do artista e nada mais... é algo que me fascina desde o dia em que ouvi pela primeira vez um Cd, sinto a pureza da musica, é a foto sonora quase perfeita...

Estou de acordo que o objectivo final é a busca das emoções... neste caso prefiro o termo sensações! Digo isto pois numa escuta doméstica as sensações são provocadas não somente pela mensagem musical mas também pelo sistema... por vezes pela forma de placebo! È muito mais "sensitivo" de ver uma agulha pousada no disco num prato a rodar, ou duas bobines a girar, do que o implacavel fluxo estatico de um ficheiro... açeito que isto possa  aumentar as sensações e por extensão as emoções mas, neste caso jà estamos a falar de coisas supra musicais pois não é a musica por si que as provoca. O termo malfamado de desmaterialisação possui em si a essência do que toca um melomano, o conteudo da mensagem musical e nada mais... a musica simplesmente! Despir a musica de todos os elementos associados de ordem material, estéticos ou sociais para se encontrar à frente da sua imaterialidade e da possivel emoção que esta possa ofereçer é um dos passos mais grandes feitos na musica gravada, não? Sei que estou errado pois este topico mostra o contrario, mas...
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptyTer Jan 04 2022, 12:15

Zé Carlos escreveu:


(...)

A hierarquia é fundamental. Se não temos que aceitar que o Paulo Coelho é o Dostoievski brasileiro ou que os McNuggets de frango do McDonald’s são gastronomia ou que os prédios que se viam na antiga RDA eram arquitectura.

O nivelamento por baixo e o relativismo estético são más opções e terreno férteis para as demagogias sociais e políticas. Ser bom, ser melhor, dá muito trabalho, até no futebol, quanto mais na arte e na cultura em geral.
 
(...)



Dylan foi colocado no mesmo pedestal de Handke, Vargas Llosa, Saramago, Neruda, Kawabata, Camus e por aí fora.
Banksy, um reclusivo artista de rua, surpreendeu uma plateia de "burgueses" endinheirados reunidos numa sala de leilões: a obra, vendida por 1 milhão de euros foi, no segundo seguinte, estraçalhada por uma vulgar destruidora de papel escondida na moldura.
Cage compôs 4'33''. Não deu muito trabalho a compor, certamente deu bastante a imaginar e, depois, a convencer os estetas que também era música.
João César Monteiro realizou "Branca de Neve" predominantemente com o ecrã negro e escandalizou a metade do país crítica da arte cinematográfica, esquecida esta que Marguerite Duras já o tinha feito 20 anos antes.
A fotografia, quando começou a ser exposta nos salões de arte, foi alvo de generalizada chacota pelos críticos das artes decorativas da época.

Uma mão cheia de exemplos que me levam a reflectir sobre o que é a arte e o que é considerado como arte pela crítica e pelos estudiosos do assunto. E a conclusão a que chego é que com o tempo a correr, as opiniões, as avaliações e as métricas da estética mudam. E o que hoje é considerado nada ter a ver com arte amanhã pode ser uma obra de arte. No fundo ela já o é mas ninguém se apercebeu disso. Ninguém, do alto da sua cátedra, o disse. Até que um dia alguém ousou dizê-lo. E como levámos muito a sério os que falam do alto da cátedra...


Não será uma contradição educarmos todas as crianças na beleza da música dita erudita e depois, quando adultos, vincarmos que essa música não é para eles, que é demasiado cara para os bolsos da maioria deles? Que poderão ter acesso apenas a excertos, comprimidos para ocupar menor largura de banda?
(Isto não é demagogia, é apenas uma questão)


Voltando ao tópico...
...e repescando John Cage

Dada a obra em questão (4'33'') eu não tenho dúvidas na escolha do suporte:
Versão CD (5 cd box set)...
Versão LP (5 vinyl box set)...

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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptyTer Jan 04 2022, 15:10

agorgal escreveu:
Zé Carlos escreveu:


(...)

A hierarquia é fundamental. Se não temos que aceitar que o Paulo Coelho é o Dostoievski brasileiro ou que os McNuggets de frango do McDonald’s são gastronomia ou que os prédios que se viam na antiga RDA eram arquitectura.

O nivelamento por baixo e o relativismo estético são más opções e terreno férteis para as demagogias sociais e políticas. Ser bom, ser melhor, dá muito trabalho, até no futebol, quanto mais na arte e na cultura em geral.
 
(...)



Dylan foi colocado no mesmo pedestal de Handke, Vargas Llosa, Saramago, Neruda, Kawabata, Camus e por aí fora.
Banksy, um reclusivo artista de rua, surpreendeu uma plateia de "burgueses" endinheirados reunidos numa sala de leilões: a obra, vendida por 1 milhão de euros foi, no segundo seguinte, estraçalhada por uma vulgar destruidora de papel escondida na moldura.
Cage compôs 4'33''. Não deu muito trabalho a compor, certamente deu bastante a imaginar e, depois, a convencer os estetas que também era música.
João César Monteiro realizou "Branca de Neve" predominantemente com o ecrã negro e escandalizou a metade do país crítica da arte cinematográfica, esquecida esta que Marguerite Duras já o tinha feito 20 anos antes.
A fotografia, quando começou a ser exposta nos salões de arte, foi alvo de generalizada chacota pelos críticos das artes decorativas da época.

Uma mão cheia de exemplos que me levam a reflectir sobre o que é a arte e o que é considerado como arte pela crítica e pelos estudiosos do assunto. E a conclusão a que chego é que com o tempo a correr, as opiniões, as avaliações e as métricas da estética mudam. E o que hoje é considerado nada ter a ver com arte amanhã pode ser uma obra de arte. No fundo ela já o é mas ninguém se apercebeu disso. Ninguém, do alto da sua cátedra, o disse. Até que um dia alguém ousou dizê-lo. E como levámos muito a sério os que falam do alto da cátedra...


Não será uma contradição educarmos todas as crianças na beleza da música dita erudita e depois, quando adultos, vincarmos que essa música não é para eles, que é demasiado cara para os bolsos da maioria deles? Que poderão ter acesso apenas a excertos, comprimidos para ocupar menor largura de banda?
(Isto não é demagogia, é apenas uma questão)



Não fui entendido. Nesses exemplos que dá, na maioria deles há um elemento disruptivo, surpresa ou provocação que é inerente a muita criação artística, mas esse elemento tem de ter sustentabilidade na obra artística do autor.

O cubismo de Picasso é isso também. O silêncio puro deliberado que visa criar uma sensação ou emoção também encaixa.

Dylan foi premiado pela sua escrita por um prémio que foi controverso. É o melhor letrista do rock não sei se a sua poesia vale um Nobel.

Os restantes casos são manifestas excentricidades e o tempo irá tratar disso.

Não advogo o ensino exclusivo da música erudita mas de todo o tipo de música capaz de despertar a sensibilidade das crianças. Quando era criança lia a Enid Blyton adequado à minha idade. Se não tivesse lido isso provavelmente não gostaria sequer de ler.

Finalmente há que lembrar uma coisa. A maioria das coisas que são valorizadas hoje não irão sobreviver.

Aquilo que as pessoas mais liam na século XIX ninguém lê hoje ( a biblioteca do Pacheco Pereira está cheia de obras dessas) e muitos compositores populares do passado ficaram enterrados lá, o Maestro Vitorino de Almeida sempre chamou à atenção para isto.

Só o tempo separa o trigo do joio em matéria de arte embora alguns críticos ainda em vida sejam capazes logo de fazer uma triagem. Seria o caso do Robert Hughes.

Tenho a consciência que muita música que ouço não tem qualidade para sobreviver ao teste do tempo.

Importa ter essa noção de hierarquia sobretudo num tempo em que facilmente as pessoas são colocadas num pedestal. Os tempos modernos são muito dados à idolatria até pelas elites. E claro isso é aproveitado pelos espertalhões.
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptyTer Jan 04 2022, 15:48

Zé Carlos escreveu:


(...)

Só o tempo separa o trigo do joio em matéria de arte embora alguns críticos ainda em vida sejam capazes logo de fazer uma triagem. Seria o caso do Robert Hughes.

Tenho a consciência que muita música que ouço não tem qualidade para sobreviver ao teste do tempo.


Aqui estamos de acordo. O tempo é o determinante do que perdura.

Quanto a Robert Hughes, ele faz a sua, dele, triagem. A sua, dele, opinião do que deve ser a triagem do que é bom ou mau. É pedagógico, explica com palavras simples mas...
...parece-me que esquece o contexto da obra e da personagem. Lady Gaga não é do tempo dele, definitivamente não é do tempo do fato convencional e inevitável gravata. É do tempo do vestido de carne fatiada, da provocação ousada e desenfreada. De uma outra linguagem, de uma outra forma de comunicar, em suma: de outra geração. E, portanto, de uma outra forma de fazer e sentir a música.

Tenho a ideia que Bach interessa bem menos aos putos da Bronx do que Ice-T. E Chopin bem menos às meninas da Foz do que Lady Gaga. E Mozart bem menos ao operariado português que Marco Paulo... (não quero generalizar mas aponto para uma média!)

Podemos não gostar. O meu pai não gostava do meu gosto pelos modernos Beatles, ele, um fanático do clássico Beethoven.
Chamamos a isto "conflito de gerações". Muitas vezes nos aspectos comportamentais, aqui nos aspectos culturais. Conflito de gerações aqui e ali pontuado por um ou outro conflito de classes (não saindo estes conflitos da zona a que chamamos cultura, felizmente).

O tempo irá enterrar quase todos os Marco Paulos (ou mesmo todos) e erigir uma estátua a alguma das Lady Gaga que pela música vão aparecendo.
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptyTer Jan 04 2022, 17:36

agorgal escreveu:
Zé Carlos escreveu:


(...)

Só o tempo separa o trigo do joio em matéria de arte embora alguns críticos ainda em vida sejam capazes logo de fazer uma triagem. Seria o caso do Robert Hughes.

Tenho a consciência que muita música que ouço não tem qualidade para sobreviver ao teste do tempo.


Aqui estamos de acordo. O tempo é o determinante do que perdura.

Quanto a Robert Hughes, ele faz a sua, dele, triagem. A sua, dele, opinião do que deve ser a triagem do que é bom ou mau. É pedagógico, explica com palavras simples mas...
...parece-me que esquece o contexto da obra e da personagem. Lady Gaga não é do tempo dele, definitivamente não é do tempo do fato convencional e inevitável gravata. É do tempo do vestido de carne fatiada, da provocação ousada e desenfreada. De uma outra linguagem, de uma outra forma de comunicar, em suma: de outra geração. E, portanto, de uma outra forma de fazer e sentir a música.

Tenho a ideia que Bach interessa bem menos aos putos da Bronx do que Ice-T. E Chopin bem menos às meninas da Foz do que Lady Gaga. E Mozart bem menos ao operariado português que Marco Paulo... (não quero generalizar mas aponto para uma média!)

Podemos não gostar. O meu pai não gostava do meu gosto pelos modernos Beatles, ele, um fanático do clássico Beethoven.
Chamamos a isto "conflito de gerações". Muitas vezes nos aspectos comportamentais, aqui nos aspectos culturais. Conflito de gerações aqui e ali pontuado por um ou outro conflito de classes (não saindo estes conflitos da zona a que chamamos cultura, felizmente).

O tempo irá enterrar quase todos os Marco Paulos (ou mesmo todos) e erigir uma estátua a alguma das Lady Gaga que pela música vão aparecendo.

Tudo tem a ver com o preconceito que é algo tramado para todos.

A Lady Gaga vai do lixo ao luxo musical porque ela é instruída sabe bem o que é a música. Naturalmente quer ganhar dinheiro e ser famosa Já a Madonna fica nos primeiros anos deste neste século.

Quanto aos miúdos do Bronx eles têm a vantagem de não ser preconceituosos. O Phil Collins é um ídolo no meio dos rappers americanos.
Algo que muita gente não sabe.


Última edição por Zé Carlos em Qua Jan 05 2022, 01:08, editado 1 vez(es)
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptyTer Jan 04 2022, 22:03

TD124 escreveu:


(...)
Apesar de continuar a comprar regularmente discos escuto-os cada vez menos... mais um paradoxo! Dou-me conta que quando escuto um ficheiro é um momento de imersão na musica ora que quando escuto um vinil é um momento de imersão nos meus pensamentos, a musica é segundaria. De mesmo, o vinil escuto-o durante o dia no meio dos ruidos da vida ora que o digital é à noite, no escuro afim de ter os sentidos concentrados na musica e ném sequer vislumbrar o sistema. O digital ofereçe-me as notas do artista e nada mais... é algo que me fascina desde o dia em que ouvi pela primeira vez um Cd, sinto a pureza da musica, é a foto sonora quase perfeita...
(...)


Nesta parte concordamos que estamos em desacordo:

Quando trabalho ou me ocupam outros afazeres uso como fonte, e num programa aleatório, um iPod que alberga cópias de grande parte dos meus CD's. Por vezes faço correr uma k7, daquelas que gravei à uma data de anos (de um ou outro programa de rádio) e que, surpreendentemente, ainda tocam com razoável qualidade - servem para me lembrar o que me fascinava quando tinha 20 anos. Infelizmente o r2r só para digitalizar descobertas de amigos que a quase totalidade das minhas fitas foram atacadas de SSS (sticky-shed syndrome). Uso os CD's quando me apetece ouvir música alto ou muito alto, quando quero que a música me expluda no cérebro (não tenho vizinhos apesar de viver no centro de uma cidade, o que é fantástico nestes momentos). O vinil, esse obriga a um momento muito especial. É a minha versão da japonesa cerimónia do chá. Sem gueixas, que não terão grande jeito para tudo o que tenho de fazer: retirar o vinil da capa exterior, depois a capa interior, colocá-lo no prato, acariciá-lo levemente com a escova de fibra de carbono, pôr o prato a rodar, deslocar o conjunto do braço-célula-agulha para a primeira espira, baixar este conjunto e deixar rodar, recostado num sofá cuidadosamente colocado no sweet-spot da sala.

É verdade que esta cerimónia decorre apenas meia dúzia de vezes por mês... chá em demasia não deve ser muito saudável.

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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptyQua Jan 05 2022, 09:45

agorgal escreveu:
...Nesta parte concordamos que estamos em desacordo:

...O vinil, esse obriga a um momento muito especial. É a minha versão da japonesa cerimónia do chá. Sem gueixas, que não terão grande jeito para tudo o que tenho de fazer: retirar o vinil da capa exterior, depois a capa interior, colocá-lo no prato, acariciá-lo levemente com a escova de fibra de carbono, pôr o prato a rodar, deslocar o conjunto do braço-célula-agulha para a primeira espira, baixar este conjunto e deixar rodar, recostado num sofá cuidadosamente colocado no sweet-spot da sala...

São nas sensações que estamos em desacordo... mas no ritual voltamos a nos encontrar! Quando escuto vinis é um momento de sossego, uma pausa de uma ou duas horas na qual travo um pouco o ritmo diario. Não é um momento de imersão musical mas de reflexão, uma forma de meditação aonde esse ritual do disco tém um papel importante... a sua comparação com o ritual do chà foi bem sentida Wink

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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptyQua Jan 05 2022, 22:00

TD124 escreveu:
agorgal escreveu:
...Nesta parte concordamos que estamos em desacordo:

...O vinil, esse obriga a um momento muito especial. É a minha versão da japonesa cerimónia do chá. Sem gueixas, que não terão grande jeito para tudo o que tenho de fazer: retirar o vinil da capa exterior, depois a capa interior, colocá-lo no prato, acariciá-lo levemente com a escova de fibra de carbono, pôr o prato a rodar, deslocar o conjunto do braço-célula-agulha para a primeira espira, baixar este conjunto e deixar rodar, recostado num sofá cuidadosamente colocado no sweet-spot da sala...

São nas sensações que estamos em desacordo... mas no ritual voltamos a nos encontrar! Quando escuto vinis é um momento de sossego, uma pausa de uma ou duas horas na qual travo um pouco o ritmo diario. Não é um momento de imersão musical mas de reflexão, uma forma de meditação aonde esse ritual do disco tém um papel importante... a sua comparação com o ritual do chà foi bem sentida Wink

Afinal também aqui estamos de acordo, talvez não nos pormenores mas no geral: um momento "zen"!
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptyQui Jan 06 2022, 19:04

E a Cambridge Audio acaba de anunciar mais dois modelos

Não só há uma explosão na venda de discos como uma explosão na oferta de novos pratos... Impressionante
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tomaz
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptyQui Jan 06 2022, 23:46

Zé Carlos escreveu:
E a Cambridge Audio acaba de anunciar mais dois modelos

Não só há uma explosão na venda de discos como uma explosão na oferta de novos pratos... Impressionante

E não há muito tempo a Nagra, Naim, Mark Levinson, Schiit, etc....
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptySex Jan 07 2022, 00:26

TD124 escreveu:

Apesar de continuar a comprar regularmente discos escuto-os cada vez menos... mais um paradoxo! Dou-me conta que quando escuto um ficheiro é um momento de imersão na musica ora que quando escuto um vinil é um momento de imersão nos meus pensamentos, a musica é segundaria. De mesmo, o vinil escuto-o durante o dia no meio dos ruidos da vida ora que o digital é à noite, no escuro afim de ter os sentidos concentrados na musica e ném sequer vislumbrar o sistema. O digital ofereçe-me as notas do artista e nada mais... é algo que me fascina desde o dia em que ouvi pela primeira vez um Cd, sinto a pureza da musica, é a foto sonora quase perfeita...

Eu partilho deste pensamento, quando ouvi um cd em 84 ou 85, fiquei impressionado pelo silencio entre as notas, os ruídos do vinil em pratos foleiros da BSR, desapareceram de vez da minha vida.
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptySex Jan 07 2022, 07:32

Zé Carlos escreveu:
E a Cambridge Audio acaba de anunciar mais dois modelos

Não só há uma explosão na venda de discos como uma explosão na oferta de novos pratos... Impressionante

tomaz escreveu:
...E não há muito tempo a Nagra, Naim, Mark Levinson, Schiit, etc....

Sim!... tenho a impressão que hà mais giras hoje do que na grande época do vinil... a menos que a grande época deste formato não tenha sido ontém mas seja para amanhã Laughing
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptySex Jan 07 2022, 16:21

Eu parto sempre do principio que os produtores são pessoas inteligentes e fazem o trabalho de casa.
É aliás um bom princípio de vida... Pensar que os outros são mais inteligentes, até mais que nós. Evita muitas surpresas.

Dito isto imagino que este crescimento na oferta de pratos correspondem a estudos de mercado onde ficou patente um crescimento da demanda por certos patamares de preços.

Sendo  certo que os grandes amantes clássicos do Vinyl estão há muito equipados com os Mercedes e BMW e até Bentleys da audiofiilia analógica é de presumir que grande parte dos compradores agora sejam de gerações mais recentes....

Se assim for e dentro de alguns anos o Vinyl for o formato físico número 1 de vendas então a malta do som deve fazer uma reflexão profunda sobre duas coisas.

1. Afinal o que querem as pessoas
2. O que raio andaram a fazer nestes últimos 40 anos
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José Miguel
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptySex Jan 07 2022, 17:21

Isto está animado!!

As novas ofertas das marcas vai ao encontro do mercado e não acredito que as mesmas marcas não ponderem bem os passos que dão. Um caso interessante aconteceu com a Schiit Audio Sol, gira-discos que prometia algo bom, mas que a marca não conseguiu continuar - terá sido a pandemia e falta de matéria-prima?
Não sei... eles ainda são uma "pequena" empresa e por vezes sem mãos a medir.


A questão das vendas físicas é outra coisa que merece ser vista com cuidado e por todos os lados: mesmo que em 2021 o vinil represente 7/8% do total de vendas, os CDs uns 5%, quase 90% percenterão ao digital.
Há dúvidas sobre o que as pessoas querem?

O vinil, com todo este sucesso e falta de capacidade de resposta, pode estar a enfrentar um problema... para colocar os grandes sucessos de vendas nas estantes (Abba, Adele, Taylor Swift, ...), muitos autores ficaram sem possibilidade de lançar.

Há desafios pela frente, espero ver novas fábricas abrir, novos profissionais a serem formados, para normalizar o mercado.

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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptySex Jan 07 2022, 18:42

José Miguel escreveu:
Isto está animado!!

As novas ofertas das marcas vai ao encontro do mercado e não acredito que as mesmas marcas não ponderem bem os passos que dão. Um caso interessante aconteceu com a Schiit Audio Sol, gira-discos que prometia algo bom, mas que a marca não conseguiu continuar - terá sido a pandemia e falta de matéria-prima?
Não sei... eles ainda são uma "pequena" empresa e por vezes sem mãos a medir.


A questão das vendas físicas é outra coisa que merece ser vista com cuidado e por todos os lados: mesmo que em 2021 o vinil represente 7/8% do total de vendas, os CDs uns 5%, quase 90% percenterão ao digital.
Há dúvidas sobre o que as pessoas querem?

O vinil, com todo este sucesso e falta de capacidade de resposta, pode estar a enfrentar um problema... para colocar os grandes sucessos de vendas nas estantes (Abba, Adele, Taylor Swift, ...), muitos autores ficaram sem possibilidade de lançar.

Há desafios pela frente, espero ver novas fábricas abrir, novos profissionais a serem formados, para normalizar o mercado.

Em Inglaterra, dados oficiais de Dezembro de 2021 os discos de Vinyl já representam cerca de 1/3 das vendas e este ano que passou foi o maior número desde há 30 anos atrás.

Eu separo ouvir música e escutar música. 

As pessoas que estão no vinyl escutam seguramente. Daqui a 3 ou 4 anos saberemos se o vinyl é lider nos suportes físicos

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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptySex Jan 07 2022, 19:09

Creio que toda a gente compreende a separação entre ouvir e escutar Música, mas essa associação ao vinil é no mínimo complicada de fazer.

Faz anos que este tema se debate, veja a idade deste tópico, e desde que me lembro se referem estudos sobre as compras de discos de vinil para não serem usados (movimento mais comum entre os novos utilizadores).

Eu uso discos de vinil e gosto muito, são o suporte que me faz abrandar (como outros já o disseram) e escuto Música. Contudo, não uso vinil para Música dita clássica e alguma Electrónica Ambiente - na Música dita clássica ou não tenho sorte ou não sei usar, pois sinto muito cada ruído ou distorção.

Conto isto apenas para enquadrar a questão que levantei, não sou da equipa contra o vinil, mas este ressurgimento é mais complexo do que isso que parece querer elevar - escuta de Música.

O tema das vendas, eu apenas encontrei isto:
https://www.google.com/amp/s/thevinylfactory.com/news/uk-vinyl-record-sales-2021/%3ffbclid=IwAR3F3nmdwtZn--AbV27t0qYDtHVR93rXCvUPmdvTNXaCCR6ppDbTTpkQLc0&amp

As vendas sobem e gosto de ver, assim tenho acesso a mais reedições, mas não penso que a maioria que escolhe ficheiros e streaming não escute Música - por motivos de saúde eu hoje só usei streaming e escutei álbuns inteiros.

Fernando Salvado e Zé Carlos gostam desta mensagem

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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptySex Jan 07 2022, 23:19

A sua afirmação está certa quando diz que há anos ( muitos) se fala do regresso do Vinyl. Porque já estamos em 2022 e as vendas sempre a crescerem. E por esse crescimento e pela quota que já tem nos suportes físicos nos mercados maduros podemos falar de um regresso do Vinyl.

É um fenómeno interessante de observar até para quem como eu estava convencido do fim do Vinyl 25 anos atrás.

Estava enganado. Redondamente enganado. Hoje ao ouvir o triplo álbum ao vivo do Springsteen em formato CD lembrei da minha edição em Vinyl e pareceu - me metálico demais em certas passagens e algo "rápido" demais.

E a dúvida que me ficou era se a audição no Thorenz com a Ortofon não era mais prazerosa. Nunca tive problemas de "batata frita" nos meus LPS. Há um detalhe importante.

Por causa das más prensagens lusitanas comprei a maioria da minha discoteca em Londres e via correio no País de Gales ( Cob Records) que já vendiam na década de 70 para o mundo inteiro por isso a ideia que tenho sobre o vinyl é a de que é um bom suporte desde que tudo devidamente calibrado.

Os SACD são muito mais detalhados.... Mas não sei se me emocionam mais. O suporte digital para mim faz sentido porque facilita em tudo. CDs, SACD, DVD, Blu-ray. 

Já o Streaming não sei explicar racionalmente porquê mas não me interessa. Mas não é para mim, só mesmo para conhecer alguma obra ou artista e depois ir comprar o suporte físico. Até no carro uso CDs e raramente levo uma pen ( só para ouvir coisas novas e ficar a conhecer) 

As pessoas voltaram a consumir música em Vinyl por algum motivo. E será interessante ver estudos de mercado detalhados para poder tirar conclusões.

Eu penso numa hipótese. Tal como o streaming não é para mim, eu, por exemplo, também detesto tablets. Não leio, nem uso. Até me ofereceram uma mas desisti de usar em poucos dias. Ou bem que é um notebook com boa imagem ou um computador ou um livro. 

Admito que muitas pessoas nunca se tenham adaptado ao CD e ao Streaming. Há tecnologias que não nos convencem por motivos pessoais. 

Porque não admitir esse cenário ?

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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptySex Jan 07 2022, 23:43

Zé Carlos escreveu:
(...) Hoje ao ouvir o triplo álbum ao vivo do Springsteen em formato CD lembrei da minha edição em Vinyl (...)

Prezado Zé Carlos,

Possuo a caixa desse registo. Recordo que aquando a edição do álbum, nos tempos áureos da RFM, no programa «O último metro», de segunda a sexta-feira à hora da Cinderela, durante uma semana deu a conhecer as cinco bolachas referentes às actuações de Bruce Springsteen. Frequentando o ensino nocturno, apressava-me por chegar a casa para viajar no metro.

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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptySáb Jan 08 2022, 06:12

Ghost4u escreveu:
Zé Carlos escreveu:
(...) Hoje ao ouvir o triplo álbum ao vivo do Springsteen em formato CD lembrei da minha edição em Vinyl (...)

Prezado Zé Carlos,

Possuo a caixa desse registo. Recordo que aquando a edição do álbum, nos tempos áureos da RFM, no programa «O último metro», de segunda a sexta-feira à hora da Cinderela, durante uma semana deu a conhecer as cinco bolachas referentes às actuações de Bruce Springsteen. Frequentando o ensino nocturno, apressava-me por chegar a casa para viajar no metro.

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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptySáb Jan 08 2022, 11:01

Zé Carlos escreveu:

(...)

Eu penso numa hipótese. Tal como o streaming não é para mim, eu, por exemplo, também detesto tablets. Não leio, nem uso. Até me ofereceram uma mas desisti de usar em poucos dias. Ou bem que é um notebook com boa imagem ou um computador ou um livro. 

Admito que muitas pessoas nunca se tenham adaptado ao CD e ao Streaming. Há tecnologias que não nos convencem por motivos pessoais. 

Porque não admitir esse cenário ?

O vinyl para quem não gosta dos outros formatos
Bom dia!

Zé Carlos, eu admito todos os cenários por princípio, contudo não me faço acompanhar de todos os cenários dutante o mesmo tempo e espaço. Wink

Eu não quero trazer para este tópico o debate das emoções, já lhe tentei explicar que elas são mais do que comunicações neuronais e nervosas, contêm estados de consciência. Não me admira nada que prefira ouvir Música em vinil, não me admira que prefira livros em papel, que prefira uma conversa frente-a-frente, etc. Sabe, eu tembém prefiro, ainda compro livros, discos, saio para estar com as poucas pessoas que me aturam.

Isto para dizer que o seu cenário parece-me auto-centrado, desde 2012 (se a memória não ne trai) que são lançados "estudos" que afirmam: uma grande fatia dos discos de vinil comprados não são escutados.
https://www.google.com/amp/s/thevinylfactory.com/news/26-of-young-people-dont-listen-to-the-music-they-buy/amp/
https://www.digitalmusicnews.com/2016/04/14/icm-poll-48-of-people-who-buy-vinyl-dont-listen-to-it/

Existem muitas notícias como essas, o que me leva novamente às emoções que a Música desperta e que estão muito para lá do que a Música diz. Nós queremos ser tocados, nós precisamos de sentir algo, nós adoramos uma boa emoção!

O vinil está para lá da Música, quem colecciona vinil e parar por uns segundos a pensar, certamente vai descobrir o apego ao objecto, vai descobrir emoções e estados de consciência que, ultrapassando a Música, fazem desta uma experiência mais rica.

O streaming e os ficheiros falham neste campo, o CD não teve o mesmo impacto - já vi edições de CDs em caixas do tamanho de um LP de 12" -, como diz o Zé Carlos, nós somos fruto de milhares de anos de evolução e o apego ao mundo material explodiu com a agricultura e fixação das pessoas nos lugares...

O seu cenário custa-me a aceitar por muitas razões, mas acima de tudo por tentar afirmar que o motivo é a Música. Não é... já vi nascer muitos sistemas ao longo destes anos, sistemas simples de pessoas a iniciarem-se e a quererem vinil como suporte/fonte. A larga maioria das pessoas não se aproximou da Música, mas vive feliz com o que tem e eu não condeno, apenas registo.

Na maioria das vezes a melhor explicação é a mais simples, no caso do vinil a mais simples parece apontar para a moda/tendência e não para o aprofundar da experiência com Música.
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptySáb Jan 08 2022, 13:46

Zé Carlos escreveu:
...É um fenómeno interessante de observar até para quem como eu estava convencido do fim do Vinyl 25 anos atrás.

Estava enganado. Redondamente enganado.
Hoje ao ouvir o triplo álbum ao vivo do Springsteen em formato CD lembrei da minha edição em Vinyl e pareceu - me metálico demais em certas passagens e algo "rápido" demais.

E a dúvida que me ficou era se a audição no Thorenz com a Ortofon não era mais prazerosa. Nunca tive problemas de "batata frita" nos meus LPS. Há um detalhe importante...

Eu também acreditei desde os finais dos anos 80 que a era do vinil estava a chegar ao fim... também tinha pensado nos anos 80 que as vàlvulas não chegariam ao fim de século, armazenei muitas e enganei-me, hà predições no audio que são complicadas Wink

Aqui em França o vinil esteve mesmo moribundo entre o inicio dos anos 90 e 2005 mais ou menos... sò aparecia um vinil aquando da saida de um novo album e isto quando o grupo era conhecido! Quase todas as lojas de discos da cidade desapareceram e sò tinham ficado duas, uma de musica electronica que vendia discos novos e uma que vendia discos de segunda mão e que ainda existe...

O som prazeroso do vinil, jà entendi mesmo ser tratado de mais natural do que o som do digital é algo que é partilhado por muitas pessoas e isto desde a criação do Cd... no inicio do AAP era mesmo um lema! Penso que é algo de muito pessoal e que não corresponde a uma realidade... todas as pessoas que conheci e conheço que são amadores de musica classica nunca mais voltaram ao vinil e para eles o digital foi um passo decisivo ora que tal não é o caso para todos os amadores de rock, jazz e etc. È um fenomeno interessante que separa os melomanos mesmo em relação ao objecto pois nunca ouvi ninguém gabar uma capa ou o artwork de um vinil de classica... ora que no rock existe por vezes mesmo um verdadeiro culto do artwork! Todos iguais e todos diferentes  Wink
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptySáb Jan 08 2022, 14:12

TD124 escreveu:


...nunca ouvi ninguém gabar uma capa ou o artwork de um vinil de classica... ora que no rock existe por vezes mesmo um verdadeiro culto do artwork! Todos iguais e todos diferentes  Wink

Sou um grande admirador dos muitos e belíssimos trabalhos de ilustração para capas de vinil. Uma arte a embalar outra arte. Eis uma das minhas favoritas:


...e, não morre... - Página 7 Marsup10


As capas dos LP's merecem um tópico só para elas!
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MensagemAssunto: Re: ...e, não morre...   ...e, não morre... - Página 7 EmptySáb Jan 08 2022, 14:59

Já agora, que álbum é esse? Rolling Eyes

A capa é muito boa, lembra a fase dourada que se viveu entre 1967 e 1975... mais ou menos.

O vinil tem esse lado que é, na minha opinião, fundamental face aos CDs e que nos leva a uma experiência de Música diferente - é incontornável.
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