A rodar XLII

O "Luciferian Towers" é o ultimo capitulo da obra dos Godspeed You Black Emperor! e em tempo normal jà cà moraria desde a saida, mas como ando afastado da coisa, passou ao lado do radar ... então esta prenda reparou o meu erro. Digo erro e não por acaso, pois este ultimo album é sublimo e deveras complexo a enfrentar, talvez seja mesmo o mais hermético intelectualmente da obra singular deste grupo. A abertura lenta e sinfonica conduz rapidamente a cruzamentos harmonicos aonde a dissonância e a distorsão cobrem subtilmente melodias eufonicas e alusivas ao folclore. Ao contrario das obras do passado aonde a tensão conduzia a uma fase de explosão seguida da resolução ... aqui o triptico tensão/explosão/resolução é substituido por uma tensão permanente que nunca encontra resposta. Esta mecanica vai ser o fio condutor do album e acaba por criar um magma catartico aonde os movimentos musicais são alternadamente libertadores e angustiantes. Este sentimento de pressão constante aonde as majestuosas linhas de guitarra criam um universo grandioso e "wagneriano", não exclui um ou dois raios de luz que fazem o contraponto da essência sombria da obra. As referências à musica contemporanea são permanentes e a influência de Riley, Reich, Stockhausen ou Cage constantes apesar da "matéria eléctrica bruta" que cobre os primeiros planos sonoros. A hipnotica faixa "Anthem For No State Pt1" é a faceta actual da melodia "Monheim" que iluminava o "Lift your skinny fists like antennas to heaven" o que desenha uma continuidade temporal que muitos adeptos do grupo pensavam perdida ... mas que aqui ressoa como um requiem a uma humanidade que se perdeu e que contemplativamente se fecha numa nostalgia quimérica. Os GYBE! não perderam nada da potência invocadora que fez a singularidade do grupo e mesmo ao contràrio são capazes de fazer a metamorfose que leva o rock a elevar-se ao simples estado de arte ... o que é raro. Subsiste apòs algumas escutas (quatro no meu caso...) o sentimento de estar face a uma obra ou documento precioso ... desses que nos lembram a essência da musica, da sociedade e da humanidade. Com o alfabeto do rock os "putos" de Montreal estão a escrever as paginas da musica do XXI e de que maneira... Merci Papa Noël

O que é que subsiste apòs o naufràgio do amor?... a frustração, a raiva ou o desânimo, mas também um instinto de sobrevivência que nos empurra para a vida e nos dà a vontade de recomeçar de novo. Se o album precedente (Vulnicura) falava dos sentimentos dolorosos e sombrios ligados à ruptura, este Utopia é uma ode ao nascer do sol, a um novo dia, ao recomeço, à nascensa ou à vida! De novo acompanhada pelo prodigioso Arca (que lhe cisela um mundo electronico sob medida) este ultimo album é uma obra inesperada. A infelicidade é um motor artistico mais potente do que a felicidade e é mais fàcil criar à volta da penumbra do que falar de luz. È aqui que a Björk prova de novo a sua natureza extra-terrestre, pois nas suas mãos a criatividade não tém limites impostos pelo(s) estado(s) de alma. Este album aéreo, elegante e sonhador està a mil léguas do mundo majestuoso, complexo e potente ao qual a islandesa nos habituou. Poucas rupturas e muita suavidade nesta obra etérea que tem como fio as flautas (e um pouco de harpa) criando assim uma atmosféra imaginària, fantàstica e màgica. A escuta desta obra em suspensão que imerge inteiramente o auditor, deixa um sentimento de completude, de paz. Neste aspecto o Utopia vai ao encontro do sublimo Vespertine mas em mais original na matéria musical. Os arranjos do Arca são enfeiticados e sustentam o edificio com uma elegancia permanente que faz pensar a certas aberturas sinfonicas, do Mahler nomeadamente. A fada islandesa leva-nos pela mão até aquele espaço longinquo aonde o cinismo e os sentimentos antipàticos não existem, à infância e à inocência que subsiste em cada um de nòs e que pode ser o parapeito da barbaria. Uma Utopia que se vive como um sonho acordado e que deixa um sorriso terno nos làbios. A obra mais feminina da pequena senhora nordica...

Bem produzido e misturado com primor, «The songs of distant Earth», além de revelar detalhes que surgem como fio condutor do álbum, está repleto de camadas sonoras emergentes dos muitos planos e ambiências presentes no disco de Mike Oldfield, editado em 1994. Trata-se de um registo que aconchega a alma na primeira hora da madrugada.

Este ilhéu é um pedaço de terra privilegiado para «Olhar a Lua». Mediante a Antena 2, a imagem surge sem grão e limpa.

Enquanto o companheiro lore ouve o terceiro álbum dos Táxi, informo que para 2018 está agendada a edição do sexto álbum de originais da banda portuense. «Reality show» e «Última sessão» são os cartões de visita do disco.