A rodar XLV

Neste album os "Lobos" de Oslo puxam a arte da metamorfose até ao paroxismo. O titulo do album são as iniciais dos meses do ano em latim e cada faixa foi gravada ao vivo numa cidade diferente durante o tour de 2014. Mas não é um album live e o publico nunca està presente, pois durante dois anos o grupo trabalhou, transformou e aparou cada faixa no estudio. Assim algumas linhas melodicas foram adicionadas, outras alteradas, e a materia prima original tornou-se noutra coisa complétamente diferente. Album hipnotico e potente este Ulver ultrapassa os estilos e impõe a visão singular destes noruegueses. Um album que continua a me impressionar escuta apòs escuta ...

Este é certamente o trabalho mais conseguido do productor dinamarquês até hoje. È sempre fascinante, estimulante mesmo, de ver um artista crescer e atingir uma tal potência. O "Lost" é uma obra venenosa e intoxicante que agarra no ouvinte e leva-o até paisagens inéditas, desconcertantes mas benevolentes. Um disco em forma de labirinto aonde se perder é se encontrar e que deixa um cheiro de querer mais. Um grande album de electronica que ainda não é apercebido ao seu justo nivel. Uma obra que mereçe uma visita regular afim de desvendar os seus multiplos segredos ...

Este EP do grupo gémeo dos GY!BE é uma pérola de rock desencantado e de intervenção. Introspectivo sobre a sociedade e mesmo sobre o papel da musica hoje ... as respostas são concrétas e sém ambiguidade "os musicos são cobardes" afirmam os SMZ! Essa cobardia tém como eco a nossa propria assim que a de todos os que não dizém ném fazém nada. Um dos grupos mais realistas e fascinantes do XXi século ... os The Clash de hoje, irreverentes e lucidos. Uma musica potente e sém compromisso ném ambiguidade ... uma musica de pessoas livres e conscientes. Algo de muitissimo raro na musica actual ...

Alguns albuns tornam-se grandes, justamente porque não o são. Nesta época aonde o Miles, jà sém o seu quinteto historico, busca um novo sentido para a sua musica ... este album é um Set relaxado entre amigos. A presença do Coltrane assim que de grandes nomes (Wynton Kelly, Paul Chambers, Hank Mobley, Philly Jo Jones) são um seguro todos os riscos e asseguram um alicerce solido. Globalmente é uma obra calma e interiorisada aonde o Miles faz amostra das suas capacidades liricas, em pleno crescimento nesse momento. Um album de iniciação ao jazz clàssico ... que também pode acompanhar perfeitamente um jantar em tête à tête com velas e uma flauta de champagne. Uma obra elegante e sém pretensão que desmistifica a ideia que o jazz é sempre complexo ... eis a prova que não.

O Miles Davis dizia que sò dois musicos eram capazes de acompanhar o Monk; Sonny Rollins e o John Coltrane ... mas estava errado. Imaginém um grande homém là para o gordo que no meio da musica levanta-se do piano, pesadamente dança redopiando como em transe e de novo senta-se. Dos seus dedos brota um fluxo de notas aonde os acordes harmonicos se entrechocam contra contratempos imprevisiveis e algumas dissonâncias estratégicamente salpicadas no tempo. Nasçe uma dinâmica singular aonde a melodia é dinamitada e o swing sublimado, como se isto fosse a linguagem dum outro jazz. Esta singularidade unica leva o critico Michel Contat a dizer que o Monk é "um percurso singular paralelo à historia do jazz". Neste album aonde o homém està descontraido e apaziguado, os acompanhantes ficam-se pela ritmica sém o seguir na harmonia. Se com um braço atado o Monk é dificil ou mesmo impossivel a acompanhar ... o que dizer quando ele usa as duas mãos e acelera! Um dos maiores génios da musica ...

Uma individualidade que não viveu a experiência de ficar confinada no seu habitat em regime de obrigatoriedade, devido a pandemia, foi Helen Merrill. O LP assinado com o trompetista Clifford Brown, apresenta uma voz repleta de sentimento. Gravado em duas sessões de Dezembro de 1954, com arranjos de Quincy Jones, «What´s new» (registado na véspera de Natal) e todo o lado B, constitui deleite para o ouvinte.