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 Dos tratados de Filosofia e outras cousas importantes

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agorgal
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MensagemAssunto: Dos tratados de Filosofia e outras cousas importantes   Dos tratados de Filosofia e outras cousas importantes EmptySeg maio 27 2024, 14:38

Mário Franco escreveu:
Bom dia agorgal

Tentando não me alongar em polémica para não transformar o local em tribuna e prometendo não alimentar eternamente o assunto passo a comentar as duas ideias principais, contidas na sua anterior resposta.

1 - Distinção entre ideias novas e ideias velhas, considerou que a velhas são anacrónicas e portanto têm menor valia do que as modernas.

A minha perspectiva difere, considero que a validade das ideias é determinada pela sua qualidade,não pela sua idade.

Se preferir manter a sua perspectiva é obviamente livre de fazê-lo e daí retirará concerteza tanto os custos quanto os benefícios.

2 - É aqui que a porca torce o rabo, diz o agorgal (desculpe por não usar o seu nome mas de si só conheço o acrónimo com que publicamente se apresenta) e passo a citar: o meu ideal é, apenas pensar fora da caixinha cerebral (...) E, bem lá no fundo recuar mais um poucono tempo e ir ter com Rousseau e avançar depois depois ao encontro de Lévi-Strauss, trazer para a contemporaniedade o bom selvagem "

Logo aqui há uma contradição porque considerou Tolstoi antiquado e, suponho eu, considera Rousseau moderno, ora Rousseau não é nada moderno porque o seu conceito de "bom selvagem" foi bebido na tradição cátara medieval, assim como também é proposto na "Utopia" de Thomas More e na "Nova Atlantida" de Bacon (sem nos alongarmos noutras filiações de diversas outras épocas).

Mas mais grave do que a contradição é o conceito do bom selvagem e o pensamento de Rosseau e mais grave ainda a sua intenção  de adoptar o conceito do bom selvagem como um modelo a seguir.

Agora pôe-se a questão de explicar a, minha contundente e quiçá ofensiva, afirmação anterior.

Saltando a explicação do mencionado conceito que Rousseau pariu na sua obra "Discours sur les sciences et les Arts" na qual equacionou natureza e civilização, extraindo daí a apologia do "Bom Selvagem", quero realçar uma partícula  nuclear do seu pensamento.

Saltando das boas intenções apresentadas nos "Discours" para a sua outra obra denominada "Contrato Social" Rousseau expicou que, no caminho para atingir o paradisíaco mundo natural, a sociedade tem à vezes que "forçar o homem a ser livre" ou seja que às vezes a lei tem de corrigir um indivíduo para que ele volte ao estado natural e que um homem ao ser coagido pela sociedade está sendo conduzido à consciência dos seus próprios interesses.

Ora, digo eu, isto é grave, pior é desastroso é apocaliptico. Temos aqui um projecto para regimes totalitários que policiam não só o comportamento como também o pensamento, em nome de uma ideia que invoca boas intenções mas simultaneamente justifica a repressão e o condicionamento de tudo o que a contrarie.

A aplicação deste ideário pode emparceirar com o nazismo ou o estalinismo sem qualquer esforço.

Não posso tolerar a defesa desta ideia monstruosa e muito menos aceitá-la para mim.

Espero que não leve isto a peito porque o que eu disse refere-se a Rousseau e não a si, possivelmente depois de aprofundar mais o assunto talvez venha a reconsiderá-lo, é para isso que servem as conversas, por mim falo porque quando aprofundo qualquer tema descubro sempre novos dados e assim sou compelido a rever conclusões e conceitos que anteriormente me pareciam consolidados.

Cordialmente

Mário Franco



Caro Mário Franco

Um pouco atrasada eis a passagem de um tópico temático para outro bem mais livre. Colocou a fasquia muito alta e ainda não sei se o meu humilde intelecto o vai conseguir acompanhar.


Começo por Rousseau (e se escrevi este nome foi apenas para garantir a atribuição do “direito de autor” de um conceito, o do “bom selvagem”). Pensa este ideário como emparceirando com o nazismo e o estalinismo… talvez concorde mas vivemos numa sociedade em que todos os direitos estão consagrados em lei, somos obrigados a respeitá-los… nem os podemos rejeitar! Também por lei somos obrigados a ser uns bons selvagens: podemos estar furiosos com o vizinho do lado mas não o podemos matar. Se o fizer-mos vamos parar a um “campo re-educacional” chamado cadeia… daqui deduzo que, sendo humanos e selvagens (o estado do mundo assim me leva a pensar) a sociedade obriga-nos a sermos bons, bons selvagens. Se formos apenas selvagens, ou somos muito bons nessa arte ou temos a vida tramada.
Não viveremos todos num nazismo (ou estalinismo, ou fascismo, ou um outro ismo qualquer…) suave, muito suave, porque só assim conseguimos viver em sociedade, sem nos comermos uns aos outros (certo que com determinados direitos mais ou menos garantidos)?
Não considero Rousseau moderno, bem pelo contrário, e escrevi sobre a aparência de uma contradição. Apenas aproveitar o melhor do pensamento antigo a com ele fazer um novo, contemporâneo do momento civilizacional que vivemos.
Talvez o meu maior erro (ou atrevimento) tenha sido emparelhar Rousseau com Levi-Strauss… Levi-Strauss pensa o selvagem bom e não tanto o “bom selvagem”.



Mário Franco escreveu:


(…)
Fez-se uma ponte e isso é positivo, fico à disposição para troca de informação (tópicos, autores, livros, linhas de leitura, etc).
(…)
De Mário Franco


(…) tópicos, autores, livros, linhas de leitura, etc.

Fico-me pelo et cetera… por uma razão muito simples: Li muito, por razões académicas e outras ligadas à curiosidade de quem desponta para a vida. Um dia li um livro, muito antigo, de onde cito, de forma resumida:

(…) Morrer é uma destas duas coisas: ou o morto é igual a nada, e não sente nenhuma sensação de coisa nenhuma; ou, então, como se costuma dizer, trata-se duma mudança, uma emigração da alma, do lugar deste mundo para outro lugar. Se não há nenhuma sensação, se é como um sono em que o adormecido nada vê nem sonha, que maravilhosa vantagem seria a morte!
(…) Se, do outro lado, a morte é como a mudança daqui para outro lugar e está certa a tradição de que lá estão todos os mortos, que maior bem haveria que esse,
(…)?

E descobri, neste texto, todo o “sentido da vida”*. A partir desse momento, iria apenas olhar a vida, a vida dos seres humanos, independente de credos e inclinações políticas e culturais. Iria construir, sem a veleidade de escrever um tratado de filosofia, o meu próprio pensamento, isento de influências de terceiros que mais não faziam do que induzir ruído dado que um era existencialista, o outro materialista, aquele empirista (aqui sim, revejo-me um pouco) e aquele outro racionalista e eu já não sabia em quem acreditar. Coloquei todos os livros numa estante, alinhadinhos e apenas com propósito decorativo. O “Grande Mistério” estava esclarecido e todos os outros pequenos mistérios ser-me-iam revelados observando o ser humano e o mundo que ele vai construindo, para o seu bem e para o seu mal.
Portanto apenas posso trocar linhas do meu pensamento porque não me atrevo a escrever uma única linha sobre Sócrates (o antigo), nem sobre Nietzsche nem sobre Kant nem sobre Kierkegaard nem sobre todos os outros pensadores do ser humano que tanto dão de trabalho às editoras e aos tipógrafos. Muito mérito nisto e na elaboração das suas ideias mas a coisa é um pouco como os partidos políticos: todos têm razão e razão nenhuma.


Resta-me uma última questão agora que, estatisticamente, vivo os últimos anos da minha vida: Porque desponta, aqui ou ali, essa selvajaria no ser humano que o leva a cometer atrocidades, com as quais agora concordamos (ou aceitamos ou simplesmente calamos, salvaguardadas ou legalizadas pelas nossas convicções étnicas, políticas ou religiosas) e, noutras circunstâncias, discordamos por convicções diametralmente opostas? Em pleno século XXI? Não deveríamos ter já aprendido que este viver não é solução?



*Obrigado, Monty Python, pelo “Meaning of Life”:
“Well, it's nothing very special. Try and be nice to people, avoid eating fat, read a good book every now and then, get some walking in, and try and live together in peace and harmony with people of all creeds and nations.”

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Mário Franco
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MensagemAssunto: Re: Dos tratados de Filosofia e outras cousas importantes   Dos tratados de Filosofia e outras cousas importantes EmptyQua maio 29 2024, 16:34

Boa tarde António Agorgal

Agradeço esta sua iniciativa, li e terei todo o gosto em deambular por essas veredas logo que a disponibilidade permita resposta condigna.

Cumprimentos

Mário Franco

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MensagemAssunto: Re: Dos tratados de Filosofia e outras cousas importantes   Dos tratados de Filosofia e outras cousas importantes EmptySeg Jul 01 2024, 00:55

Um artigo muito interessante, uma abordagem deveras curiosa sobre pensadores que "desenham" ou "desenharam" uma "nova direita" - ou várias, consoante o entendimento de cada um:

https://elpais.com/ideas/2024-06-30/los-diez-pensadores-que-mas-influyen-en-la-derecha.html

Mas será que estes pensadores e as suas ideias estão actualizadas? Não creio porque, entre o elaborar do pensamento deles e o mundo de hoje - o de agora - muitas rotações o planeta sofreu e o salto tecnológico/comunicacional foi tremendo. Estamos num tempo de Facebook, TikTok e Instagram, onde as "notícias" nestas plataformas veiculadas se tornam, de tanto repetidas, "mais e melhores" verdades que as com origem num qualquer conceituado meio de comunicação social, correndo com a velocidade de um relâmpago. Estamos num tempo em que o "ChatGPT" nos escreve - sim, porque não - um tratado de filosofia ou de ciência política em muito menos tempo do que eu gasto a escovar os dentes numa manhã apressada.
Enfim, estamos num tempo em que as "pós-verdades" são mais verdadeiras que as "verdadeiras" verdades...
(O mesmo raciocínio aplico aos pensadores das "novas esquerdas", não discrimino a inclinação ideológica)

Vivemos num admirável mundo novo, admirável mas também com o seu quê de perigoso. Nunca foi tão fácil a manipulação da opinião política das massas. Trinta anos atrás e necessitaríamos de umas horas e muitas linhas de texto para formular uma opinião, hoje bastam cem caracteres no pequeno ecrã do telemóvel, lidos num minuto entre duas estações de metro, e não só a opinião mas também a decisão estão tomadas.
Costumo dizer que Josef Staline inventou o Photoshop... aonde chegaria Joseph Goebbels se tivesse o Facebook como ferramenta?

Tudo isto leva-me à questão: será possível teorizar a sociedade (e toda a nossa vida em sociedade) sem que as premissas estejam devidamente actualizadas?
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