Baptista-Bastos

Nem todo bom jornalista é um bom escritor de ficção, nem todo o bom conversador é um bom cronista.
Armando Baptista-Bastos foi tudo isso ao mesmo tempo. Natural do Bairro da Ajuda, em Lisboa, ingressou na Escola António Arroio para seguir arquitectura. Conhecedor do mundo que o rodeava, deslumbrantemente, acabou por arquitectar palavras (por vezes perturbadoras) sem se vergar a interesses políticos e económicos, desafiando o leitor a efectuar diferente interpretações de ideias pré-concebidas. Aquando a sua última crónica no Diário de Notícias (Outubro de 2014), intitulada «Ponto final», acusando o director de tê-lo "saneado", escreveu: "Fui posto fora, mas não das palavras. Vou com elas, velhas amantes, para aonde haja um jornal que as queira e admita a indignação e a cólera como elementos de afecto, e sinais de esperança, de coragem e de tenacidade. (…) Não posso calar o que me parece um acto absurdo, somente justificado pelas ascensões de novos poderes. Porém, esses novos poderes são, eles próprios, transitórios pela natureza das suas mediocridades e pelo oportunismo das suas evidências.” Ficou célebre pela pergunta "Onde é que você estava no 25 de Abril?", efectuada aos entrevistados, no programa televisivo «Conversas secretas».

Fica o meu elogio a um homem nascido a 27 de Fevereiro de 1934, que, inequivocamente, pertence à elite dos grandes jornalistas portugueses, definindo um estilo distinto de escrita. A 10 de Maio de 2017, Portugal perdeu um escritor/pensador sem limitações de espaço ou de tempo, desprovido de qualquer ordem política.