Os inevitáveis estalidos

Há muito tempo que não vinha aqui escrever algo. Vou abordar um assunto que por certo já o foi antes, mas penso ser sempre útil voltar a ele. Gostava de ler os vossos comentários.

Os estalidos, mais ou menos intensos, em maior ou menor quantidade, não desaparecem totalmente dos discos de vinil. Esta é a minha conclusão, após alguns testes. Esses estalidos (pops and crackles) são resultado de riscos microscópicos e/ou imperfeições de prensagem. Atenção: não me refiro à estática. Ah e tal, isso depende de muitos fatores! Certo. Por isso, vou apresentar um caso real.

O álbum utilizado - Pink Floyd, "The Divison Bell", em estado novo sem qualquer utilização prévia, acabado de abrir;
Tenho célula nova, não mais de 20 horas de uso, devidamente limpa;
Coloquei a tocar sem lavar - alguns estalidos, poucos;
Depois lavei na Okki Nokki One com o liquido da mesma marca diluído em água destilada desmineralizada, na proporção indicada;
Lavei a agulha com líquido próprio, da Clearaudio;
Voltei a tocar o álbum - melhorou, mas... a maioria dos estalidos estava lá;
Guardo os discos em novas bolsas interiores com proteção antiestática e bolsas exteriores.

Outras ocasiões houve em que lavei álbuns numa máquina de ultrasons, no caso uma Degritter. Também aí, apesar da enorme melhoria, houve estalidos que se mantiveram.

Apesar de já ter lido algures que alguém conseguiu eliminar os ruídos, concluo que por muito cuidado que tenhamos na lavagem e manutenção dos discos de vinil, ouviremos sempre um ou outro estalido (não me refiro à estática). Afinal trata-se de contato direto entre dois materiais na leitura e não um laser como no CD.

O que relata não é estranho.
Já pensou em rever o alinhamento do braço e da célula de leitura?
Já agora, qual o equipamento que está a utilizar?

rjbv17 escreveu:

O que relata não é estranho.
Já pensou em rever o alinhamento do braço e da célula de leitura?
Já agora, qual o equipamento que está a utilizar?

rjbv17, agradeço o comentário.

Braço e célula bem alinhados e verificados. Em funcionamento: um gira-discos Nottingham Analogue Studio Spacedeck, com braço Ace Space 10" e célula Shelter Model 201 MM.

Mesmo antes, com um Rega P2 e a célula Rega Carbon, as conclusões foram as mesmas. O que quero salientar é o facto de me parecer um mito conseguir tocar um disco de vinil de uma ponta à outra sem qualquer estalido, por muito poucos ou ténues que sejam, eles estão lá.

Roquer escreveu:

rjbv17 escreveu:

O que relata não é estranho.
Já pensou em rever o alinhamento do braço e da célula de leitura?
Já agora, qual o equipamento que está a utilizar?

rjbv17, agradeço o comentário.

Braço e célula bem alinhados e verificados. Em funcionamento: um gira-discos Nottingham Analogue Studio Spacedeck, com braço Ace Space 10" e célula Shelter Model 201 MM.

Mesmo antes, com um Rega P2 e a célula Rega Carbon, as conclusões foram as mesmas. O que quero salientar é o facto de me parecer um mito conseguir tocar um disco de vinil de uma ponta à outra sem qualquer estalido, por muito poucos ou ténues que sejam, eles estão lá.

Eu concordo com a sua afirmação. De todos os discos de vinil que tenho comprado não há nenhum que não tenha um estalido que seja. Eles estão lá.
Acho que não é defeito, é feitio.

paulov escreveu:

Roquer escreveu:

rjbv17 escreveu:

O que relata não é estranho.
Já pensou em rever o alinhamento do braço e da célula de leitura?
Já agora, qual o equipamento que está a utilizar?

rjbv17, agradeço o comentário.

Braço e célula bem alinhados e verificados. Em funcionamento: um gira-discos Nottingham Analogue Studio Spacedeck, com braço Ace Space 10" e célula Shelter Model 201 MM.

Mesmo antes, com um Rega P2 e a célula Rega Carbon, as conclusões foram as mesmas. O que quero salientar é o facto de me parecer um mito conseguir tocar um disco de vinil de uma ponta à outra sem qualquer estalido, por muito poucos ou ténues que sejam, eles estão lá.

Eu concordo com a sua afirmação. De todos os discos de vinil que tenho comprado não há nenhum que não tenha um estalido que seja. Eles estão lá.
Acho que não é defeito, é feitio.

Claro como água; vinil é vinil e vem sempre com ruído ou não fosse um sistema electromecânico. É impossível comparar a reprodução de sistemas analógicos com os sistemas digitais no que toca a ruído. E se a cadeia de reprodução (amplificação + o resto) for sofisticada, aí aplica-se o ditado (em inglês): garbage in, garbage out! Vai ouvir tudo.

O seu "hardware" está em bom nível mas, é sempre possível melhorar de modo a ser mais tolerante a reprodução, pelo menos no que toca a ruídos. Leia isto:
https://audiokarma.org/forums/index.php?threads/nottingham-spacedeck-owners-please-help.458232/#google_vignette
https://theartofsound.net/forum/showthread.php?53814-Ace-Space-Tonearm-Setup-How
https://audiokarma.org/forums/index.php?threads/anyone-using-a-nottingham-analogue-space-arm.638039/

Para esse braço existe muito pouca informação relacionada com o necessário alinhamento. Existe um "especialista" na Ucrânia que tem protractors para quase todos os braços, incluindo os mais raros (Tracking Wizard/Legendary Audio - https://www.ebay.com/sch/i.html?_ssn=legendary_audio&store_name=legendaryaudio&_oac=1&_trksid=p4429486.m3561.l170197)

Agradeço as dicas e links.

O Spacedeck e o braço Ace Space 10" são peças de engenharia muito interessantes. O alinhamento é feito de forma um pouco básica. Por exemplo, o azimuth é alinhado com oscilação da headshell sobre o eixo do braço. Parece estranho, mas funciona. Tom Fletcher (já falecido) foi o criador da Nottingham Analogue Studio e parecia acreditar nas fórmulas mais simples, mas eficazes. Por exemplo a headshell não tem pega, pois ele não quis colocar mais peso nem desiquilíbrio na peça.

A instalação e alinhamento foram feitos pelo fornecedor e verificado em duplicado. Tudo com muito cuidado. O som atual reflete esse trabalho. Já li comentários de proprietários e críticos deste equipamento referindo que não é fácil de alinhar, mas depois de feito não necessita de mais nada para ter um excelente desempenho. Estou bastante satisfeito com os resultados.

Quanto aos ruídos, pois é isso mesmo, um sistema electromecânico. Só quis desmitificar e ter a certeza de que não haverá por aí alguma alma que tenha conseguido eliminar todos os ruídos na rodagem de um disco de vinil. Isto porque, consegui tocar alguns em que consigo contar os estalidos e foram poucos, o que me deixou muito contente. Mas isto sou eu a ser "picuinhas". Por muito bem que se lava, utilizando os métodos mais evoluídos, haverá sempre micro riscos, imperfeições e pó no ar.

Aqui se trata do maior problema (e inconveniente) do vinil. Pela minha experiência um problema com que temos de conviver.
Nem sempre as prensagens são perfeitas. Da mesma matriz as primeiras serão melhores que as últimas e, obviamente, dependerão sempre da qualidade da matriz. A limpeza dos discos, mesmo nos sistemas mais sofisticados, não consegue eliminar toda a sujidade que afeta a qualidade sonora destes. Haverá sempre um (ou vários) grãos de poeira invisíveis ao olho humano e "encravados" aqui e ali na espira do disco.
O vinil é um suporte perfeito para utilizar em condições absolutamente perfeitas. Tanta perfeição é, tecnicamente, impossível.

A minha solução: música que implique um "espaço sonoro" absolutamente inaudível: Formatos digitais (CD, SACD, DVD áudio, BR áudio. Porque gosto de objectos não uso "suportes desmaterializados"...). Música que não tenha esta exigência tão absoluta: bem vindo, vinil!

Roquer escreveu:

Há muito tempo que não vinha aqui escrever algo. Vou abordar um assunto que por certo já o foi antes, mas penso ser sempre útil voltar a ele. Gostava de ler os vossos comentários

É natural procurar melhorias na reprodução sonora.
Os ruídos do vinyl são um problema.
Todos os elementos do sistema são um problema.
Além disso quando se pode experimentar muitos equipamentos diferentes sucedem-se as euforias e as disforias.

Relativamente aos equipamentos mais modernos e sofisticados atingiu-se um nível de perfeição que revela excessivamente as limitações naturais do suporte (disco vinyl). Por outro lado (opinião pessoal baseada na minha utilização de diversos GD e cápsulas) o excesso de detalhe é obtido em detrimento de uma "rusticidade orgânica" e perda da emoção.

Já tenho ouvido elogiar GDs dos quais se diz "tem a perfeição de um CD" mas creio que isso não é uma qualidade.

Mário Franco escreveu:

Relativamente aos equipamentos mais modernos e sofisticados atingiu-se um nível de perfeição que revela excessivamente as limitações naturais do suporte (disco vinyl). Por outro lado (opinião pessoal baseada na minha utilização de diversos GD e cápsulas) o excesso de detalhe é obtido em detrimento de uma "rusticidade orgânica" e perda da emoção.

Já tenho ouvido elogiar GDs dos quais se diz "tem a perfeição de um CD" mas creio que isso não é uma qualidade.

Concordo com a perspectiva. Daí pensar que não é negativo viver com os ruídos, eles são parte dessa "rusticidade orgânica". Se não os queremos ouvir, então optemos pelo suportes digitais. De qualquer forma, é sempre bom conseguir a melhor performance possível, com equipamentos equilibrados e com boa "higienização". Depois há sempre a questão das prensagens, como já referido.

Por falar em prensagens, deixo a sugestão para um podcast sobre a opinião e experiência do mercado português na prensagem de vinil.
Não sei se é conveniente esta partilha, mas aqui fica:

https://podcasts.google.com/feed/aHR0cHM6Ly9tZWRpYS5yc3MuY29tL211c2ljYWVzb20vZmVlZC54bWw/episode/NTE2OTBhNmQtNWIwYi00NzRiLWIxOWMtNWJmYTA0YmNiYjQx?ep=14

Cumprimentos

Carlos Gomes escreveu:

Por falar em prendagens, deixo a sugestão para um podcast sobre a opinião e experiência do mercado português na prensagem de vinil.
Não sei se é conveniente esta partilha, mas aqui fica:

https://podcasts.google.com/feed/aHR0cHM6Ly9tZWRpYS5yc3MuY29tL211c2ljYWVzb20vZmVlZC54bWw/episode/NTE2OTBhNmQtNWIwYi00NzRiLWIxOWMtNWJmYTA0YmNiYjQx?ep=14

Cumprimentos

Há pouco tempo falei com o responsável de uma editora independente do Porto, que me falou dessa empresa de prensagem de vinil na invicta. Muito bom para conhecimento.